Documento Pontifício- Papa Pio XII 1959
Sobre a realeza de Maria
Com razão acreditou sempre o povo fiel, já nos séculos passados, que a Mulher, de quem nasceu o Filho do Altíssimo - o qual "reinará eternamente na casa de Jacob" (será) ' Príncipe da Paz', 'Rei dos Reis e Senhor dos Senhores', - recebeu mais que todas as outras criaturas singulares privilégios de graça. E considerando que há estreita relação entre uma mãe e o seu filho, sem dificuldade reconheceu na Mãe de Deus a dignidade real sobre todas as coisas.
Assim, baseando-se nas palavras do Arcanjo São Gabriel, que predisse o Reino eterno do Filho de Maria, e nas de Santa Isabel, que se inclinou diante dela e a saudou como ' Mãe do meu Senhor', compreende-se que já os antigos escritores eclesiásticos chamassem a Maria 'Mãe do Rei' e 'Mãe do meu Senhor', dando claramente a entender que da realeza do Filho derivara para a Mãe certa elevação e preeminência.
Santo Efrém, com grande inspiração poética, põe estas palavras na boca de Maria: 'Erga-me o firmamento nos seus braços, porque eu estou mais honrada do que ele. O céu não foi tua mãe, e fizeste dele seu trono. Ora, quanto mais se deve honrar e venerar a Mãe do Rei, do que o seu trono!' E noutro passo, assim invoca a Maria Santíssima: "... Virgem Augusta e Protetora, Rainha e Senhora, protegei-me à tua sombra, guarda-me, para que Satanás, que semeia ruínas, me não ataque, nem triunfe de mim o iníquo adversário".
A Maria chama São Gregório Nazianzeno " Mãe de todo o universo", "Mãe Virgem, [que] deu à luz o Rei do todo o mundo". Prudêncio diz que a Mãe se maravilha "de ter gerado a Deus não só como homem mas também como Sumo Rei".
E afirmam claramente a dignidade real de Maria aqueles que lhe chamam "Senhora", "Dominadora" e "Rainha".
Já numa homilia atribuída a Orígenes, Maria é chamada por Santa Isabel não só "Mãe do meu Senhor" mas também "Tu, minha Senhora".
O mesmo conceito se pode deduzir dum texto de São Jerônimo, em que expõe o próprio parecer acerca das várias interpretações do nome de Maria: 'Saiba-se que Maria, na língua siríaca, significa Senhora'. Igualmente e com mais decisão, se exprime depois São Pedro Crisólogo: " O nome hebraico Maria traduz-se por 'Domina" em latim: "portanto o anjo chama-lhe Senhora, para livrar do temor de escrava a Mãe do Dominador, a qual nasce e se chama Senhora pelo poder do Filho".
São Epifânio, Bispo de Constantinopla, escreve ao Papa Hormisdas que se deve pedir a conservação da unidade da Igreja " mediante a graça da Trindade Una e Santa e por intercessão de Nossa Senhora, a Santa e Gloriosa Virgem Maria, Mãr de Deus".
Um autor do mesmo tempo dirige-se a Maria Santíssima, sentada à direita de Deus, invocando-a solenemente como " Senhora dos mortais, Santíssima Mãe de Deus".
Santo André Cretense atribui muitas vezes a dignidade real à Virgem Maria; escreve por exemplo: "Leva [ Jesus Cristo ] neste dia da morada terrestre [ para o céu ], como Rainha do gênero humano, a sua Mãe sempre Virgem, em cujo seio, permanecendo Deus, tomou a carne humana". E noutro lugar: " Rainha de todo gênero humano, porque, fiel à significação do seu nome, se encontra acima de tudo quanto não é Deus".
Do mesmo modo se dirige São Germano à humildade da Virgem: " Senta-te, ó Senhora; sendo tu Rainha e mais eminente que todos os reis, pertence-te estar sentada no lugar mais nobre"; e chama-lhe "Senhora de todos aqueles que habitam a terra".
São João Damasceno proclama-a "Rainha, Protetora e Senhora" e também: " Senhora de todas as criaturas; e um antigo escritor da Igreja Ocidental chama-lhe: " Ditosa Rainha", "Rainha eterna junto do Filho Rei", e diz que Ela tem a "nívea cabeça ornada com um diadema de ouro".
Finalmente, Santo Ildefonso de Toledo resume-lhe quase todos os títulos de honra nesta saudação: " Ó minha Senhora, minha Dominadora: tu dominas em mim, ó Mãe do meu Senhor... Senhora entre as escravas, Rainha entre as irmãs".
Recolhendo a lição destes e outros quase inumeráveis testemunhos antigos, chamaram os teólogos à Santíssima Virgem, Rainha de todas as coisas criadas, Rainha do mundo e Senhora do universo.
Por sua vez, os Sumos Pastores da Igreja julgaram obrigação sua aprovar e promover a devoção à celeste Mãe e Rainha com exortação e louvores. Pondo de parte os documentos dos Papas recentes, recordamos que já no século VII o Nosso Predecessor São Martinho I chamou Maria " gloriosa Senhora nossa, sempre Virgem", São Agatão, na carta sinodal enviada aos Padres do sexto Concílio Ecumênico, chamou-lhe " Senhora nossa, verdadeiramente e com propriedade Mãe de Deus"; e no século oitavo, Gregório II, em carta ao Patriarca São Germano, que foi lida entre as aclamações dos Padres do sétimo Concílio Ecumênico, proclamava Maria "Senhora de todos e verdadeira Mãe de Deus" e "Senhora de todos os Cristãos".
Apraz-nos recordar também que o Nosso Predecessor de imortal memória Sixto IV, querendo favorecer a doutrina da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem, começa as Letras Apostólicas Cum praeexcelsa chamando precisamente a Maria " Rainha sempre vigilante, a interceder junto do Rei, que Ela gerou".
Do mesmo modo Bento XIV, nas Letras Apostólicas Gloriosae Dominae, chama a Maria " Rainha do céu e da terra", afirmando que o Sumo Rei lhe confiou, em certo modo, o seu próprio império.
Por isso, Santo Afonso de Ligório, tende presente todos os testemunhos dos séculos precedentes, pode escrever com a maior devoção: " Porque a Virgem Maria foi elevada até ser Mãe do Rei dos Reis, com justa razão a distingue a Igreja com o título de Rainha".
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