sábado, 28 de setembro de 2013

O Protestantismo

São compreendidas debaixo deste nome as centenas de seitas protestantes, como os Luteranos, Calvinistas, Remonstrantes, Contraremonstrantes, Batistas, Anabatistas, Metodistas, Pentecostes, etc., etc., que não vale a pena enumerar todas. Não quero falar do fundador, Lutero, que, primeiro frade agostiniano, depois de ingresso se juntou com uma freira, também ingressa - cada qual com seu igual. Não quero referir-me a sua vida particular, para que ninguém pense que eu tencione rebaixá-lo e com ele os protestantes, embora isso possa servir de argumento. Pois si Deus o tivesse chamado para restabelecer a verdadeira doutrina da Igreja, como dizem os protestantes, conviria a escolha de um homem santo e não de um frade apostata, perjuro, amasiado, revolucionário, etc. - Calemo-nos, pois, de Lutero e contentemo-nos com o exame da doutrina protestante, confrontando-a com a doutrina católica. Para irmos ao amago da questão, inquiramos logo: qual a questão fundamental entre o catolicismo e o protestantismo? 
Muitos autores tratam questão por questão e escrevem grandes volumes. Isto, geralmente, é muito bom, mas nem todos tem o tempo disponível para ler e estudar tudo, e, não obstante, querem ter ideia exata, baseada em argumentos sólidos, irrefutáveis e evidentes. É para estes que escrevo. 
Já provei nos primeiros três capítulos que a Igreja Católica é única, verdadeira Igreja de Cristo. No capítulo presente resta-me mostrar que o fundamento sobre o qual foi construído o edifício protestante está errado e, por conseguinte, errada toda a doutrina protestante, em quanto difere da doutrina católica.

Lutero protestou contra a autoridade do Papa na explicação da religião. Para maior clareza lembre-se o leitor da doutrina católica, explanada nos capítulos passados: Jesus ensinou os apóstolos e mandou-os pregar a sua doutrina a todo o mundo: "Ide e ensina-e todos os povos, etc." - Obrigou o mundo todo a aceitar a doutrina dos apóstolos, dizendo por cima: "Quem crê, será salvo, quem não crê, será condenado", - Jesus prometeu ficar com os seus apóstolos até o fim do mundo: " e eis que estarei convosco, etc." - Mandou o divino Espírito Santo: " e eu rogarei ao Pai que vos mandará outro Consolador, o Espírito da verdade, etc." - Acrescentou: "Assim como meu Pai me enviou, eu vos envio: 'quem vos ouve, a mim me ouve, quem vos despreza, a mim despreza e quem a mim despreza, despreza aquele que me enviou". (Lc 10,16).

Este e outros textos provam a autoridade da Igreja, para ensinar a doutrina revelada por Jesus Cristo. Só a ela cabe a última palavra em questão de fé e de moral. E conforme as palavras claríssimas de Jesus, à sua ordem categórica, todos nós temos que ouvir a Igreja e aceitar a sua decisão, cada vez que haja alguma dúvida sobre artigos de fé. Assim a Igreja procedeu durante todos os séculos, ainda o faz e continuará a fazer até o fim do mundo. Nestas suas decisões ela é assistida pelo divino Espírito Santo, e por Jesus mesmo, como Ele garantiu. É preservada do erro, para que todos possam crer o que ela ensina. Se Jesus não tivesse ficado com a sua Igreja, teria faltado à Sua palavra, à Sua promessa. Quem então nos garantiria ainda a verdade de sua doutrina após tantos séculos? Neste caso Jesus não seria o Filho de Deus, mas um impostor, e toda a religião um logro infernal.

Isto, porém, não pode ser: Jesus se legitimou por muitos meios: pela doutrina, o cumprimento das profecias, a vida santa, por milagres estupendos e pela continuação de sua Igreja. Por isto o divino Espírito Santo e Jesus protegem a Igreja contra todo erro no terreno da fé e da moral.

Lutero protestou contra esta autoridade da Igreja. Segundo ele, toda a doutrina está na Bíblia, e cada um deve haurir da Bília a verdadeira doutrina. - Substituiu, pois, a autoridade da Igreja pelo juízo individual. Rejeitou a autoridade da Igreja, protestando contra ela; dali o nome de protestantismo. Cada um - diz ele - deve achar a verdade na Bíblia. Os  protestantes o fizeram. Aceitaram como única fonte de fé revelada a Bíblia, explicada pela razão individual de cada um.

Qual o resultado? Lisonjeou muito a soberba humana, favoreceu mais ainda certos vícios, em pouco tempo cada um seguia a sua própria cabeça. 
Cada qual achou na Bíblia o que lhe agradava. Acabou entre eles a unidade da fé e de sacramentos. Os anglicanos queriam continuar com a Santa Missa, os outros rejeitaram-na. Cada um era o seu próprio chefe, naturalmente - segundo eles diziam - assistido do Espírito Santo. Em pouco tempo o protestantismo se subdividiu espantosamente. Faltou-lhe a necessária certeza na fé, o que é proveniente do próprio sistema: a razão humana é sujeita ao erro. Sabemos por própria experiência. 

Já os romanos diziam: errare humanum est. Por conseguinte, a explicação da Bília ficava sujeita à razão humana, e por isto ao erro, ao engano. Assim esta parte da religião perdeu seu cunho divino. O que um aceitava como revelado, outro entendia de outro modo, até o contrário e assim por diante, até que enfim... sim, senhores, até que a Bíblia toda perdesse para eles o seu valor divino. A Bíblia, sem a autoridade do Papa, fica sem autoridade revelada. Jesus não deixou escrita nenhuma palavra. A maior parte dos apóstolos também não escreveu. Dois evangelhos são de discípulos dos apóstolos. A Bíblia do Novo Testamento consiste só de fragmentos, de cartas propriamente falando particulares, isto é, escritas para fins particulares, dos atos dos apóstolos e de um compêndio de profecias obscuras, que custa muitíssimo entender. 

Tudo isto estava espalhado e misturado com cartas apócrifas. Quem podia garantir que uma carta ou um evangelho eram escritos com assistência divina? Tanto mais quando dois evangelhos não foram escritos por apóstolos! 

O cristianismo já existia há séculos, e a Bíblia ainda não era joeirada, isto é, não se determinará ainda o canon dos livros inspirados. 

Só após quatro séculos, o Papa mandou examinar os escritos e separar as obras legítimas, e assim nasceu o conjunto da Bíblia do Novo Testamento. Mas com que autoridade? 
Quem nos garante a divina inspiração desta Bíblia, tal qual hoje a temos?
Porque não foram aceitas outras cartas e escritos, que existiam, mas declarados apócrifos?
Talvez alguém responda que há provas para a autenticidade dos livros reconhecidos, por exemplo: pelo evangelho de São João temos Polycarpo, discípulo de São João; e Irineus, bispo de Lyon, que foi discípulo de Polycarpo, escreveu sobre o evangelho que São João compôs. Depois temos Justino e também Santo Inácio, bispo de Antioquia, que só poucos anos após São João morreu em Roma. Replico: Pois não, concedo a autenticidade, pela qual atribuímos a São João a autoria do quarto evangelho, mas isto não é a questão: a questão é saber quem me garante que este livro foi escrito sob influência divina, que é a palavra revelada por Jesus Cristo? De mais a mais só existiam ainda cópias: os manuscritos autografados já tinham deixado de existir há muito tempo.

Quem me garante que tudo isso foi fielmente copiado? Daí, si não aceitamos a autoridade do Papa, só nos resta dizer: adeus, Bíblia revelada! Ou aceitar a autoridade do Papa, transmitida por Jesus Cristo, e receber das mãos desta autoridade a Bíblia como livro escrito com assistência divina ou renunciar a autoridade da Bíblia como palavra revelada de Deus. Outro caminho não há.

Os protestantes, porém, rejeitaram a autoridade do Papa, assim como a Tradição: consequentemente devem também rejeitar a Bíblia como livro revelado. 

Sem o Papa não tem e nunca poderão achar prova alguma da origem divina da Bíblia e, conseguinte, das verdades que ela contém.

A doutrina católica é inteiramente outra. Nós, católicos, aceitamos a inspiração divina da Bíblia, e com isto toda a sua autoridade divina, mas não só a Bíblia: antes e em primeiro lugar aceitamos a Tradição,  que contém toda a doutrina e que desde os tempos dos apóstolos foi comunicada oralmente por toda a parte. Temos como axioma: o que por toda a parte foi ensinado e aceito como revelado por Deus sobre a religião dentro da Igreja, é genuinamente católico. 

Se no decurso dos séculos houve alguma dificuldade, recorria-se ao sucessor de São Pedro, ao Papa de Roma, que decidia a questão,declarando o que foi revelado e o que não o foi -  Roma locuta, causa finita,  depois de Roma ter falado, acabou-se a questão. - Desta tradição uma grande parte foi escrita sob inspiração divina e este livro nós chamamos Bíblia. 

A Tradição é o fundamento: pela Tradição sabemos que São Pedro foi designado e instituído chefe da Igreja - o que depois também foi escrito na Bíblia. - Pela Tradição sabemos que São Pedro morreu em Roma - verdade confirmada pela história eclesiástica e profana, mas que não está na Bíblia, embora seja uma das principais questões; - pela Tradição e não pela Bíblia sabemos que devemos santificar os domingos e não os sábados, etc. A Tradição abrange tudo; a Bíblia, uma grande parte do todo. 

O centro do catolicismo, pois, é o sucessor infalível de São Pedro ou o Papa de Roma. Sem o Papa a Igreja não existiria, teríamos a mesma mixórdia dos protestantes ou pior; sem o Papa, adeus unidade de fé, dos sacramentos, do sacrifício, de tudo!

Protestantes eruditos sabem perfeitamente o que acabo de escrever.

Justamente por isto, os mais eruditos entre eles não falam mais contra o catolicismo. Muitos até se convertem.

Outros há que rejeitam o cristianismo, pois se quisessem continuar a ser cristãos, deveriam ficar católicos e isto lhes custa demais. Preferem seguir o ceticismo, um certo agnosticismo. 

Isto para os eruditos. Para os que não estão a par da ciência ou para os ignorantes na matéria, ainda serve o materialismo, que cientificamente está inteiramente derrubado e teve de fugir de todas as universidades dignas de nome. 

Só os ignorantes, portanto, ainda podem ser protestantes. 

Num país culto, como por exemplo, a Alemanha, não há mais que vinte por cento de protestantes desta ou daquela denominação de seita, que ainda acredita num Deus pessoal, criador do céu e da terra. 

Entre os protestantes alemães não haverá mais cinco por cento que ainda creem na divindade de Jesus, e assim está acabando o protestantismo genuíno na Alemanha, onde nasceu. 

Vejam outro país: a Holanda. Este povo, que parece mais conservador, vai pelo mesmo caminho. Muitos há que ainda se chamam protestantes por costume, ou porque os pais assim se chamavam, mas os crentes na Bíblia, na divindade de Jesus, estão diminuindo cada vez mais. 

O protestantismo não resiste à crítica, à ciência histórica, à lógica: não tem base científica.

Um povo erudito, como é o alemão, não pode aceitar incongruências, sistemas sem fundamento provado e por isso rejeita o protestantismo.

O que na Alemanha fica de pé, são o catolicismo e o judaísmo.

A América do Norte em geral é ainda menos culta que a Alemanha, mas também lá começa a mesma tendência. Nem sequer a metade os protestantes manda batizar as crianças. Lá a religião é muitas vezes como a própria moda. Outra vezes serve de reclame para negócio.

Mas também ainda há gente religiosa entre os protestantes, que tanto mais se agara à sua seita e ajunta dinheiro para propaganda em países, que eles julgam menos civilizados. As igrejas protestantes na América do Norte, porém, com isto se enchem? Pelo contrário, ficam cada vez mais vazias, sempre mais despedaçadas. É para ter dó daqueles coitados, que querem o bem, a religião, e devem ver como a sua religião é mais e mais despedaçada, justamente pela parte erudita dos protestantes. Veem como floresce o catolicismo, como este sempre mais se ergue, se propaga, sempre é mais presado, justamente dos mais eruditos, também dos próprios protestantes: estes catolicismo que aprenderam a odiar e que tem ideias tão errôneas e contraditórias. Do seu lado, no protestantismo, só observam desanimo, discórdia, dissidência, a morte lenta e, por cúmulo da desgraça, o desprezo do mundo científico, partindo este desprezo das próprias fileiras dos homens eruditos que nasceram no protestantismo, e que pelo estudo se viram obrigados a deixá-lo. 
Começou com um grande homem, a que dão o nome de filósofo: Emmanuel Kant. Este ainda conservou durante algum tempo como postulado da razão política - embora contra a ciência do seu cristicismo- uma espécie de religião.
Mais tarde, porém, na sua idade mais avançada, também deixou o pietismo, inventado por ele mesmo. E notemos bem que nunca se ouvir que Emmanuel Kant tenha manifestado aversão ou antipatia contra o protestantismo. Isto mesmo observamos hoje entre os protestantes eruditos da Alemanha, Holanda, etc. Eles não odeiam, não perseguem; pelo contrário, queriam muito que a sua religião vencesse o catolicismo e é com mágoa que são testemunhas da vitória científica do catolicismo. 

Quem, por exemplo, há cem anos, no Norte da Europa estudava a filosofia de Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomé, Dum Scoto, etc.?

E hoje? Hoje por toda parte esta filosofia, que é católica, está avançando, alcança vitória sobre vitória, sempre conquista mais adeptos: venceu o materialismo e está vencendo o ceticismo. Os próprios protestantes o reconheceram, já há muito tempo.
Foram eles mesmos que concederam o prêmio Nobel de filosofia ao Cardeal Mercier, foram e são eles mesmos que convidam, por exemplo, na universidade de Amsterdam filósofos católicos para ensinar a filosofia católica. Já se nomeiam frades e padres para lentes catedráticos nas universidades protestantes, por exemplo: Utrecht e outras. 

Estamos, pois, diante do dilema: ou aceitar o Papa de Roma como chefe da Igreja, sucessor legítimo de São Pedro, investido com toda a autoridade por Jesus mesmo, ou negar toda a nossa fé cristã. 
O meio caminho do protestantismo só serve para embair os retrógrados. Nunca satisfará a um homem que está a par da ciência religiosa.  

fonte: F.I. Westerveld, O.F.M. 1930

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