sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Nossa Senhora de Atocha

Século V

Madri (Espanha)


A origem da imagem de Nossa Senhora de Atocha remonta ao século V: por causa do grande triunfo obtido pela Igreja, contra a heresia de Nestório, no Concílio geral de Éfeso, foi esculpida por mãos espanholas, tendo sigo gravada em seu pedestal a palavra grega - "Teotokos", que significa - "Mãe de Deus", como prova do júbilo que havia produzido na Espanha a declaração da divina maternidade feita pelo mencionado Concílio. 
Não falta, porém, quem faça remontar a maior antiguidade ainda essa sagrada imagem, afirmando que quem a esculpiu, ou pintou, pelo menos, foi o Evangelista São Lucas, e também mencionam que a referida imagem é uma das que foram levadas em procissão pelas ruas de Roma pelo Papa São Gregório Magno, por ocasião da peste que assolou a dita cidade durante o seu pontificado.
Os que são desta opinião dizem que esta imagem foi levada para Toledo pelos primeiros discípulos de Jesus Cristo, e de lá transladada até o lugar em que foi edificada Madri, erigindo-se em sua honra uma ermida no lugar chamado de Vega, um dos primeiros onde recebeu culto a Rainha dos céus, depois de Saragoça.
Referem as crônicas, que entre os devotos que tinham em Madri a citada imagem, havia um que a venerava de modo singular. Chamava-se Gracián Ramirez. Tendo sido surpreendido em Madri pela irrupção dos mouros, e não podendo resistir, por falta de meios, a tão ominosa dominação, Gracián resignou-se a viver sob o jugo dos opressores, porém com a intenção de se levantar contra eles logo que lhe fosse possível. 
Enquanto não se oferecia essa ocasião, visita diariamente a ermida, onde continuava recebendo o culto dos fiéis a sagrada imagem da Virgem, pois os maometanos, nos primeiros tempos de sua denominação, com o fim de congraçar-se com os espanhóis e assim afrouxar a sua resistência, afetavam certa tolerância no que se referia às práticas do culto cristão, contanto que não traspassasse os limites do templo; logo, porém, que se firmasse o poder muçulmano, aquela tolerância se convertia, como aconteceu muitas vezes, na mais sangrenta perseguição contra quantos professavam a fé de Cristo. 
Visitava Gracián Ramirez, diariamente como já disse, a ermida de Nossa Senhora, por isso foi grande a sua surpresa, quando, ao ir certa tarde praticar suas costumadas devoções ante a venerada imagem, viu que esta havia desaparecido de seu altar, sem que nenhuma das pessoas a quem se dirigiu pudesse dar-lhe notícia dela. 
A princípio pensou que algum cristão a tivesse ocultado, para evitar alguma possível profanação da parte dos mouros; mas todos os espanhóis a quem consultou declararam que não haviam ousado apoderar-se da imagem, e que deploravam o acontecido, pois tudo induzia a crer que os mouros tinham entrado na ermida e roubado a imagem com fins sacrilégios. Mas as investigações que Ramirez fez entre os mouros também não deram nenhuma luz sobre o caso. Sem saber, portanto, a que atribuir o desaparecimento da imagem, triste pôs-se o bom Gracián a procurá-la pelo campo, recomendando com grande fervor à excelsa Senhora as suas pesquisas; atendendo-o a Mãe de Deus, eis que afinal encontra a imagem oculta em um campo de esparto (planta da família das gramíneas}; louco de alegria, que levá-la novamente para a sua ermida, porém, foi impossível removê-la dali!
Convenceu-se então Gracián de que a Virgem Maria desejava que sua imagem recebesse culto naquele lugar, e não onde estava a sua primeira ermida. 
Com esta convicção se dirigiu a seus parentes e amigos, aos quais se juntaram muitos outros cristãos, e, tendo todos concordado, decidiram edificar uma nova ermida, para o que se muniram de toda classe de materiais de construção, e em grande número se dirigiram para o lugar escolhido pela Santíssima Virgem para seu santuário. 
Aquela aglomeração de cristãos e os trabalhos de alvenaria em que estavam ocupados fizeram com que os mouros suspeitassem de que se tratava de levantar um forte  para hostilizá-los, apoiando dali algum assalto ao povoado. 
Com esta ideia, o "wali" que comandava a povoação pôs em pé de guerra vários de seus esquadrões. Quando Gracián viu  sobre ele e sua gente aquela avalanche de infiéis, o primeiro pensamento que lhe ocorreu, foi que a mulher e a filha, que estavam em sua companhia, naquela ocasião, iam ser vítimas dos mais infames ultrajes da parte daqueles infiéis, e que só com a morte podiam livrar-se deles. 
Horrível causa era para ele converter-se em verdugo de sua própria família mas, considerando preferível morrer com honra a viver sem ela, desembainhou a espada, e, depois de recomendar à mulher e a filha que se encomendassem brevemente a Deus por intercessão da Santíssima Virgem, decapitou-as, e ficou esperando que chegassem os mouros e dessem fim à sua vida; porém estava resolvido a vendê-la tão caro quando pudesse, pois sua intenção era matar o maior número de infiéis possível.
Do mesmo modo pensaram os cristãos que estavam com ele, de tal modo se bateram com os mouros, que os puseram em fuga, e, envoltos com eles, entraram em Madri, onde, auxiliados por outros cristãos, fizeram dos muçulmanos uma grande carnificina e se apoderaram da vila, expulsando os sobreviventes daquele grande desastre. 
Indescritível foi o júbilo dos cristãos por esta inesperada vitória, que com fundamento atribuíram a uma especial proteção da Santíssima Virgem Maria. 
E a imagem de Nossa Senhora recebeu desde aquele momento o nome de - "Atocha", que significa "esparto", e as obras da nova ermida foram logo terminadas como uma prova de gratidão devida a Nossa Senhora pelo grande benefício que por sua intercessão haviam recebido.
Mas, no meio de tanta alegria, só se achava triste e aflito D. Gracián, por causa do sacrifício da mulher e da filha. 
Como bom cristão e nobre espanhol, alegrava-se com o triunfo conseguido por mediação da Virgem Santíssima, e para ele contribuíra  com o valor e esforço de seu braço; porém, enquanto seus companheiros se espalhavam pela vila, atroando-a com os seus gritos de júbilo, ele dirigiu-se para o lugar onde estava a imagem, junto à ermida em construção, para desafogar aos pés de sua Mãe celeste a dor que lhe oprimia a alma.
Mas... quem poderá descrever seu pasmo ante o espetáculo que se ofereceu a seus olhos?!...
Diante da imagem de Nossa Senhora estavam ajoelhadas a mulher e a filha, vivas e sãs, e sem outro sinal de sua decapitação a não ser um fio roxo que, à maneira de purpurino colar, lhes rodeava o pescoço. 
Quedando imóvel, como se fosse vítima de alguma ilusão, foi mister que as duas lhe falassem, para convencer-se de que, por um milagre obrado por Deus a instâncias da sempre Virgem Maria, lhe haviam sido devolvidos aqueles seres queridos. 
A tradição coloca este terno episódio no quarto ano depois da invasão da Espanha pelos mouros. 
A devoção a Nossa Senhora de Atocha foi sempre crescendo e estabelecendo-se sobre sólidas bases, em quando o rei Afonso VI tomou Madri definitivamente, a veneranda imagem começou a ser objeto de um culto especial, não só pelas classes populares, mas também pelas mais elevadas, e particularmente por todos os monarcas da Espanha, os quais a tomaram por sua Padroeira e Advogada, sendo o seu santuário o primeiro templo que visitavam ao fazerem sua entrada em Madri. 
Do tempo do Imperador Carlos V, data a transformação do antigo Santuário de Nossa Senhora de Atocha em um suntuoso templo. 

(Versão resumida do Livro "La Virgen en España.)

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

Nossa Senhora da Correia


Lê-se na vida de Santa Mônica o fato seguinte, de onde se origina o título - Nossa Senhora da Correia. 
Estando ela um dia a chorar os extravios morais de seu filho Agostinho, apareceu-lhe Nossa Senhora, a quem invocara em sua aflição. A mãe de Deus, que estava vestida de preto, tendo à cintura uma correia da mesma cor, disse-lhe que se vestisse do mesmo modo, que assim conseguiria a conversão do filho. 
A correia ou cinto era comum entre as mulheres da Palestina. 
Santa Mônica começou a usar desde aquele dia o vestido preto e a correia. 
Convertido Agostinho, também ele começou a usar hábito preto e a correia,  como uma devoção especial a Nossa Senhora, hábito e correia que deu como distintivo a seus filhos espirituais, os Padres Agostinianos, por ele fundados em Tagaste (África), no ano de 388. 
Cresce a Ordem Agostiniano, e com ela a devoção a Nossa Senhora da Consolação e Correia espalhou-se pelo mundo inteiro. 
Hoje existe a Arquiconfraria da Sagrada Correia, que tem como Padroeira Nossa Senhora da Consolação e Correia, Arquiconfraria esta que no Brasil tem sua sede em São Paulo, na igreja Matriz de Santo Agostinho, à praça Santo Agostinho, 79, Vila Mariana. 
O título - Nossa Senhora da Correia é geralmente usado unido ao de Nossa Senhora da Consolação, provavelmente por ser Nossa Senhora, sob este título, a Padroeira da Arquiconfraria da Sagrada Correia. 

(Esta notícia também me foi enviada, por intermédio de uma amiga de São Paulo, pelos Revmos. Padres Agostinianos.)


fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos.



sábado, 21 de dezembro de 2013

Nossa Senhora D'Oropa

Oropa (Piemonte) - Itália



Nossa Senhora d'Oropa - eis mais um título proveniente do lugar onde foi levada, e onde se tornou milagrosa e célebre a imagem de Nossa Senhora. 
Vejamos resumidamente a história da imagem e do famoso Santuário de Nossa Senhora d'Oropa:
Ao nordeste de Biella, na província do Piemonte, fica o Vale d'Oropa, e numa altura de 1.200 metros, magnificamente situado, vemos o Santuário em que se venera uma milagrosa imagem de Nossa Senhora, que, segundo uma antiga tradição foi levada, por Santo Eusébio, da Terra Santa para o Vale d'Oropa; por causa de seu feitio e de sua cor (é de cedro bem escuro), esta imagem é tida por muito antiga, e pode ser muito bem da mesma época das milagrosas "Madonas pretas" veneradas nos célebres Santuários de peregrinações da França e da Alemanha. 
Em 369 foi Eusébio forçado, por causa dos arianos, a ficar menos em evidência: fugiu então para as montanhas do norte de Biella, tendo sido bem acolhido pelos montanheses. Levou ele consigo a sua Madona, que colocou na cavidade de um grande rochedo; porém, como as habitações estavam situadas na outra margem, mudou-se para lá, levando novamente a sua imagem e colocando-a em uma abandonada e semi-destruída cabana, que era encostada a uma pedra ao abrigo dos fortes ventos do norte. 
Eusébio melhorou a cabana e colocou nela um altar feito de uma pedra toscamente talhada. Esta pedra e a cabana, quando a Basílica foi construída, ficaram no seu interior. Tanto na pedra em que primeiro colocou Eusébio a sua imagem, como na outra que está atualmente na Basílica, há cinzelada uma cruz de forma primitiva, o que fez os arqueólogos assinalarem Oropa como um lugar de culto cristão já no tempo de Eusébio, e portanto é o Santuário de que tratamos considerando como um dos mais antigos lugares de peregrinação do Ocidente. Na pedra que está na Basílica está gravado o ano de 369. 
Santo Eusébio foi o primeiro que fundou no Ocidente um convento (em Vercelli), e, quando, mais tarde voltou para o Vale d'Oropa, reuniu em torno de si fiéis discípulos, que depois viveram como eremitas, seguindo as Regras de São Bento; esses eremitas cuidaram do Santuário até o século XV, tendo suportado os efeitos das invasões dos gôdos, dos hunos e longobardos, completamente isolados do resto do mundo católico, mas sem ter sido atingido o Santuário pelas devastações dos bárbaros, por estar situado na montanha, longe da passagem dos destruidores. E tempo difícil viveu novamente o país, quando os sarracenos ocuparam o Piemonte, do ano 904 ao de 1006. 
Resumindo, veremos apenas que no século XI pode afinal o Vale d'Oropa ter paz e sossego, começando as peregrinações a regularizarem-se, até que a igreja e o convento precisaram ser aumentados. 
No século XVII foram chamados, para administrarem o Santuário, padres seculares, que seguiram as Regras de Santo Eusébio, sendo em 1918 substituídos por Redentoristas. 
Há uma lenda ( do tempo de Santo Estefano) que diz o seguinte: tinham resolvido transportar a imagem milagrosa para Biella; porém, mal tinham caminhado uma meia légua, a imagem tornou-se de repente milagrosamente pesadíssima, impossível de ser carregada! E, logo que determinaram levá-la de novo para o lugar onde sempre estivera, voltou logo ao seu peso natural!
Para perpetuar a lembrança deste milagre, construíram, no sítio em que a imagem parou, uma capela, que ainda hoje os peregrinos podem contemplar, quando sobem para o Santuário, e que se chama a - Capela do Transporte. 
Em 1559 a cidade de Biella, para se ver livre da peste, comprometeu-se a tomar sobre si uma parte dos encargos para a manutenção do Santuário e a  aceleração da construção da Basílica. 
Pelo fim da última guerra mundial a imagem milagrosa foi escondida, e colocada em seu lugar uma cópia muito bem feita: passados os dias de apreensões e cuidados, foi a imagem verdadeira novamente colocada em seu lugar, mas sem a coroa e os valiosos enfeites. 
Em 1600 foi celebrada a primeira missa na Basílica, e em 1620 foi a imagem coroada pela primeira vez, na presença de 25.000 pessoas, tendo sido operados sete milagres nesse dia. Fizeram a segunda coroação em 1720, e os peregrinos que a assistiram tiveram a felicidade de ver, no ato da coroação, uma coroa de estrelas sobre Oropa, e um cometa, que parecia querer cair naquele privilegiado lugar. 
Em 1820 a festa da coroação reuniu 100.000 fiéis no Vale d'Oropa. A quarta coroação coincidiu com o tempo difícil dos primeiros anos após a guerra mundial. O cardeal Isodoro Valfré presidiu, como legado do Santo Padre, a grandiosa solenidade, na qual tomaram parte muitos cardeais, Bispos e outras altas dignidades da Igreja Católica.
Inúmeros são os milagres e graças extraordinárias que Nossa Senhora d'Oropa tem concedido a seus devotos, no decorrer dos séculos. 
Em 1599 a cidade de Biella fez o voto de ir em peregrinação anualmente ao Santuário d'Oropa, se Nossa Senhora a livrasse novamente (pois já a tinha livrado em outras ocasiões) do flagelo da peste, e este voto tem sido mantido até os dias de hoje. 
No livrinho "II Santuário di Oropa", de Can. Mario Trompetto, o autor informa que o rosto e as mãos da milagrosa imagem nunca são atingidos pelo pó, apesar de ninguém jamais espaná-los. 
Qualquer peregrino pode contemplar este milagre com os próprios olhos. 
Hoje o Santuário d'Oropa é célebre principalmente na Itália; além do Convento e das muitas capelas anexas à Basílica, foi construída outra grande igreja, sob a alta cúpula da qual foi rezada a primeira missa a 21 de setembro de 1941.
Grandes peregrinações são realizadas no decorrer do ano litúrgico, salientando-se as que fazem a 21 de novembro, 15 de agosto e 8 de setembro, assim como a procissão da peste, dos bielenses, no dia 1° de maio. 

(Versão resumida do livro "Wallfahrtsorte Europas", de Rudolf Kriss e Lenz Rettenbeck). 

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Nossa Senhora das Neves

Festa dia 5 de agosto



O fato seguinte deu lugar ao estabelecimento do título e da festa de Nossa Senhora das Neves: 
No começo do quarto século vivia em Roma um ilustre descendente das famílias consulares, o qual, por não ter filhos, tinha resolvido, de combinação com a mulher, consagrar sua grande fartura à glória de Deus. 
Estando ambos preocupados com este seu projeto, a Santíssima Virgem lhes deu a entender que desejava ser a herdeira. "Edificar-me-eis, lhes disse ela, uma basílica na colina de Roma que amanhã estiver coberta de neve". Era a noite de 4 para 5 de agosto (do ano 352), época em que são excessivos os calores na Itália. No dia seguinte, o Esquelino estava coberto de neve! A cidade inteira acudiu ao lugar do milagre. 
O papa Libério, acompanhado de todo o clero, para lá se dirige também. Conta-se ao povo a causa do prodígio, e a igreja é edificada à custa dos piedosos cônjuges e recebe o nome de Nossa Senhora das Neves, nome venerável, que ainda hoje conserva. 
Em memória do papa Libério, que a consagrou no ano seguinte, chamam-na também basílica Liberiana. A estes dois primeiros nomes, juntaram-se outros não menos honrosos: Santa Maria do Presépio, por causa do presépio do Salvador, que ali se venera, e Santa Maria Maior, porque é a mais importante das igrejas de Roma dedicadas à Rainha dos céus. 

(Do livro "Maria ensinada à mocidade").

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Nossa Senhora de Puy

França


O culto divino neste lugar (isto é, no lugar em que foi construído o Santuário de Nossa Senhora) foi ocasionado, já antes da era cristã, por uma pedra tida como santa ou milagrosa, que existia no alto de um morro, a qual (pedra), quando foi construída a igreja, foi colocada diante do altar-mór; como, porém, no decorrer dos séculos, os peregrinos nunca quiseram deixar de rezar diante dela, ou, procurando a cura das mais variadas doenças, quisessem sentar-se ou mesmo deitar-se sobre ela, foi removida em 1784 para a frente da porta principal do Santuário. 
É uma grande pedra retangular, e é conhecida pelo nome de "pedra das febres".
Antigamente era costume dormirem os peregrinos, na noite de sexta para sábado, em cima da pedra milagrosa. 
Os milagres que, segundo a tradição, tem sido operados em cima da referida pedra, por intercessão de Nossa Senhora, deram ocasião, futuramente, à construção da célebre Catedral.
A lenda põe a pedra em relação com a Mãe de Deus da seguinte maneira: uma viúva dos arredores de Puy, que sofria há muito tempo de uma febre tenaz, sonhou uma noite que a Mãe de Deus lhe dissera se dirigisse à montanha de Anis, como se chamava aquele lugar de peregrinações, e dormisse em cima da pedra dos druídas. A doente obedeceu, e, depois de um sono misterioso, levantou-se completamente curada. 
Dirigiu-se ela então ao primeiro bispo de Puy e comunicou-lhe que a Mãe de Deus desejava ser venerada na montanha de Anis. 
O Bispo, investigando o caso, encontrou o cume da montanha coberto de espessa neve, apesar de estarem no mês de agosto, e mais admirado ainda ficou quando viu na neve, nitidamente traçados pelas pegadas de um veado que por ali passara na ocasião, os contornos de uma igreja; porém, como não dispunha de meios suficientes para a construção, mandou cercar o misterioso lugar por uma sebe de espinhos, que no dia seguinte estava toda florida. 
Duzentos anos depois deu-se um novo milagre: um paralítico, tendo-se deitado sobre a milagrosa pedra, levantou-se completamente curado e, quando agradecia a Nossa Senhora a sua cura, Maria apareceu-lhe e recomendou-lhe a ereção de um santuário. 
O Bispo Vosy, a quem foi comunicado o acontecimento, mandou então erigir uma igreja; o Papa aprovou a iniciativa do Bispo e mandou-lhe um afamado arquiteto romano. 
Puseram logo mãos à obra, e, quando estava pronta a igreja, ia o Bispo novamente a Roma, com o arquiteto, em busca de relíquias para os altares; porém, mal tinham os dois deixado Puy, vieram ao seu encontro dois anciões, que lhes disseram ser inútil ir a Roma, e que por isso deviam voltar para Puy, e, entregando aos viajantes algumas caixinhas que continham relíquias, desapareceram. 
Quando o Bispo e o companheiro chegaram à santa montanha, os anjos tinham começado a consagração da igreja, que estava toda iluminada, e os sinos bimbalhavam milagrosamente por si mesmos. Ao redor do Santuário estava o ar impregnado de agradável perfume, e ouviam-se harmonias celestes. 
Esta primitiva igreja tão privilegiada não durou muito, porque logo se tornou pequena para a multidão de peregrinos que para lá acorriam. 
O atual Santuário é uma basílica romana do século XII, e a imagem milagrosa está no altar-mór e é muito venerada. 
Como Puy era a cidade mais próxima da montanha onde foi construído o Santuário, deram a Nossa Senhora o título de - NOSSA SENHORA DE PUY. 
Inúmeras lâmpadas ardem constantemente diante do altar de Nossa Senhora, cujo Santuário é procurado por peregrinos de todos os pontos da França. 

(Versão resumida do livro "Wallfahrtsorte Europas".)

fonte: livro Maria e seus gloriosos títulos

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nossa Senhora de Chartres

França


O mais antigo e mais venerável Santuário da França é a Catedral de Chartres célebre não só como um lugar de peregrinação, mas também como obra de arte. 
A sua origem é anterior à era cristã. e mesmo à era romana. 
"Carnutum" (o seu nome céltico) era um lugar santo na Gália; aí já conheciam outrora uma gruta subterrânea, na qual era venerada uma divindade céltica, e no tempo dos romanos tinham os druídas nesse lugar, por ordem de César, o centro de suas atividades religiosas.
Quando o cristianismo aí penetrou, nos primeiros séculos de sua existência, os cristãos aproveitaram do antigo culto o que puderam, e uma tradição fidedigna diz que ele deixaram até ficar em seu trono a antiga imagem dos celtas, que representava uma mulher com uma criança no colo, adaptando-a à sua fé sob o título de - "Notre Dame sous Terre", isto é, "Nossa Senhora sob a terra", à qual depois denominaram - Nossa Senhora de Chartres, pois é muito comum, para diferençarem as imagens milagrosas umas das outros, dar-se-lhes, como título, o nome do lugar em que foram encontradas, ou mesmo do lugar em que simplesmente se celebrizaram por seus milagres. 
Era uma imagem de madeira, de 80 centímetros de altura, enegrecida pelo tempo, representando uma mulher sentada numa rústica cadeira de braços, com uma criança no colo; a criança, que tinha a mão direita levantada, em ato de abençoar, sustinha na esquerda uma bola. A mãe tinha na cabeça cingida por uma coroa de folhas de carvalho.
Um caminho subterrâneo, para os peregrinos, conduzia a essa divindade, e uma fonte, cuja existência denotava sua origem galo-romana, corria paralela ao caminho. 
Na época da revolução francesa foi queimada a mencionada imagem, que foi substituída, no século XIX, por uma nova imagem de Maria, que até hoje é muito venerada. 
Na subterrânea e enegrecida abóboda ardem constantemente numerosas lampadas, e as paredes laterais do altar estão cobertas de ex-votos. 
O culto cristão adaptou-se facilmente com o culto subterrâneo dos celtas, porque também os cristãos, nos primeiros séculos, tiveram de prestar o seu culto a Deus às escondidas, nas catacumbas, e a Gália foi um dos primeiros países em que penetrou o cristianismo. 
Isto contribuiu para a origem de uma lenda, segundo a qual os sacerdotes celtas de Carnutum, no tempo em que a Mãe de Deus vivia aqui na terra, tinham-Lhe enviado uma mensagem, e que Lhe rendiam homenagem sob o título de - NOSSA SENHORA DE CHARTRES, adotado depois também pelos cristãos; informa também a lenda que dois discípulos do Apóstolo Pedro - Sabiniano e Potenciano- foram os primeiros cristãos que de Roma foram para Chartres. 
Por causa desta lenda ou tradição, é a igreja de Chartres (hoje Catedral) considerada a igreja mais antiga da França, por ter sido antes do nascimento de Cristo. 
Deixando de parte a história da construção da mais suntuosa Catedral da França, para não me alongar, direi apenas que foi consagrada em 1260, e que a riqueza e a arte se irmanaram, nesse monumento da nossa fé, numa tão perfeita harmonia, que a tornaram merecedora do conceito que dela fazem, considerando-a uma das mais belas e mais célebres igrejas do mundo. 

(Versão resumida do livro "Walfarhrtsorte Europas" de Rudolf Kriss e Lenz Rettenbeck.) 

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

Nossa Senhora de Rocamadour

Rocamadour ( Dep. de Lot, França)


Valdeia de Rocamadour atrai há muitos séculos multidões peregrinos, e recentemente também numerosos turistas, pelo pitoresco daquele sítio.
As peregrinações são célebres desde a Idade Média, pois, Rocamadour encerra incontestavelmente uma considerável força espiritual, que encanta os crentes, cativando os próprio incrédulos. 
Segundo a tradição, a fundação do Santuário de Rocamadour foi nos primórdios do Cristianismo, e teve sua origem em um altar erigido em honra de Nossa Senhora pelo aduaneiro Zaqueu de Jericó, que foi para a Gália depois da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Diz também a tradição, que a imagem de Nossa Senhora se esculpiu a si mesma no tronco de uma árvore. A imagem representa Nossa Senhora sentada num trono, tendo no colo o Menino Jesus. 
Zaqueu mudou mais tarde o seu nome para o de Amador, de onde provém o título de Nossa Senhora provavelmente dado pelo povo, primeiro ao lugar, e depois também à imagem - Nossa Senhora de Rocamadour, isto é, Nossa Senhora da Penha ou Rocha (Roc) de Amador.
Para se alcançar o cume do rochedo, onde se está situado o Santuário, há 217 degraus que o peregrino devia outrora subir de joelhos. O santuário é composto de três capelas e a igreja de São Salvador; esta, que data do século XIII, foi construída por cima da cripta de Santo Amador, cavada em 1160, e foi elevada à categoria de Basílica Menor. 
Uma segunda escada conduz à capela de Nossa Senhora de Rocamadour, que foi edificada no século XVII, no lugar do oratório primitivo, que tinha sido destruído pela queda de uma pedra.
A imagem antiga, restaurada, está no altar-mór desta capela, rodeada de lampadas continuamente acesas. 
Antigamente vestiam suntuosamente esta imagem; mas, faz poucos anos, retiraram os ricos vestidos, para que se possa admirar a beleza da antiquíssima imagem de madeira.
Rocamadour teve de suportar duras provações no decorrer do tempo: alternativamente, normandos, ingleses, albingenses, huguenotes e revolucionários obstinaram-se em devastar este santo lugar de peregrinações; porém, houve sempre, em todas as épocas, fiéis generosos que se prontificaram a levantar novamente o Santuário, de modo que de geração em geração chegou até nós a devoção a Nossa Senhora de Rocamadour, que tantos milagres tem operado em favor dos que a Ela recorrem. 
Personagens ilustres e mesmo reis da França e de Castela iam rezar em Rocamadour, que era um dos grandes Santuários de peregrinações de penitência.
Sua origem se confunde com a implantação do Cristianismo na Gália.
A peregrinação principal é a 8 de setembro.

(Esta notícia foi vertida resumidamente dos livros "Wallfahrsorte Europas" de Rudolf Kriss e Len Rettenbeck, e "Mile Peleriganes de Notre-Dame" de I.C. de Chefdubois).

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

Nossa Senhora da Consolação


O título - Nossa Senhora da Consolação é muito antigo, pois começou a ser usado no tempo dos Apóstolos, pelo seguinte motivo: depois da subida de nosso divino Salvador para o céu, quarenta dias depois de sua gloriosa Ressurreição, Maria Santíssima foi para os Apóstolos uma verdadeira Mãe; se já desde a morte de seu Divino Filho os amparava e confortava, depois ainda mais solícita de tornou, se possível, consolando-os e encorajando-os na árdua missão de levar a fé ao mundo pagão daquele tempo.
E tal era a veneração que lhe tributavam os Apóstolos e discípulos, que lhe deram o título de - Nossa Senhora Consoladora ou da Consolação. 

(Esta notícia foi obtida por intermédio dos Revmos. Pes. Agostinianos de São Paulo).

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Nossa Senhora do Pilar

Títulos Históricos

Saragoça (Espanha) 

Festa dia 12 de Outubro


No Brasil, parece-me, não é muito invocada Nossa Senhora sob este título, porque não é bastante conhecido, e no entanto é o mais antigo título de Nossa Senhora, e não há no mundo santuário tão secular e privilegiado como a Basílica do Pilar em Saragoça, Espanha.
Para tornar, portanto, mais conhecido este título de Nossa Senhora do Pilar, transcrevo, resumido, a narrativa histórica do acontecimento que deu origem ao aludido título. Esta narrativa, baseada nos mais antigos e fidedignos documentos, e confirmada pela tradição cristã há mais de 1900 anos, eu a extraí de um artigo do Revmo. Pe. Sebastião Maria, SS. CC., publicado no "Lar Católico", em 1943.
Eis a narrativa: Crescia dia a dia o número dos cristãos, atraídos pela pregação e pelos milagres dos Apóstolos; mas alguns judeus malvados, caluniando os discípulos de Cristo, iam movendo cruel perseguição à Santa Igreja, maltratando e mesmo matando muitos cristãos.
Então os Apóstolos, santamente indignados, depois de apostrofarem os judeus, disseram-lhes que, visto a sua indignidade e o seu menosprezo da fé cristã, se voltariam para os pagãos, e assim iriam pregar o Evangelho a todas as criaturas, segundo o mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo.
São Tiago Maior foi então incumbido de ir pregar o santo Evangelho às províncias da Espanha, e, antes de partir, foi pedir a licença e a benção de Maria Santíssima, como fizeram também os outros Apóstolos, comovidos por terem de separar-se da santa Mãe de seu divino Mestre, a qual tão bem os aconselhava, consolando-os nas perseguições e desalentos. 
A Virgem Santíssima, tendo abençoado o Apóstolo, assim lhe falou: "Vai, meu filho, cumpre a ordem de teu Mestre, e por Ele te rogo que, naquela cidade da Espanha em que maior número de almas converteres à fé, edifiques uma igreja em minha memória, conforme o que eu te manifestar".
O Apóstolo São Tiago seguiu, pois, para a Espanha, e, depois de ter pregado em alguns outros lugares, chegou a Saragoça, à margem do rio Ebro. Tendo pregado durante muitos dias nessa cidade, São Tiago converteu a Jesus Cristo oito varões, com os quais se retirava à noite para a margem do rio, onde oravam e descansavam longe das agitações dos pagãos. 
Certa noite, enquanto o Apóstolo descansava com os seus fiéis discípulos, ouviu, de repente, umas vozes angélicas que cantavam; "Ave, Maria, gratia plena!" Pondo-se imediatamente de joelhos, viu a Santíssima Virgem entre o coro de Anjos, sentada num pilar de mármore. O coro angelical acabou o ofício de matinas com o versículo - "Benedicamus Domino".
Acabado o ato, Maria Santíssima chamou a si o santo Apóstolo, e com muito carinho lhe disse: "Eis aqui, meu filho, o lugar assinalado e destinado à minha honra, no qual, por teu cuidado, e em minha memória, quero que seja edificada uma igreja; conserva este pilar onde estou sentada, porque meu Filho e teu Mestre enviou-o do céu pela mão dos Anjos; junto a ele assentarás o altar da capela, e nele obrará a virtude do Altíssimo os portentos e maravilhas de minha intercessão, para com aqueles que, em suas necessidades, implorarem o meu patrocínio; e este pilar permanecerá aqui até o fim do mundo, e nunca faltarão nesta cidade verdadeiros cristãos que honrem o nome de Jesus Cristo, meu Filho".
Subitamente, aqueles exército de Anjos, tomando a Rainha dos céus, levou-a para a cidade de Jerusalém, repondo-a em sua cela.
Depois deste miraculoso fato, a Virgem Maria ainda viveu onze anos. 
São Tiago, depois de louvar a Jesus e a Mãe Santíssima, cheio de contentamento começou logo a edificar uma igreja naquele lugar, ajudado pelos oito discípulos, colocando a referido pilar na parte superior do altar e voltado para o Ebro. 
Eis, pois, a origem do título - Nossa Senhora do Pilar - talvez o mais invocado na católica Espanha, pois Nossa Senhora tem sempre valido, sobre este título, através dos séculos, aos valorosos católicos espanhóis, em favor de quem tem cumprido suas promessas. 
Vinte séculos já decorreram desde a milagrosa aparição, e o Pilar Sagrado lá está a atestar a proteção da Santíssima Virgem Maria.
Embora a devoção a Nossa Senhora do Pilar seja uma devoção dos espanhóis, podemos muito bem também nós, católicos brasileiros, honrá-la e venerá-la sob este título, pois só teremos a lucrar com a nossa devoção a um título com que a Mãe de Deus deve gostar de ser invocada, por ter sido Ela mesma a inspiradora do aludido título, levando para a Espanha, por ordem de seu divino Filho, o venerado Pilar, que ainda hoje atesta a milagrosa aparição, e que ali permanecerá até o fim do mundo.

Nossa Senhora do Pilar, rogai por nós!

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

sábado, 7 de dezembro de 2013

Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças

(Festa a 31 de maio)


É doutrina "certa e comumente admitida" que a Santíssima Virgem Maria é Medianeira de todas as Graças, embora Medianeira secundária e dependente de Cristo, Único Mediador Principal e Necessário. 
Consumando Jesus Cristo, com a sua morte, o Mistério da nossa Redenção, abriram-se para todos os homens as portas do céu; faltava, porém, a aplicação dos merecimentos da vida, paixão e morte do Salvador às necessidades de todas as almas e de cada alma em particular, para que pudéssemos de fato entrar na Pátria Celeste.
Esta aplicação da Redenção seria feita pelo próprio Jesus Cristo, que, indo para o Pai, estaria sempre a interceder por nós.
Sim, Jesus Cristo é Mediador entre Deus e os homens, conseguindo-nos, do Eterno Pai, os frutos da Redenção. 
Contudo, embora Mediador único, Jesus Cristo estabeleceu que os outros cooperassem com Ele na obtenção e distribuição dos dons sobrenaturais; assim o justo, já mesmo neste mundo, vem a ser um desses mediadores, e uma vez no céu, com maior eficácia intercederá por nós, diante do trono de Deus; são, pois, muitos os mediadores a intercederem pela nossa salvação.
Portanto, se todo cristão pode e de cooperar, pelas suas orações, à salvação dos homens, por que Maria, a mais perfeita das criaturas e a mais unida a Nosso Senhor, por que não será Ela a Mediadora por excelência, na obra da Redenção?
"Era desígnio de Deus", diz Leão XIII, que, após ter Maria servido de intermediária no mistério da Redenção, "continuasse igualmente a ser intermediária das graças que esse mistério faria correr em todos os tempos".
Sim, convinha que Aquela que fora nossa Co-Redentora, merecendo-nos, com a graça da Redenção, todas as demais graças, convinha que interviesse na dispensação e distribuição de todas as graças e méritos. 
Somente assim é que a Imaculada Maria teria sobre a demônio perfeita e completa vitória, como se esperava fosse a vitória sua, completa e perfeita, segundo o justo entendimento daquele  texto marial e messiânico: "Porei inimizade entre ti e a Mulher"...
"De fato, na cooperação com o novo Adão, Jesus Cristo, é que estava a razão da vitória da nova Eva, Maria. Que Maria, portanto, cooperasse também com Ele, dignamente, plenamente, na obra da distribuição dos frutos da Redenção, depois de haver com Ele cooperado na aquisição do nosso resgate."
Mas é especialmente da Maternidade espiritual da SS. Virgem Maria que decorre esta verdade da sua Mediação universal, verdade que já admitida nos primeiros séculos do Cristianismo, pois sempre entenderam os cristãos cultos, pelo menos, que, se Maria estava sempre com Jesus, como, por exemplo, em Nazaré, em Caná, no Calvário, e, depois da morte de seu Divino Filho, com os Apóstolos e discípulos, a aconselhá-los e a dirigi-los, e sempre a interceder pelos homens, é porque Jesus Cristo A queria como Medianeira de todas as graças.
E, portanto, porque de fato Maria coopera para a salvação das almas, para elas obtendo as graças necessárias para perseverarem no bem ou para restaurar-lhes a vida da graça, quando perdida pelo pecado, é por isso que Maria granjeou o título tão consolador para nós pobres mortais - Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. 

( A explicação deste título, eu a transcrevi resumindo-a, de um dos capítulos do livro - "Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças", do Revmo. Pe. Carlos Zanatta, C.M.) 

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

**Algumas data podem sofrer alterações pois o livro é antigo.

Nossa Senhora da Glória

(Ou Nossa Senhora da Assunção)

Festa - 15 de agosto


Maria, a criatura privilegiada com a isenção do pecado original e com a prerrogativa de ter sido escolhida para ser Mãe-virgem do Filho do Altíssimo, Maria subiu ao céu em corpo e alma.
Aquele corpo imaculado não podia ser desfeito na sepultura, como um corpo qualquer.
Com grande veneração amor foi o Santo Corpo depositado no sepulcro pelos Apóstolos, que, conforme reza a tradição, estavam presentes na ocasião de sua bendita morte e de seu sepultamento, menos o Apóstolo São Tomé, que, chegaram ao terceiro dia, quis ver mais uma vez o sagrado Corpo; abriram, pois, o sepulcro, e eis que o encontraram vazio, porém alcatifado de frescas e lindas flores, que exalavam um agradabilíssimo perfume!
Estava confirmado o que os Apóstolos e os outros fiéis suspeitavam; tendo eles passado três dias e três noites junto do sepulcro, revezando-se em grupos, ouviam de contínuo coros angélicos que louvavam a Mãe de Deus, aos quais juntavam os seus fracos louvores.
E os coros haviam cessado; é que Maria subira ao céu! Maria ressuscitara!
Convencidos de que o Senhor, antecipando-se à ressurreição geral, tinha-a feito entrar triunfalmente na glória, os Apóstolos e seus sucessores sempre o creram e ensinaram, e tal é o sentir da Igreja no decorrer dos séculos.
E quem poderia supor que assim não fosse?
Ah! não, não pode haver cristão-católico que não creia e professe que Maria Santíssima subiu rediviva para a Glória, para continuar a sua missão de Corredentora, mormente agora depois que o Santo Padre Pio XII, anuindo ao desejo dos católicos do mundo inteiro, proclamou o Dogma da Assunção.

Assunta est Maria in coelum!...

A festa da Assunção de Nossa Senhora enche-nos de alegria, por ser mais uma prerrogativa, a engrandecê-la, a sua triunfante entrada na Glória, "em corpo e alma"; é por este motivo que o dia da Assunção, 15 de agosto, é celebrado como dia de Nossa Senhora da Glória, isto é, Maria grandeou, com sua gloriosa subida ao Céu, mais um título. Há quem diga também, pelo mesmo motivo, Nossa Senhora da Assunção.

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos


Nossa Senhora das Dores

(Título litúrgico)



A Igreja celebra duas festas em honra de Nossa Senhora das Dores: a primeira na sexta-feira da semana da Paixão e a outra no dia 15 de setembro.
A primeira festa de Nossa Senhora das Dores é celebrada em toda a Igreja desde o ano de 1727, por ordem do Papa Bento XIII, mas a segunda já se celebrava antes em diversas igrejas e ordens religiosas, quando o Papa Pio VIII, por decreto de 18 de setembro de 1814, autorizou-a para todo o mundo católico.
É muito provável que esta festividade fosse instituída, ou, pelo menos, propagada pelo concílio provincial que se reuniu em Edônia pelo ano de 1413, o qual, para refrear a audácia dos hereges hussitas, que com sacrílego furor afeavam as imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Virgem Dolorosa, estabeleceu que todos os anos, na sexta-feira seguinte do domingo da Paixão, se celebrasse a festa da comemoração das angústias e dores da bem-aventurada Virgem Maria.
Na primeira festa (a da semana da Paixão) celebramos, pois, a fortaleza e paciência invencível com que a Santíssima Virgem Maria, na dolorosa paixão de seu Divino Filho, se deixou atravessar pela espada que lhe profetizava o santo velho Simeão.
Meditemos, portanto, com a Santa Igreja, nesta primeira festa, nos tormentos de Jesus, os quais atormentavam, com a mesma crueldade, o coração de sua Mãe Santíssima.
Na segunda festa das Dores de Maria (a de setembro) comemoram-se todas as suas dores, principalmente as sete dores principais que a Virgem Santíssima teve na vida, paixão e morte de seu amado Jesus.
Ó cristãos que me ledes, façamos, ao menos na época das duas festas que são dedicadas às suas dores, façamos companhia à Rainha dos Mártires, e, condoendo-nos de suas pungentes dores, peçamos-lhe que nos dê um grande ódio ao pecado, causa de suas dores, e força e auxílio para a imitarmos, levando com paciência e submissão a nossa cruz. Peçamos-lhes também que nos assista principalmente no último combate de nossa vida, para que, depois de termos comemorado as suas dores, na terra, possamos participar de suas alegrias no céu. 

Salve, Virgem dolorosa,
Amparo dos desgraçados!
Dai-nos, pelas vossas dores,
A dor dos nossos pecados.

(Para esta notícia foram consultados os livros - "Ano Cristão", do Pe. Croiset, S.J. e "Maria ensinada à mocidade".)

fonte: Maria e seus gloriosos títulos

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nossa Senhora da Guia

(No Rio, a festa de N.S. da Guia é dia 8 de setembro)



O presente título provém, a meu ver, - baseando-me no exórdio do panegírico pronunciado pelo Revmo. Mons. Zacarias Lopes dos Santos Luz, por ocasião da festa de Nossa Senhora da Guia, na igreja do Bonfim, na Bahia - do fato de ter a Virgem Santíssima guiado Jesus na Sua infância e juventude: Maria O conduziu nas manifestações exteriores de Suas ações humanas, até os trinta anos de idade, passados em sua amorável companhia; Jesus deixava-se governar por Ela - Erat subditus (Lc. 11-51); e depois de ter nutrido, acarinhado e guiado na vida privada e doméstica a Jesus-Menino, é Ela que lhe abre entrada para a vida pública, obrigando-O, por assim dizer, ao primeiro milagre, nas Bodas de Caná, fato esse que O apresenta à face do mundo soberbo e potentado, com o Filho de Deus, o Reformados dos costumes, o único Senhor e Mestre.
A Jesus levados por Maria - foi sempre o princípio ensinado e praticado na Santa Igreja de Deus.
Comemorar, por exemplo, o mistério da Cruz sem contemplar Maria ao pé da mesma Cruz - é impossível!
Ela lá se achou e se achará sempre que se meditar na paixão de Jesus!
E, se meditarmos na infância ou na juventude de Jesus, forçosamente havemos de pensar em Maria.
Muito oportuno, pois, e muito expressivo o título - Nossa Senhora da Guia, porque também nós e muito mais nós, pobres pecadores, precisamos ser guiados pelo braço maternal da Mãe Celeste, nossa Corredentora, para não nos desviarmos do caminho da salvação.
Qual a Estrela do Oriente que guiou os reis até o berço de Jesus- Menino, assim Maria guiará sempre até o trono de Deus a fraca humanidade na sua viagem para a Jerusalém Celeste.

Nota: Quando se diz ter a Virgem guiado Jesus (entenda-se bem) não se pretende afirmar que Jesus precisasse propriamente de guia e direção, sendo Deus, como Ele o é; mas Jesus, como homem (note-se isto), nas manifestações exteriores de suas obras, quis fazer tudo à maneira humana. Assim é que o Evangelho diz (no mesmo cap. II, de São Lucas, acima citado): "Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos homens"... Logo, Maria, pode-se dizer, o guiava, parecendo que Ele carecia de ensino e de direção à maneira dos outros meninos e jovens, a cuja semelhança quis o Filho de Deus conformar-se, para lhes servir de modelo a ser imitado, e, desse modo, santificar o homem em todas as idades da vida; porquanto para isto assumira Ele a natureza humana, a qual se havia degradado, devendo agora remodelar-se pelo tipo perfeito do Homem-Deus, Jesus.

(Esta nota é da revista "Paladina do Lar", de março de 1917, explicando a opinião do sacerdote acima citado, no seu sermão no dia da festa de Nossa Senhora da Guia, do qual (sermão) fiz esse resumo, para explicar o mencionado título.)

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos. 

Nossa Senhora do Ó

Festa dia 18 de dezembro


Talvez muitos católicos nunca tenham ouvido falar em Nossa Senhora do Ó, e dos que já conhecem o título, poucos, talvez, saibam o seu significado.
E no entanto há em São Paulo uma paróquia cuja padroeira é Nossa Senhora do Ó, é uma paróquia que tem em sua história, "por ser uma das mais antigas de São Paulo; é uma legítima tradição piratiningana, a resistir ao desgaste do tempo e a falar do passado de São Paulo, onde quase nada mais resta que os lembre os encantos e atrativos das causas de antanho", como diz o jornal de onde extravio esta notícia.
A primitiva capela data de 1618. Elevada posteriormente à freguesia, essa localidade conserva ainda a antiga denominação, agora geralmente substituída pelo nome canônico de paróquia.
A Freguesia do Ó pode ufanar-se de ser em São Paulo e talvez no Brasil, a única, e no mundo uma das poucas paróquias colocadas sob a égide de Nossa Senhora sob o título da Expectação de seu parto virginal, e aí está a explicação desse Ó: a última semana do Advento, a Igreja a denominou - semana da Expectação ou da Esperança, sugerindo-nos a recordação dos santos júbilos e anseios amoráveis com que a Virgem Santíssima aguardava o nascimento de seu Filho.
Eis a origem da festa de Nossa Senhora da Expectação ou da Esperança ou do Ó. Esta festa chama-se também do Ó (Nossa Senhora do Ó) por causa dos grandes desejos da Igreja, durante esses oito dias, de ver nascido o Salvador no mundo, manifestando esses desejos por meio de umas antífonas do Ofício ou Breviário, as quais começa, todas pela letra O: O Sapientia, O Adonái, O radix Jesse, O clavis David, O oriens, O Rex Gentium, O Emauel,, terminando todas pela invocação "Veni" (vem).
A essas súplicas fervorosas dirigidas ao Verbo, rogando-lhe que desça a salvar e felicitar o mundo, é que se dá o nome de OO.
São preces ardentes tiradas todas das mais notáveis passagens da Escritura, pelas quais a Igreja, penetrando no espírito e no sentimento dos antigos patriarcas e profetas, manifesta, à imitação desses santos personagens, os fervorosos desejos que tem de ver nascido da Santíssima Virgem o Divino Salvador, o desejado das nações.
E se todos os santos do Antigo Testamento suspiravam com tanto ardor e ânsia pelo nascimento de Jesus, quais não seriam os desejos daquela que Ele havia escolhido para sua Mãe Virginal, sobretudo quando se aproximava o tempo de seu ditoso parto?...
Eis a origem da festa da Expectação de Nossa Senhora, ou de Nossa Senhora da Expectação, e a sua razão de ser.
Eis a origem e o significado do título popular - Nossa Senhora do Ó. 
A festa de Nossa Senhora do Ó é celebrada dia 18 de dezembro.

(Esta notícia, com pequenas modificações e um tanto resumida, foi extraída do jornal "A Gazeta", de São Paulo, de 18 de dezembro de 1935, o qual me foi enviado por uma amiga de São Paulo.)

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

Nossa Senhora da Conceição

Festa dia 8 de dezembro



É este um dos títulos que mais dignificam e engrandecem Nossa Senhora, o título predileto de quem escreve estas linhas, o título mais conhecido e mais querido do povo brasileiro. 
Não há quem não tenha, neste imenso Brasil, pedido a Nossa Senhora da Conceição alguma graça; não há cidade ou povoado que não possua uma igreja ou capela, ou pelo menos um altar ou um quadro dedicado à Imaculada Conceição; e não é para menos, pois desde a época do seu descobrimento foi a Imaculada Conceição  invocada na Terra de Santa Cruz, e há três séculos, com as outras terras de língua portuguesa, foi o Brasil consagrado a Nossa Senhora da Conceição.
Não é de admirar, portanto, que os brasileiros conheçamos e veneramos uma das maiores prerrogativas de Nossa Senhora, sua Imaculada Conceição; porém talvez nem todos saibam o que quer dizer - Nossa Senhora da Conceição, ou Imaculada Conceição.
É difícil resumir um assunto tão importante, como é o dogma da Imaculada Conceição; tentaremos, contudo, explicá-lo em poucas palavras, singelamente e com a maior clareza, tal como convém a um opúsculo escrito para o povo. 
Maria foi concebida sem a mancha do pecado original, e nasceu portanto, sem o pecado original, prerrogativa esta concedida unicamente, exclusivamente a Nossa Senhora.
E por quê? É fácil compreender, meus irmãos, que Deus forçosamente havia de formar de um modo extraordinário aquela criatura que Ele destinava para Mãe de seu Divino Filho; aquele tabernáculo vivo, que conteria o corpo de Deus, não podia ser profanado, nem por um segundo sequer, com o bafo pestífero do pecado, mesmo só de origem; a serpente infernal, pervertedora dos primeiros homens, não lograria o diabólico prazer de manchar, nem com a sombra do pecado, a alma predestinada, "ab eterno", para ser a Mãe do Filho do Altíssimo!
Maria haveria de vencer o inimigo figadal de Deus desde o primeiro instante de sua conceição! Maria, a diva aurora da redenção dos homens, nasceria pura, imaculada!
E assim foi: o Todo Poderoso realizou o seu intento - Maria foi concebida sem o pecado original. Mas não foi só esta a prerrogativa que o bom Deus concedeu a Maria: a sua alma santíssima jamais foi manchada pela mais leve imperfeição!
Eis o dogma da Imaculada Conceição explicado em palavras singelas e claras, ao alcance de todos.
Da palavra "concebida" formou-se o derivado "conceição"; a sua conceição foi, pois, imaculada, como já dissemos; daí veio a expressão - a Imaculada Conceição, que, com o tempo, começou a ser ligada ao vocativo "Nossa Senhora", pois o povo, naquela linguagem franca que tão bem traduz os seus sentimentos, começou a dizer - Nossa Senhora da Conceição.
Quando dizemos, portanto, Nossa Senhora da Conceição, queremos dizer que Maria é imaculada desde a sua conceição, e que o inimigo infernal jamais teve poder sobre Ela.
Continuemos, caros leitores, a invocar Nossa Senhora da Conceição; jamais se ouviu dizer que alguém tenha recorrido em vão a Nossa Senhora, salvo se a graça pedida era prejudicial à alma; porém, mesmo neste caso, não teremos recorrido em vão; porque Nossa Senhora nos terá atendido indiretamente, isto é, ter-nos-á dado, para recompensar a nossa confiança, uma graça muito melhor do que a que desejávamos.
Na certeza de que continuareis a invocar Nossa Senhora da Conceição com toda a confiança, passo a outro título.

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos.

Causa ou razão dos títulos com que honramos Nossa Senhora


Maria Santíssima, excelsa Mãe de Deus e nossa Mãe amantíssima, Rainha do céu e da terra, foi sempre considerada como uma criatura privilegiada, pelas prerrogativas que Deus lhe concedeu, a Ela só, na previsão da grandeza e sublimidade do encargo, que Ela receberia um dia - de vir a ser a  Mãe do Filho de Deus humanado.
Demais, os que tiveram a felicidade de conhecê-lA aqui na terra não puderam deixar de amá-lA e venerá-lA pela sua bondade, a sua amabilidade, a sua modéstia; em suma, pela santidade que irradiava de todo o seu ser, e mesmo pela sua beleza física, pois Maria Santíssima é a mais perfeita das criaturas na ordem da natureza e da graça, o máximo de perfeição que pode existir, depois da perfeição de seu Divino Filho. 
E por isso o povo católico sempre a amou e venerou, e esse amor e veneração foram sempre crescendo através dos séculos, manifestando-se o culto popular mariano por inúmeras formas de devoção, uma devoção sincera inspirada pela mais absoluta confiança na bondade, na misericórdia, na sabedoria, no poder miraculoso da Mãe de Deus. 
Sim, Maria é amada e venerada pelos cristãos católicos do mundo inteiro, não só por causa de suas prerrogativas - a Imaculada Conceição, a Maternidade Divina, a sua gloriosa Assunção etc. - mas também por muitas circunstâncias de sua bondade misericordiosa: não tem Ela aparecido a devotados filhos seus, por exemplo? Não tem manifestado o desejo de que certas imagens suas sejam especialmente veneradas em determinados lugares? E por quê?
Simplesmente para alertar seus filhos, livrando-os do caminho do pecado por meio de graças extraordinárias e milagres sem conta, com os quais patenteia, a olhos vistos, o seu amor de Mãe, Mãe terna e amorosa, que deseja ter perto de si, na bem-aventurada eternidade, a humanidade em peso, por quem tanto sofreu e morreu seu adorado Filho.
E por causa dessas aparições ou dessas imagens, ou por outra circunstância comprobatória da intervenção milagrosa de Maria, por meio das quais Ela tem beneficiado os homens de um modo maravilhoso, por causa dessas aparições e imagens, digo, foram sendo dados à Mãe de Deus, no decorrer do tempo, os títulos que hoje ou são universalmente conhecidos e venerados, como Nossa Senhora de Lourdes, de Fátima, da Salette, etc., ou conhecidos e venerados unicamente no país de sua origem. 
Além dos títulos litúrgicos e dos títulos históricos, há muitos outros que, segundo penso, não tem origem ou fundamento histórico nem litúrgicos, sendo meramente populares; porque, sendo em geral o povo muito devoto de Nossa Senhora, nas suas dores e aflições lembram-se logo de chamá-lA em seu socorro, acrescentando, conforme a necessidade que ao aflige, ao vocativo - "Minha Nossa Senhora", um título que corresponda ao mal que os atormenta, e assim recebeu a Mãe de Deus os títulos de - Nossa Senhora dos Navegantes, do Parto, da Boa Viagem, dos Agonizantes, da Boa Morte, do Socorro, etc. 
Não será assim?
Penso também que outros títulos são dados, pelos artistas que os produzem, a quadros ou imagens de Nossa Senhora representando certas cenas de sua santíssima vida, e esses títulos, como os  populares, foram passando de boca em boca, e entraram no rol dos outros, como se fossem de origem histórica; no número destes estariam então Nossa Senhora do Desterro, quadro ou imagem representando a fugida da Sagrada Família para o Egito; a Divina Pastora ou Nossa Senhora trajando como uma pastorinha e acariciando suas ovelhas; Nossa Senhora da Cadeia e Nossa Senhora do Livro, quadros de Rafael; Nossa Senhora do Ostensório, antiga imagem venerada na França, imagem esta que tinha nas mãos um Ostensório, e talvez outras. (...)
Amemo-lA também nós, de todo o coração, e, para pagarmos o seu amor com o nosso amor, esforcemo-nos por nos tornamos semelhantes a Ela, imitando, tanto quanto possível, as suas preclaras virtudes. 

fonte: Livro Maria e seus gloriosos títulos

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Oração a Nossa Senhora



Querendo celebrar vossa bondade, 
De alguns títulos vossos fiz um ramo,
Mãe de Deus; vede só como vos amo, 
Senhora do Pilar, da Caridade!

Da Conceição Senhora amada, 
Velai pela criança e juventude, 
Que não fujam da trilha da virtude,
Que não sigam dos maus a via errada.

Minha Nossa Senhora Aparecida, 
Padroeira do Brasil, a vós recorro,
Que deis à nossa Pátria o Bom Socorro
De vosso puro amor, ó Mãe querida!

Senhora do Sagrado Coração,
Da Salette, do Vale, do Rocio,
De Fátima, da Luz, em vós confio,
Não deixeis de escutar minha oração.

Mãe das Graças, das Dores, da Abadia, 
Da Ajuda, das Mercês, Auxiliadora, 
Da Guarda, de Sião, Libertadora, 
Sede sempre dos homens a valia. 

Das Angústias, do Ó, da Candelária,
Do Desterro, da Paz, da Soledade,
De Bolonha, de Puy, da Piedade,
Valei-nos, doce Virgem de Bonária.

Senhora de Lujan, do Bom Conselho,
Do Brasil, da Cabeça, da Esperança,
Temos em vós inteira confiança,
Ó Virgem, da justiça puro espelho!

Da Virgem de Collell a aparição
Ao amor de Maria nos incita,
Porém por qualquer título palpita
Nosso Peito de amor e gratidão.

Do Perpétuo Socorro vos chamamos, 
De Loreto, do Mar, da Providência, 
Porém nunca será vossa clemência
Assaz louvada, ó Mãe que muito amamos.

Ó Senhora da Penha, Mãe bendita. 
De Czestochowska ó Mãe maravilhosa, 
Rainha terna e boa, linda Rosa,
De o inimigo vencer dai-nos a dita.

Ó de Lourdes Senhora Imaculada,
Neste ano de vosso centenário, 
Ano santo mariano extraordinário, 
Protegei tanta vida maltratada.

Que brilhe a caridade, a segurança, 
A justiça, o bom senso, o pundonor;
Que voltem para Deus, nosso Senhor, 
Reinando a paz, a mútua confiança.

Se dos títulos mil que nós vos damos
Vos comprazeis, Senhora das Batalhas, 
Do domínio do mal cortando as malhas.
A Rússia convertei, vos suplicamos.

Minha Nossa Senhora das Vitórias, 
De Montserrat ó Virgem sempre amada, 
De Kevelaer, das Neves, da Estrada, 
Que no céu celebremos vossas glórias!

Minha Nossa Senhora do Rosário, 
De Guadalupe ó Mãe, Nossa Senhora,
Não deixeis de atender quem vos implora, 
No sofrer do seu hórrido Calvário!

O vosso amor, a vossa proteção,
Eu canto neste livro, agradecida, 
Mas canto sobretudo, embevecida, 
A vossa Imaculada Conceição.

Ave, Maria, 
Nívea cecém,
Ave, Jesus, 
Para sempre. Amém.

fonte: Maria e seus gloriosos títulos

sábado, 30 de novembro de 2013

A decência dos vestidos



São Paulo quer que as mulheres cristãs (o que há de entender-se também dos homens) se vistam segundo as regras de decência, deixando de todo o excesso e imodéstia em seus ornatos. Ora, a decência dos vestidos e ornatos depende da matéria, da forma e do asseio. 
O asseio deve ser geral e contínuo, de sorte que evitemos toda mancha ou coisa semelhante que possa ofender os olhos; esta limpeza exterior considera-se como um indício da pureza da alma, a ponto de o mesmo Deus exigir dos seus ministros dos altares uma pureza e honestidade perfeita ao corpo. 
No tocante à matéria e à forma dos vestidos, a decência só se pode determinar com relação às circunstâncias do tempo, da época, dos estados ou vocações,  da sociedade em que se vive e das ocasiões. É um uso geral vestir-se melhor nos dias de festa, à proporção de sua solenidade, ao passo que no tempo da penitência, como na Quaresma, se escusa muita coisa. Os dias de casamento e os de luto tem igualmente grande diferença e regras peculiares. Achando-se na corte de um príncipe, o vestuário terá mais dignidade e esplendor do que quando se está em casa. Uma mulher pode e deve se enfeitar melhor quando está com seu marido, sabendo que ele o deseja; mas, se o fizesse em sua ausência, haveria de perguntar-se a quem quererá agradar com isso. Às moças se concedem mais adornos, porque podem desejar agradar, contanto que suas intenções sejam de ganhar um só coração para o casamento legítimo. O mesmo se há de dizer das viúvas que estão pensando em novas núpcias, contanto que não queiram imitar em tudo as jovens, porque, depois de ter passado pelo estado matrimonial e pelos  desgostos da viuvez, pensa-se que devem ser mais sóbrias e moderadas. Para aquelas que são verdadeiras viúvas, como diz o apóstolo, i. é, aquelas que possuem no coração as virtudes da viuvez, nenhum adorno convém além de um ou outro, conforme à humildade, modéstia ou devoção; se querem, pois, dar amor aos homens, não são verdadeiras viúvas e, se não o querem dar, porque atrair a si os olhares? Ri-se sempre dos velhos que se querem fazer de bonitos: é esta uma fraqueza que mesmo o mundo só perdoa na mocidade. 
Conserva um asseio esmerado, Filotéia, e nada permitas em ti rasgado ou desarranjado. É um desprezo das pessoas com quem se convive andar no meio delas com roupas que as podem desgostar; mas guarda-te cuidadosamente das vaidades e afetações, das curiosidades e das modas levianas. Observa as regras da simplicidade e modéstia, que são indubitavelmente o mais precioso ornato da beleza e a melhor escusa  da fealdade. São Pedro e São Paulo proíbem em especial às moças esses penteados extravagantes. Os homens de tão pouco caráter, que se divertem com essas coisas de sensualidade e vaidade, tão tidos por toda parte na conta de espíritos efeminados. Diz-se que não se tem má intenção nessas coisas, mas eu replico, como fiz outras vezes, que o demônio sempre tem. Para mim eu desejava que uma pessoa devota fosse sempre a mais bem vestida duma reunião, mas a menos pomposa e afetada, e que fosse ornada, como se lê nos provérbios, de graça, de decência e dignidade. São Luís resume tudo isso numa palavra, dizendo que cada um deve vestir-se segundo o seu estado; de modo que as pessoas prudentes e a gente de bem não possam achar exagero algum e os jovens nenhuma falta de ornato e decência; e no caso em que os jovens se deem por contentes, é preciso seguir o conselho das pessoas prudentes. 

São Francisco de Sales

A humildade interior é a mais perfeita

Desejarás, Filotéia, que te introduza ainda mais na prática da humildade; este desejo merece o meu aplauso e eu o quero satisfazer; pois, no que tenho dito até agora, há mais prudência que humildade. 
Encontram-se pessoas que nunca querem prestar atenção às graças particulares que Deus lhes faz, temerosas que seu coração, enchendo-se duma vã complacência, não dê toda a glória a Deus. É um falso temor e um verdadeiro erro. 
Pois, desde que a consideração dos benefícios de Deus é um meio eficacíssimo de amá-lo, assim, diz o doutor angélico, quando mais o conhecemos, tanto mais o amamos. Mas, sendo nosso coração mais sensível às graças particulares que aos benefícios gerais, é exatamente sobre aquelas graças que devemos refletir. 
Nada é tão próprio para nos humilhar ante a misericórdia de Deus que a multidão de suas graças e a multidão dos nossos pecados ante a sua justiça. Consideremos, com muita atenção, o que Deus fez por nós e o que nós fizemos contra ele. Ao passo que examinamos também as graças que Deus nos concedeu, e já não há que temer que este conhecimento nos ensoberbeça, se refletirmos que não temos nada de bom em nós. Porventura as bestas de carga não permanecem animais grosseiros e brutos, embora caminhem carregados de trastes preciosos e perfumados dum príncipe?
Que temos nós de bom, que não tenhamos recebido? E, se o temos recebido, por que nos gloriamos disso?
Ao contrário, a viva consideração das  graças de Deus nos torna humildes, porque o conhecimento dum benefício produz naturalmente o seu reconhecimento; e, se esta consideração excitar em nós alguma complacência de vaidade, temos um remédio infalível, contra este mal, na lembrança de nossas ingratidões, imperfeições e misérias. Sim, se considerarmos o que fizermos, quando Deus não estava conosco, havemos de conhecer que o que fazemos, quando ele está conosco, não provém de nossa indústria e diligência. 
Na verdade, regozijar-nos-emos do bem que ele em nós e nós memos nos regozijaremos, porque somos nós que o possuímos; mas toda a glória é devida unicamente a Deus, que é o seu autor. 
Assim a SS. Virgem confessou publicamente que Deus tinha operado nela grandes coisas e fez isso ao mesmo tempo para se humilhar e para dar glória a Deus. Minha alma, diz ela, glorifica o Senhor; porque tem operado em mim grandes coisas.
Muitas vezes dizemos que nada somos, que somos a mesma miséria e, como diz São Paulo, o lixo do mundo; mas muito nos melindraríamos se nos compreendessem verbalmente e nos tratassem quais dizemos ser. 
Pelo contrário, outras vezes fugimos para que nos venham atrás, escondemo-nos para que nos procurem, damos mostras de querer o último lugar, para que nos levem com muita manifestação de honra ao primeiro. O verdadeiro humilde não quer parecer que o é e nunca fala de si mesmo; a humildade, pois, não só procura esconder as outras virtudes, mas ainda mais a si mesma e, se a dissimulação, a mentira, o mau exemplo fossem coisas lícitas, ela cometeria atos de soberba e ambição, para esconder-se mesmo debaixo das capas do orgulho e subtrair-se mais seguramente ao conhecimento dos homens.
Fica aqui o meu conselho, Filotéia, ou nunca falemos de nós com termos de humildade, ou conformemos com eles os nossos pensamentos, pelo usentimento interior duma verdadeira humildade. Nunca abaixemos os olhos, sem humilharmos o coração; nunca procuremos o últimos lugar, sem que de bom grado e sinceramente o queiramos tomar. Esta regra é tão geral que não se pode abrir exceção alguma. 
Unicamente acrescento que a civilidade requer às vezes que ofereçamos certas honrar a pessoas que certamente não as hão de aceitar, e que isso não é dobrez nem humildade falsa, porque esta deferência é um simples modo de os honrar; e, conquanto não se lhes possa ceder toda a honra, não tem nada de mal que se lhe ofereça. Digo o mesmo de certas expressões de acatamento que não são inteiramente segundo as regras rigorosas das verdades, mas também não lhes são contrárias, contanto que se tenha um desejo sincero de honrar as pessoas com quem se fala; pois, ainda que haja um certo excesso nessas expressões, não andamos mal se as empregarmos segundo o uso geral, como as recebem e entendem. Desejaria, contudo, que se conformassem o mais possível as palavras com as intenções, para que em nada se afastem da simplicidade do coração e exatidão da sinceridade. 
O homem verdadeiramente humilde gostará mais que os outros digam dele que é um miserável, que nada é e nada vale, do que se o dizer por si mesmo; ao menos, se sabe que falam assim dele, sofre com paciência e, como está persuadido que é verdade o que dizem, facilmente se conforma com esses juízos, aliás iguais aos seus. 
Dizem muitos que deixam a oração mental para os perfeitos e que se acham indignos de fazê-la; outros protestam que não comungam muitas vezes, porque não se sentem com a pureza da alma requerida; outros ainda dizem que temem profanar a devoção, habituando-se a ela, por causa de suas misérias e fragilidades; muitos outros, por fim, recusam empregar os seus talentos no serviço de Deus e salvação do próximo, porque, conhecendo a sua fraqueza, dizem eles, temem que o orgulho se aproveite do bem de que seriam os instrumentos e assim, enquanto iluminam a outros, venham eles mesmos a perder-se. Tudo isso não passa dum artifício de humildade não só falsa, mas até maligna, porque se servem dela para desprezar de um modo sutil e oculto as coisas de Deus ou esconder melhor sob pretextos de humildade o seu amor-próprio, a sua própria vontade, o seu mau humor e preguiça. 
Pede ao Senhor teu Deus para ti algum sinal que chegue ao profundo do inferno ou ao mais alto do céu, disse o profeta Isaías ao ímpio Acás e este respondeu: Não pedirei tal, nem tentarei ao Senhor.
- Ó perversidade! Finge grande reverência para com Deus e sob esse pretexto de humildade rejeita uma graça que a Bondade divina lhe queira dar. E não sabia ele que, quando Deus nos quer conceder uma graça, é um ato de orgulho recusá-la, que esses dons por sua própria natureza nos obrigam a aceitá-los e que a humildade consiste em conformar-se o mais possível com a vontade divina? Ora, Deus deseja sumamente que sejamos perfeitos, para nos unir a ele pela imitação mais exata possível de sua santidade. O soberbo que se fia em si mesmo muita razão tem para não se atrever a intentar coisa alguma; mas o humilde é tanto mais animoso quanto mais impotente se vê, e se torna tanto mais resoluto quanto mais o desprezo de si mesmo o faz parecer pequeno a seus olhos, porque ele deposita toda a sua confiança em Deus, que se compraz em magnificar a sua onipotência em nossa fraqueza e a sua misericórdia em nossa miséria. É, pois, necessário empreender com uma humildade corajosa tudo quanto os que nos guiam julgam útil ao nosso adiantamento.
Pensar que se sabe o que se ignora é uma loucura manifesta; fazer-se de sábio em matéria ignorada é uma vaidade insuportável. Eu para mim nem queria fazer-me sábio nem de ignorante. Se a caridade o exige, cumpre ajudar o próximo com bondade e doçura em tudo o que é necessário para a sua instrução e consolação; pois a humildade, que esconde as virtudes, para as conservar, também as deixa aparecer, se a caridade o exige, para as exercer e aperfeiçoar. Neste ponto, pode-se comparar a humildade às árvores das ilhas de Tilos, que de noite conservam muito vivo, e só as abrem ao nascer do sol; o que faz os habitantes da ilha dizerem que estas flores dormem de noite. Com efeito, a humildade esconde as virtudes e as boas qualidades e só as mostra pela caridade, que, não sendo uma virtude humana e mortal, mas celeste e divina e o sol das virtudes, deve sempre dominar sobre todas; de  sorte que, se a humildade prejudica a caridade em alguma coisa, é, sem dúvida, uma humildade falsa. 
Quanto a mim, não quisera fazer-me de louco, nem de prudente, porque, se a humildade me impede de fazer-me prudente, a sinceridade e a simplicidade me devem impedir de fazer-me de louco; se a vaidade é contrária à humildade, o fingimento e o ardil são contrários à simplicidade e à candura da alma. Se alguns servos de Deus se fingiram loucos, para serem desprezados, é preciso admirá-los e não imitá-los, porque os motivos que os levaram a esses excessos foram neles tão extraordinários e adaptados às suas disposições particulares, que ninguém pode tirar daí uma consequência para a sua vida. No tocante à ação de Davis, dançando e saltando ante a arca da aliança um pouco mais do que era decente, sua intenção não foi fazer-se de louco; abandonou-se simplesmente e sem fingimento ao instinto e impetuosidade de sua alegria, de que o Espírito de Deus lhe inundava o coração. É verdade que, quando Micol, sua mulher, o repreendeu, como tendo feito uma loucura, ele não se alterou e assegurava, ainda tomado dessa alegria espiritual, que de boa vontade recebia este desprezo, para a glória de Deus. Assim, se, por ações que tem um cunho ingênuo de verdadeira devoção, todo o mundo te tiver na conta de vil, abjeto ou extravagante, a humildade te fará achar alegria neste opróbrio precioso, cujo princípio e causa não és tu que o sofrerás, mas aquele donde ele vier. 

São Francisco de Sales