Quando Jesus andava neste mundo, seu proceder foi inteiramente excepcional. Filho de mãe pobre, de nome Maria, desposada com um modesto carpinteiro, chamado José, não frequentou aulas. Aos trinta anos de idade começou repentinamente, sem preparação alguma, confiando unicamente em si mesmo, a pregar uma nova doutrina, dizendo-se Filho de Deus vivo. Jamais mortal algum, antes ou depois de Jesus, se lembrou de proclamar-se Deus. E ele provou a sua divindade, sua missão e doutrina com inúmeros milagres, cada qual mais estupendo. Enfim pôs remate a todos: ressuscitou ao terceiro dia como claramente predissera.
Para provar ainda mais sua divindade e, por conseguinte, a de sua doutrina, de sua obra e de seu reino, escolheu pescadores, simples pescadores ignorantes, para fundar um reino acima de todos os reinos: são baldos de toda instrução superior, sem jurisprudência, sem filosofia, sem diplomacia, sem estratégia; falta-lhes tudo: dinheiro, recursos, exércitos, simplesmente tudo.
Assim começaram a loucura da pregação, contrariando em tudo as inclinações humanas, declarando guerra a soberba, ao luxo, a riqueza, a sensualidade, ao gozo e a liberdade desenfreada, a tudo que o homem por natureza estima; eles declaram guerra sem tréguas a todas as religiões pagãs, a todos os deuses, que não são o Deus deles e dali a todas as instituições pagãs, a todos os sacerdotes pagãos, a todos os governos pagãos.
E milagre dos milagres: eles venceram e estão vencendo ainda.
O que parecia loucura rematada, revela-se sabedoria e poder divino, avança, derruba, triunfa.
Contra os doze pescadores desarmados, ignorantes, as legiões romanas, jamais vencidas, se põem em movimento, marcham, desembainham os gládios luzentes e afiados. Agora, porém, se lhe opõe outro exército, capitaneado por pescadores, composto de gente inocua: homens e jovens sem armas, que nem querem defender-se, mas preferem oferecer sem resistência alguma os seus pescoços desnudados, para que sejam cortados; mulheres fracas, donzelas tímidas, até crianças.
Será possível que soldados briosos, que comandantes invictos se aviltem ao ponto de enodar, sujar as suas espadas com sangue de gente pacata, inerme, até de mulheres e crianças? Sim. Fizeram-no!
O sangue inocente, inocuo, corre a rios, embebendo a terra: a espada romana fica desprezada, pois ficou manchada de sangue imbele: a águia romana torna a ser simples ave de rapina, de garras sujas, manchada de sangue fraco, mas desprezível que o abutre, o urubu.
Após três séculos de luta inglória para os romanos, a cruz é plantada sobre o frotispicio do Capitolio de Roma: Júpiter destronado jaz esmagado por terra, ainda úmida do sangue dos mártires da fé.
Os pescadores venceram, imolando o seu próprio sangue.
Assim se fundou o cristianismo, continuou pelos séculos, assim hoje ainda é: haja visto o México, a Hungria, a Turquia, a Rússia, a China: em breve seguirão outros países.
Eis o maior milagre de Cristo Deus: a fundação e extensão de sua Igreja.
A vitória de Jesus continua, é a vitória dos mártires da fé.
Após dezenove séculos (vinte e um) Jesus ainda vence até no sexo fraco: o corpo débil, tenro, duma criança inocente jaz morto por terra, ainda verte sangue, mas a vontade ficou firme, inabalável, não se dobrou, mas triunfou da ferocidade satânica; foi assim no tempo dos Cesares, e assim é hoje com Calles, Lenines, Trotzkys, Bela Kuns, Stalins e outros demônios em carne humana.
O corpo sucumbe, mas a vontade, a alma venceu, apesar de atrocidades inauditas. A doutrina de Cristo é sublime e sem comparação: é divina.
A sua verdade fulge e brilha para esclarecimento dos bem intencionados, ofuscando os olhos do espírito aos demais, que não querem o triunfo da virtude.
Só Deus pode proceder e vencer assim.
F.I. Westerveld, O.F.M - 1930
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