Edição da Juventude Católica de Lisboa.
1. Este mandamento proíbe o matar injustamente o nosso semelhante, e também o matar-se alguém a si mesmo.
2. Dizemos injustamente, porque há casos em que pode ser lícito o matar alguém, como seria em própria defesa, numa guerra justa ou por sentença de magistrados.
3. Não é somente réu de homicídio aquele que mata com as próprias mãos; também o é quem para ele concorre com ordem, conselho, auxílio, ou de qualquer outro modo.
4. Nunca é permitido o matar-se alguém a si mesmo, por mais infeliz que seja, porque a nossa vida pertence a Deus e só ele tem direito de lhe pôr termo.
5. Aquele que se mata a si expõe-se a maior das desgraças, porque ordinariamente não tem tempo para fazer penitência do seu crime e cai sem remorso na condenação eterna.
6. O matar alguém, chama-se homicídio, o matar-se a si mesmo chama-se suicídio.
7. O suicídio é um crime tão grande, que a Igreja recusa a sepultura cristã aquele que se suicida, quando se sabe ao certo que gozava das suas faculdades.**
8. Desejar a morte a alguém é pecado, quando é por ódio, impaciência, ou outro fim interesseiro e mau.
9. Não é permitido abreviar a vida de alguém com o fim de acabar com seus sofrimentos.
10. Nunca é lícito, nem mesmo a autoridade pública, matar um inocente, ainda que o bem comum o exigisse e que o inocente o consentisse, porque ninguém é senhor da vida.
11. Não nos é lícito desejar a morte a não ser para gozarmos a presença de Deus no céu ou ainda para não o tornar a ofender na terra.
12. Os que se provocam a desafio cometem dois crimes, porque se expõem a si próprios à morte, e procuram matar os outros.
13. As testemunhas dos que se batem em duelo são tão culpadas como aqueles, porque autorizam o duelo com a sua preseça.
14. Diz Nosso Senhor no Evangelho: Tendes ouvido que foi dito: amarás ao teu próximo, e aborrecerás ao teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos tem ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos. Porque se vos não amais senão os que vos amam, que recompensa haves de ter? Não fazem os publicanos também a mesmo? E se vos saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem também assim os Gentios? Sede vos logo perfeitos como também Vosso Pai celestial é perfeito.
15. Este mandamento proíbe também o ódio e a vingança.
Explicação da gravura
16. Na parte superior está representado Caim que acaba de matar a seu irmão Abel. Quando procura fugir, chama-o Deus, censura-lhe o crime cometido, lança-lhe a maldição e o expulsa da sua presença.
A inveja foi que causou este primeiro homicídio.
17. Na parte inferior direita vê-se Architofel que se enforcou na sua casa depois de ter velado Absalão à revolta contra o rei Davi, seu pai com o fim de usurpar o trono.
18. Na parte inferior esquerda estam representados dois homens que se desafiaram. Chega um bom cristão que, interpondo-se, os acalma e lhes mostra a cruz da qual Nosso Senhor os vê e condena o seu procedimento.
** Hoje a Igreja não nega mais sepultura aos suicídas porque depois do advento da ciência psiquiátrica, ela entende que a pessoa pode estar sob o efeito de doença cerebral ou uso de entorpecentes; abrandando assim sua culpabilidade.
Albert (França)
As peregrinações ao Santuário de Nossa Senhora das Ovelhas são célebres em toda a região do norte, e resultaram, diz a lenda, da descoberta, nos arredores da cidade, no século XI, de uma imagem milagrosa de Nossa Senhora, que se acha hoje na capela absidal, e cujo título provém da imagem, que tem uma ovelhinha deitada aos pés da Santíssima Virgem.
As peregrinações a este Santuário são realizadas de 15 de agosto e 8 de setembro.
(Versão do livro "Mille Pèlerinages de Notre-Dame", de I. Couturier de Chefdubois.)
Maria e seus gloriosos títulos - Edéssia Aducci
Mauriac (França)
Situada ao pé de uma colina vulcânica, Mauriac é uma cidade antiga, cuja fundação é atribuída a São Mário, seu padroeiro, apóstolo da alta Auvergne; porém há uma lenda que tende a atribuir a fundação de Mauriac não a São Mário, mas a Santa Teodechilde, filha de Clóvis, que, depois de várias visões sobrenaturais, mandou construir nesse lugar uma capela, onde um círio devia arder permanentemente diante da imagem de Nossa Senhora. A lenda adjunta que essa capela foi construída com materiais provenientes de um templo de Mercúrio, e que Santa Teodechilde doou seus bens aos Monges de São Pedro o Vivo, com a condição de eles cuidarem do Santuário.
Um mosteiro foi construído, por isso, ao lado da capela.
Em 1050 os restos de São Mário, foram enterrados nessa Capela, onde são conservados, como preciosidades, algumas relíquias do Santo, que atraem muitos visitantes.
O título - Nossa Senhora dos Milagres provém dos muitos milagres que Nossa Senhora operou, por meio dessa imagem, a favor de seus filhos.
Sua igreja é um belo edifício do século XIII.
A imagem de Nossa Senhora dos Milagres é muito antiga, tão antiga, sem dúvida, quando o Santuário, e provavelmente é a mesma que Clóvis enviou a sua filha.
Outrora a festa de Nossa Senhora dos Milagres era a 9 de maio, com um ofício litúrgico próprio, dando-lhe um caráter muito particular, e distinguindo-a das outras peregrinações da alta Auvergne.
Depois da Concordata, a peregrinação oficial é realizada no domingo que segue o dia 9 de maio, mas outras peregrinações particulares são realizadas no decorrer do ano.
(Versão do livro "Mille Pèlerinages de Notre-Dame", de I. Couturier de Chefdubois.)
Maria e seus gloriosos títulos - Edéssia Aducci
"Cristão, para melhor compreenderes o que és - disse São João Crisóstomo - "aproxima-te de um sepulcro, contempla o pó, a cinza e os vermes, e chora". Observa como aquele cadáver, de amarelo que é, se vai tornando negro. Não tarda a aparecer por todo o corpo uma penugem branca e repugnante. Sai dela uma matéria pútrida, nasce uma multidão de vermes, que se nutrem das carnes. Às vezes, se associam a estes ratos para devorar aquele corpo, saindo por cima dele, enquanto outros penetram na boca e nas entranhas. Caem em pedaços as faces, os lábios e o cabelo; descarna-se o peito, e em seguida os braços e as pernas. Quando as carnes estiverem todas consumidas, os vermes passam a se devorar uns aos outros, e de todo aquele corpo só resta afinal um esqueleto fétido que com o tempo se desfaz, desarticulando-se os ossos e separando-se a cabeça do tronco.
"Reduzindo como a miúda palha que o vento leva para fora da eira no tempo do estio" (Dn 2,35). Isto é um homem: um pouco de pó que o vento dispersa.
Onde está agora aquele cavalheiro a quem chamavam alma e encanto da conversação? Entra em seu quarto; já não está ali. Visita o seu leito; foi dado a outro. Procura suas roupas, suas armas; outros já se apoderaram de tudo. Se quiseres vê-lo, acerca-te daquela cova onde jaz em podridrão e com a ossada descarnada. Ó meu Deus! A que estado ficou reduzido esse corpo alimentado com tanto mimo, vestido com tanto gala, cercado de tantos amigos? Ó santos, como haveis sido prudentes: pelo amor de Deus - fim único que amastes neste mundo - soubeste mortificar a vossa carne. Agora, os vossos ossos, como preciosas relíquias, são venerados e conservados em urnas de ouro. E vossas belas almas gozam de Deus, esperando o dia final para se unir com vossos corpos gloriosos, que serão companheiros e partícipes da glória sem fim, como o foram na cruz durante a vida. Este é o verdadeiro amor ao corpo mortal: fazê-lo suportar trabalhos, a fim de que seja feliz eternamente, e negar-lhe todo o prazer que o possa lançar para sempre na desdita.
Afetos e súplicas
Eis aqui, meu Deus, a que se reduzirá também este meu corpo, por meio do qual tanto vos tenho ofendido: presa dos vermes e da podridrão! Mas não me aflinjo, Senhor; antes me regozijo de que assim se tenha que corromper e consumir-se a esta carne que me fez perder a vós, meu Sumo Bem. O que me contrista é ter-vos causado tanto desgosto, indo à procura de míseros prazeres. Não quero, porém, desconfiar da vossa misericórdia. Vós esperastes por mim para me perdoar (Is 30,18). E quereis perdoar-me se me arrependo. Sim, arrependo-me, ó Bondade infinita, de todo o meu coração, de vos ter desprezado. Direi com Santa Catarina de Gênova: "Meu Jesus, nunca mais pecarei, nunca mais pecarei". Não quero abusar por mais tempo da vossa paciência.
Não quero esperar, meu amor crucificado, para vos abraçar quando me fordes apresentado pelo confessor na hora da morte. Desde já, vos abraço; desde já, vos recomendo a minha alma. Como esta minha alma tem passado tantos anos sem amar-vos, dai-me luz e força para que vos ame no resto de minha vida. Não esperarei, não, para amar-vos, até que se aproxime a hora derradeira. Desde já, vos abraço e estreito o coração, prometendo jamais vos abandonar.
Ó Virgem Santíssima, uni-me a Jesus Cristo, alcançando-me a graça de não o perder nunca!
Santo Afonso Maria de Ligório - Preparação para a morte.
Deveres dos superiores para com os inferiores
1. Os superiores devem: 1º tratar a seus inferiores com caridade e bom modo; 2º velar pelo seu procedimento; 3º protegê-los e advogar a sua causa, quando o precisem e mereçam; 4º assistir-lhes em suas necessidades; 5º não exigir deles coisa alguma contrária à lei de Deus e da Igreja; 6º finalmente facilitar-lhes todos os meios para desempenharem as suas obrigações religiosas.
2. Os mestres devem em consciência ensinar a seus discípulos doutrinas sãs e ortodoxas.
3. Os amos devem pagar pontualmente o salário a seus criados e servidores.
4. Estas obrigações dos superiores, mestres e amos são fundadas sobre a palavra do próprio Deus dizendo que os superiores, mestres e amos dar-lhe-ão conta das almas dos que lhes foram confiados.
Explicação da gravura
5. A gravura nos apresenta dos exemplos frisantes do modo como os amos hão de cumprir com os seus deveres para com os serviços.
O primeiro é o do centurião do Evangelho representado na parte superior da gravura ajoelhado diante de Jesus. Um dia, narra São Mateus, tendo Jesus entrado em Carfanaum, chegou-se a ele um centurião, fazendo-lhe esta súplica: Senhor, o meu criado jaz em casa doente duma paralisia e padece muito com ela. Respondeu-lhe então Jesus: Eu irei e o curarei. E respondendo o centurião disse: Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; porém manda-o só com a tua palavra, e o meu criado será salvo. Pois também eu sou homem sujeito a outros, e tenho sido dadas às minhas ordens, e digo a um: Vai lá, e ele vai; e a outro: Vem cá, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz. E Jesus ouvindo assim falar, admirou-se, e disse para os que o seguiam: Em verdade os afirmo que não achei tamanha fé em Israel. Digo-vos porém, que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e que se sentarão à mesa com Abraão, e Isaac e Jacó, no reino dos céus; mas que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então disse Jesus ao centurião: Vai, e faça-se segundo tu creste. E naquela mesma hora ficou são o criado.
6. O segundo exemplo é de Santo Elzear, conde de Sabrão na Provença, em França. Está representado na parte inferior a esquerda. Tendo o santo conde feito em regulamento de vida para os serviçais, afixou-o na sala nobre do seu palácio, na qual reunia os seus criados para lhes dar explicações acerca do regularmente e das verdades religiosas. Eis aqui as principais disposições do regulamento: 1º Orar da manhã e à noite; 2º assistir ao santo sacrifício da missa; 3º frequentar os sacramentos; 4º ter grande devoção a Santíssima Virgem e a São José; 5º evitar a ociosidade; 6º evitar os maus companheiros; 7º fugir das disputas, conversas más, etc.
Deveres dos serviçais para com os amos.
7. Os criados estão obrigados: 1º a respeitar os amos; 2º a servi-los com fidelidade e dedicação; 3º a obedecer-lhes em tudo o que não for contrariado a lei de Deus e da Igreja.
Devem os serviçais vê nos amos o próprio Deus, e obedecer-lhes como se fosse a Deus.
8. Na parte inferior direita está representando Eliezer falando com Rebeca. Estando já velho Abraão quis escolher para seu filho uma mulher temente a Deus. Disse pois o seu fiel servo Eliezer: Vai procurar uma esposa para meu filho em minha terra natal e dentre nossa parentela. Tomou Eliezer dez camelos carregados dos ricos presentes e partiu para Haram onde vivera Nacor, irmão de Abraão. Deus quis que chegando à cidade encontrasse a Rebeca, moça tão formosa quanto modesta, filha de Batuel, sobrinho de Abraão. Foi albergar-se Eliezer na casa dela e pediu-a para esposa do filho de seu amo. Batuel respondeu: Deus mesmo determinou tudo isso, toma a Rebeca e leva-a contigo. Eliezer agradeceu ao Senhor, deu a Rebeca vasos de prata e ricos vestidos, fez também presentes a mãe dela e aos irmãos, e partiu com Rebeca que veio a ser esposa de Isaac.
1. Este mandamento obriga também os pais a alguma coisa para com os filhos. Devem os pais: 1º educar os filhos cristãmente com palavras e bom exemplo; 2º procurar-lhes os alimentos e modo de vida; 3º castigá-los em suas faltas sem aspereza nem demasiada severidade.
2. O primeiro dever dos pais é amar a todos os seus filhos igualmente com ternura cristã e sem fraqueza. Devem considerar os filhos com um tesouro que Deus lhes confiou e do qual lhe há de pedir rigorosa conta.
3. Dizemos que os pais devem educar cristãmente os filhos, isto é, devem ensinar-lhes as orações e os principais mistérios da religião; mandá-los à catequese e a uma escola cristã onde recebam uma instrução religiosa; levá-los a amar a Deus e a evitar o pecado; fazer-lhes cumprir as suas obrigações religiosas.
4. Os pais devem procurar aos filhos um modo de vida conforme a sua fortuna e posição, e não devem opôr-se a vocação dos filhos. Não devem desejar para os filhos senão o que Deus quer, como no-lo mostra a resposta de Jesus à mãe dos apóstolos João e Tiago. Um dia, narra o Evangelista São Mateus, se chegou a Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos, adorando-o e pedindo-lhe alguma coisa. Jesus lhe disse: Que queres? Respondeu ela: dize que estes meus dois filhos se assentem no teu reino um a tua direita, e outro a tua esquerda. E respondendo Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber? Disseram-lhe eles: Podemos. Ele lhes disse: Vós, é verdade, haveis de beber o meu cálice; mas pelo que toca a terdes assento à minha mão direita ou à esquerda, não me pertence a mim o dar-vos, mas isso é para aqueles para quem está preparado por meu Pai.
E quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos. Mas Jesus os chamou a si e lhes disse: Sabeis que os Princípes das gentes dominam os seus vassalos e que os que são maiores exercitam o seu poder sobre eles. Não será assim entre vós, mas todo o que quiser ser o maior, este seja o que vos sirva, e o que entre vos quiser ser o primeiro, este seja vosso servo. Assim como o Filho do homem não veio para ser servido mas para servir e para dar a sua vida em redenção por muitos.
5. Quando dizemos que os pais devem castigar os filhos entendemos que os pais devem vigiar o procedimento dos filhos, repreendê-los e castigá-los quando fizerem o mal, sem aspereza e com a única intenção de emendá-los.
6. Pela obrigação do bom exemplo entendemos que o pai e a mãe devem cumprir com os seus deveres religiosos: a oração, a assistência a missa, a frequentação dos sacramentos, e evitar tudo quanto poderia levar os filhos ao pecado, como as blafêmias murmurações, palavras desonestas e mofas contra a religião.
Explicação da gravura
7. Divide- se a gravura em cinco partes. Vemos no meio a Santa Ana ensinando a ler à Santíssima Virgem ainda menina. Vê-se a São Joaquim, pai da Virgem, olhando contemplando-a com parternal ternura.
8. No ângulo superior à direita está representada Branca de Castela ensinando ao seu filho São Luiz de França a orar e dizendo-lhe: Meu Filho, antes quero ver-te morto do que cometer um pecado mortal.
9. No ângulo esquerdo vê-se a um senhor que obriga o filho a pedir perdão a um pobre, que não respeitara.
10. Na parte inferior vemos o sumo sacerdote Heli castigado por Deus por ele não ter castigado os filhos cujo mal comportamento afastava o povo do serviço do Senhor. Os filhos dele, Ofini, e Finés foram mortos numa batalha contra os Filisteus. Recebendo a fatal notícia, o pai caiu e quebrou a cabeça nos degraus do seu sólio.
1. Debaixo do nome de pai e mãe entendem-se ainda compreendidos: 1º todos os superiores eclesiásticos; 2º os princípes e magistrados; 3º os tutores, amos e patrões, os mestres; 4º as pessoas idosas e as de conhecida virtude.
2. Este mandamento nos obriga também a honrar todos os nossos parentes.
3. Para com os superiores eclesiásticos, estamos nós obrigados a amá-los, revenrenciá-los, obedecer-lhes e ajudá-los no exercício do seu santo ministério.
4. Eis aqui o que está escrito dos bispos e dos padres: "Que os sacerdotes que governam bem sejam duplamente honrados, principalmente os que trabalham pregando e instruindo." Os Gálatas deram ao Apóstolo São Paulo tantas provas de estima e respeito que São Paulo diz deles: Sim, afirmo que estavam os Gálatas prontos, se a coisa fosse possível, a vazarem os olhos para nos dar.
5. Devemos contribuir para o sustento dos Padres. São Paulo diz: Qual é o soldado que faz a guerra à sua custa? E no livro do Eclesiástico lê-se: Honrai os sacerdotes, purificai-vos com as oblações oferecidas pelas vossas mãos, dai-lhes a parte de primícias e das vítimas expiatórias, como foi ordenado pela lei.
6. O primeiro superior eclesiástico é o papa, vigário de Jesus Cristo na terra. Os fiéis devem socorrê-lo nas suas necessidades, principalmente agora; porque lhe tiraram injustamente os Estados Pontifícios, e não tem outros recursos senão as esmolas dos fiéis.
7. O dever principal para com os superiores eclesiásticos para os ajudar no seu santo ministério é a oração. Devemos pois rogar por eles a Deus, para que lhes dê as graças necessárias para tão santo e tão difícil ministério como é o de salvar as almas.
8. O quarto mandamento nos manda também honrar os superiores temporais, que são o Rei e os representantes dele.
O Apóstolo São Paulo, na sua epístola aos Romanos, trata largamente daquele dever e nos diz também que devemos rogar por eles.
São Pedro diz: Sede submissos, por amor de Deus, a todo o homem constituído em autoridade, seja ao Rei, como chefe da nação, seja aos governadores ou juízes como seus representantes. Quando os honramos, a Deus honramos.
9. Nunca é permitida a revolta contra a autoridade, porque: 1º Deus o proíbe; 2º a revolta é para a sociedade um manancial de calamidades.
10. Nas eleições, devemos, em consciência, dar o nosso voto por mas dignos, aos que respeitam a Deus, a religião, o direito e todas as liberdades razoáveis e cristãs.
11. Todo o cristão deve amar a sua pátria, trabalhar dar o bem comum, e estar pronto a sacrificar a vida, se for preciso, para a salvação da pátria.
12. Devemos obediência aos superiores em todo o que não seja contrário à lei de Deus.
Explicação da gravura
13. Na parte superior à esquerda vemos o Papa, cercado de bispos e sacerdotes, recebendo-as homenagens dos reis, dos magistrados, dos soldados e do povo.
14. À direita; Vê se um Rei, recebendo também estas homenagens dos seus súditos.
15. No meio da gravura vê-se a Rute trazendo à sua sogra pobre as espigas que recolheu para sustentá-la.
16. Na parte inferior esquerda veem meninos e meninas na aula ouvindo com atenção e respeito aos lições dos seus mestres.
17. À direita vê-se o tremendo castigo de 42 meninos que injuriaram o profeta Eliseu e foram comidos pelos ursos.
1. A palavra honrar significa ter sentimento obsequiosos e de alta estima para com alguém.
2. O pai e a mãe honram-se com o amor, com o respeito, com a obediência e com a assistência.
3. Devemos amar pai e mãe, porque a eles, depois de Deus, devemos a existência e a vida, e porque têm toda a sorte de cuidados para conosco.
4. Honrar pai e mãe com o amor quer dizer que os filhos, com ato interno de benevolência, devem amar a seus pais, os quais nada desejam tanto como serem amados de seus filhos.
5. Honrar os pais com o respeito significa que os filhos devem mostrar em toda a ocasião obsequio e reverência tanto em obrar como em palavras para com seus pais. Respeitar os pais é respeitar a Deus que eles representam.
6. Honrar os pais com a obediência significa que os filhos devem obedecer sempre aos pais em tudo aquilo que não é pecado. Se os pais mandassem alguma coisa contra a lei de Deus ou da Igreja, os filhos não devem obedecer-lhes, porque devemos obedecer antes a Deus do que aos homens.
São Paulo frequentemente recomenda aos filhos a obediência dizendo: Filho, obedecei aos vossos pais, porque isso é justo. E ainda: Filho, obedecei em tudo aos vossos pais, porque isso é agradável a Deus.
7. Honrar os pais com a assistência quer dizer que os filhos devem socorrer aos pais em suas necessidades e doenças, dando-lhes o sustento e o vestuário segundo as suas posses.
8. Honramos também os nossos pais quando imitamos as suas virtudes; com efeito, a maior prova de estima que se pode dar a alguém é querer parecer-se com ele no bem e na virtude.
9. Cumprir todos os nossos deveres para com os pais é uma obrigação de todos os dias, mas principalmente nas doenças graves e perigosas.
Então devemos fazer todas as diligências para que não lhes faltem socorros temporais e espirituais, especialmente a visita do Pároco, para que eles possam receber os sacramentos da Penitência, da Eucaristia e da Extrema-Unção, que todos os cristãos devem receber em perigo de vida.
10. Os deveres dos filhos para com os pais não cessam com a morte destes; devem ainda honrar sua memória, falando bem deles, pagando suas dívidas se as deixaram, encomendando sua alma a Deus e executando fielmente sua última vontade.
11. Aos filhos que honram os seus pais como o manda Deus está prometida uma vida larga e feliz neste mundo e a vida eterna no céu.
12. O quarto mandamento proíbe aos filhos serem ingratos e ímpios para com seus pais e afligi-los por qualquer modo.
A maldição de Deus nesta vida e a reprovação eterna na outra espera aos filhos ingratos.
13. O mais perfeito modelo de obediência que os filhos devem imitar é o Menino Jesus, que foi submisso e obediente a Maria e a José, quando com eles vivia em Nazaré.
Explicação da gravura
14. Divide-se a gravura em três partes. A de cima representa o Menino Jesus ajudando a sua Mãe Santíssima nos trabalhos de casa e de São José no ofício de carpinteiro.
15. Na parte inferior esquerda está representado o Jovem Tobias em presença do arcanjo Rafael curando milagrosamente o seu pai cego, ungindo-lhe os olhos com o fel de peixe que tinha trazido da sua viagem.
16. Na parte inferior direita vê-se a Nosso Senhor Jesus Cristo assistindo a São José nos últimos momentos da sua vida e abraçando-o com respeito e amor.
1. As obras liberais, nas quais o espírito toma mais parte que o corpo, como escrever, ler, ensinar, desenhar, estudar, tocar instrumentos de música, etc., etc., são permitidas nos domingos.
2. São também permitidas as obras que se chamam comuns, como varrer, caçar, pescar, etc.
3. A profanação do domingo é muito nociva à sociedade, e muitas vezes Deus a pune nesta vida com terríveis castigos.
4. O descanso do domingo é muito útil ao nosso corpo, porque assim reparam-se as forças, conserva-se a saúde e prolonga-se a vida.
5. Na lei antiga, a profanação do sábado era castigada com a morte. Por isso, os Fariseus e os Escribas, que buscavam sempre a ocasião de por Jesus em contradição com a lei de Moisés, acusavam-no de violar a lei do sábado, porque fazia milagres nesse dia curando os enfermos. Eis aqui o que nos narram os evangelistas a esse respeito: Num dia de sábado, ia Jesus caminhando, e seus discípulos, que tinham fome, começaram a colher espigas e a comer delas. E vendo isto os Fariseus, lhe disseram: Estão fazendo os teus discípulos o que não é permitido fazer nos sábados. Porém ele lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi quando ele teve fome e os que com ele estavam, como entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição, os quais não era lícito comer nem a ele, nem aos que com ele estavam, mas unicamente aos sacerdotes? Ou não tendes lido na lei que os sacerdotes nos sábados, no templo, quebrantam o sábado e ficam sem pecado? Pois digo-vos que aqui está o que é maior que o templo. E se vós soubesseis o que é: misericórdia quero e não sacrifício, jamais condenareis aos inocentes. E porque o Filho do Homem é senhor até do sábado mesmo. E depois de partir dali veio à sinagoga deles, e aparece um homem que tinha paralisada uma das mãos, e eles, para terem do que o arguir, lhe fizeram esta pergunta: será por ventura lícito curar aos sábados? E ele lhes disse: Que homem haverá por acaso entre vós, que tenha uma ovelha, e se esta lhe cair no sábado em uma cova não lhe lance a mão para dali a tirar? Ora, quanto mais excelente é um homem do que uma ovelha. Logo é lícito fazer bem nos dias de sábado. Então disse para o homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu e lhe foi restituída sã como a outra. Mas os Fariseus saindo dali consultavam contra ele, como o fariam morrer. (Mt 12, 1-14).
Lemos no evangelho de São Lucas: Jesus estava ensinado na sinagoga dos Judeus nos sábados, e eis que veio ali uma mulher, que estava possessa dum espírito imundo que a tinha doente havia dezoito anos, e andava ela encurvada, e não podia absolutamente olhar para cima. Vendo-a Jesus, chamou-a a si e disse-lhe: Mulher, estás livre do teu mal. E pôs sobre ela as mãos, e no mesmo instante ficou direita e glorificava a Deus. Mas entrando a falar o chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus fazia curas em dia de sábado, disse para o povo: Seis dias estão destinados para trabalhar: vinde pois nestes dias a ser curados, e não em dia de sábado. Mas o Senhor respondendo lhe disse: Hipócritas, não desprende cada um de vós nos sábados o seu boi, ou o seu jumento, e não os tira da estrebaria para o levar a beber? Por que razão se não devia livrar deste cativeiro em dia de sábado esta filha de Abraão que Satanás tinha assim presa do modo que vedes havia dezoito anos? E dizendo ele estas palavras, se envergonhavam todos os seus adversários. (Lc 12, 10-17).
Explicação da gravura
6. A lei antiga mandava lapidar os profanadores do sábado. Vê-se na parte superior o suplício de um homem que tinha apanhado lenha no sábado.
7. Na parte inferior esquerda está representado o Senhor com os seus discípulos que, tendo fome, colhem espigas e as comem.
8. Na parte inferior direita vê-se a cura, feita num sábado, do homem que tinha a mão ressequida.
1. Neste mandamento Deus nos ordena não trabalhar em obras servis no domingo, e prestar nesse dia especial culto a Deus.
2. Por obras servis entendemos os trabalhos corporais próprios de servos, oficiais e jornaleiros.
3. Porém são permitidas ao domingo: 1º aquelas obras que são necessárias à vida humana; 2º as que são consagradas ao serviço de Deus; 3º as que se fazem por necessidade grave, com licença dos superiores eclesiásticos, podendo ser.
4. Para guardar os domingos não basta não trabalhar, porque o proibir-nos Deus o trabalhar é para podermos empregar-nos no seu serviço.
5. Devemos santificar os domingos e festas ouvindo missa inteira, como o manda a Santa Madre Igreja. Posto que a Igreja não nos obrigue a outra coisa, contudo ensina-nos e recomenda-nos que nos exercitemos em obras de religião e de piedade.
6. Essas obras são visitar igrejas, ouvir os sermões, principalmente sendo do pároco, assistir às catequeses, e praticar para com o próximo as obras de misericórdia.
7. A palavra domingo significa Dia do Senhor ou consagrado ao Senhor, porque o devemos empregar em dar honra a Deus e a servi-lo.
8. Na lei antiga, o dia consagrado ao Senhor era o sábado, palavra que significa dia de descanso, porque neste dia Deus descansou, tendo nos outros seis criado as criaturas que compõem este universo.
9. Não guardamos nós o sábado, mas sim o domingo, pela autoridade dos Apóstolos que assim o mandaram, e fizeram isso em memória da Ressureição do Senhor que foi ao domingo, e da vinda do Espírito Santo que foi também ao domingo. Neste dia se nos representa pois a Santíssima Trindade em três mistérios: o Pai, na criação; o Filho, na Redenção; o Espírito Santo, na santificação.
10. Além do domingo, estabelecem a Igreja outros dias de festa ou dias santificados, 1º para solenizar alguns mistérios da nossa Redenção que não estão ligados ao domingo, como o dia do Natal, a Ascenção do Senhor, etc., etc., 2º para louvarmos a bondade e poder de Deus, na vitória dos santos; 3º para lhes tributarmos as verdadeiras honras e louvores; 4º para nos exercitarmos a imitar as suas virtudes.
11. Peca-se contra o terceiro mandamento: 1º trabalhando tempo considerável sem grande necessidade; 2º faltando à missa sem causa; 3º passando todo o dia em danças, jogos e divertimentos profanos, ou em uma total ociosidade.
12. Quem trabalha ao domingo por necessidade grave ou por fazer certas obras de caridade, não tem por isso licença de faltar à missa.
13. Não é proibido recrear-se no domingo, com tanto que seja de um modo honesto e moderado; mas devem evitar-se com muito cuidado aqueles divertimentos desonestos e perigosos que são, principalmente para a mocidade, origem de grandes males e pecados.
14. Os que obrigam a trabalhar aos domingos pecam como se eles mesmos trabalhassem, e além disso ficam responsáveis pelo pecado que se comete.
15. Pecam mortalmente os pais ou amos que proíbem aos filhos, criados ou operários a santificação do domingo, ou põem obstáculos a essa santificação.
Explicação da gravura
16. Vê-se nesta gravura o contraste frisante entre os que santificam o domingo e aqueles que o profanam. Os primeiros, deixando os seus trabalhos, dirigem-se ao templo para ouvir a santa Missa. Os segundos passam o dia nas tavernas, escarnecendo os que se dirigem à Igreja. Vê-se na parte inferior uma oficina onde os operários trabalham, desprezando assim o preceito de Deus e dando escândalo ao próximo.
Quão loucos são aqueles que desejam a saúde, não só para não sofrerem, mas para mais poderem servir a Deus, observando as regras, assistindo em comunidade, indo à igreja, recebendo a Sagrada Comunhão, fazendo penitências, trabalhando, ouvindo confissões e pregando! Mas, pergunto eu, porque desejais vós fazer essas coisas?
Para agradar a Deus? Para que procurais vós agradar-Lhe nessas coisas, quando conheceis que lhe não é agradável a prática de vossas ordinárias devoções, comunhões, penitências, estudos ou sermões; mas sim que suporteis com paciência as dores e enfermidades que Ele foi servido mandar-vos? Uni, pois, vossos padecimentos aos de Jesus Cristo. "Porém, é-me penoso ser inútil e pesado à comunidade". Conformai-vos com a vontade de Deus, e persuadi-vos que vossos superiores estão resignados a ela, vendo que servis de peso à comunidade, é pela vontade de Deus, e não por preguiça vossa. Vossos desejos e mortificações não procedem do amor de Deus, mas sim do amor próprio, que procura pretextos para se desviar da vontade divina. Se desejarmos agradar a Deus, quando nos acharmos doentes e de cama, basta repetir estas palavras: "Senhor, seja feita a vossa vontade", por cujas palavras agradaremos mais a Deus que por todas as devoções e mortificações que nos seja possível oferecer. Não há melhor caminho no serviço de Deus do que aquele que nos conduza a abraçar a Sua vontade com alegria. O venerável Padre Ávila (Epist. 2) escreveu a um sacerdote que estava enfermo: "Amigo, não vos inquieteis com o bem que poderíeis fazer, se estivésseis bom, mas contentai-vos de continuar doente todo o tempo que Deus quiser. Se procurais a vontade de Deus, indiferente vos deve ser o estar mal ou bem de saúde". E certamente assim o podia dizer, porque as nossas obras não glorificam a Deus, mas sim a nossa resignação e conformidade à Sua santíssima vontade.
Daqui diz também São Francisco de Sales, que Deus é mais bem servido por nossos padecimentos do que por nossas fadigas.
Em muitas ocasiões os médicos ou remédios faltam, ou o médico não percebe a moléstia. Em tal caso devemos unir-nos à vontade divina, que tudo isto dispõe para nosso maior bem. Conta-se de um devoto de São Tomás de Cantuária (L. 5. O. 1.) que estando doente fora à sepultura do santo para recuperar a saúde. Melhorou, pois, e voltou ao seu país; porém, pensou, então, consigo mesmo: "Se a minha enfermidade fosse vantajosa para a minha salvação, que uso poderei fazer da saúde?". Neste pensamento, voltou ao sepulcro do santo, e lhe suplicou que rogasse a Deus para que lhe concedesse o que melhor contribuísse para a sua salvação; depois do que, recaiu com a mesma doença, e ficou perfeitamente satisfeito, persuadindo-se que Deus o aflingia para seu maior bem. Súrio relata o mesmo de um cego, que tinha recobrado a vista pela intercessão de São Vedasto, bispo; mas que depois pediu que se a vista não lhe era proveitosa à alma, queria tornar a ser cego, como antes. Portanto, ou estejamos enfermos ou sãos, não devemos pedir nem a saúde nem a moléstia, porém entregarmo-nos inteiramente à divina vontade de Deus, que é quem dispõe de nós como lhe apraz. Mas, se pedir-mos a saúde, seja ao menos pedida com resignação e expressa condição de que a saúde do corpo não seja prejudicial à salvação da alma, de outro modo nossa súplica seria defeituosa, e não seria ouvida, porque Deus só ouve aquelas súplicas que são acompanhadas de resignação.
Santo Afonso Mª de Ligório - Ed. Biblioteca Católica
1. Um voto é uma promessa feita a Deus com deliberação, e de coisa que seja melhor bem.
2. Há de ser promessa, porque uma simples resolução de fazer uma coisa não é promessa nem voto.
3. Há de ser feita a Deus, porque somente a Deus é que se dirigem os votos. Todavia os votos feitos aos Santos são também votos e obrigam; porque essas promessas são feitas a Deus em honra daqueles Santos.
4. A promessa há de ser com deliberação, porque promessas feitas sem consideração não obrigam; são palavras loucas.
5. O voto há de ser promessa de melhor bem, porque a matéria do voto há de ser de coisa que seja mais agradável a Deus o fazê-la, do que deixar de a fazer.
6. Estas circunstâncias de o voto ser promessa, e ser considerada, e ser de melhor bem, são essenciais, de modo que faltando algumas delas, já não é voto.
7. Os votos feitos com estas cirscunstâncias por pessoa idonêa obrigam em consciência e é pecado faltar a eles, pecado sendo o leve ou grave segundo a matéria do voto.
8. Podemos pecar contra os votos de duas maneiras: 1º assentando em não os cumprir; 2º dilatando por muito tempo e sem causa o seu cumprimento.
9. Quando uma pessoa se acha com impossibilidade de cumprir os votos que fez, deve pedir que lhes comutem ou as dispersem. Esta impossibilidade pode ser total ou parcial. Sendo parcial, deve-se cumprir a parte possível.
10. O voto é pessoal ou real; é pessoal, quando obriga unicamente a pessoa que o fez, como por exemplo o voto de rezar tal ou tal oração; e real nos outros casos, por exemplo, o voto de fazer uma peregrinação, o voto de dar dinheiro aos pobres, o voto de mandar dizer missa, etc.
11. O voto é perpétuo ou temporário; perpétuo quando obriga por toda a vida; temporário, se só por um tempo.
12. O voto de fazer uma coisa já ordenada pela lei de Deus, ou de igreja, ou pelos superiores é válido, porque aumenta a fidelidade e a devoção no cumprimento do dever.
13. Quando se faz voto de fazer uma coisa boa em si, mas com um fim mal e perverso, o voto é nulo, porque a matéria do voto tornou-se má, e não é lícito fazer votos de coisas más.
14. O voto que se faz para castigo de um pecado, por exemplo, o voto de dar uma esmola quando rogarmos pragas, é válido e obrigatório.
15. O Espírito Santo diz: Melhor é não fazer votos, do que fazê-los e não os cumprir.
16. Por justos motivos, obtêm-se da igreja a dispensa ou a comutação dos votos. Pertence isso ao confessor, exceto para certos votos especialmente reservados ao Papa.
17. Ninguém deve obrigar-se por voto sem: 1º ter examinado se poderá cumprir o prometido; 2º sem ter consultado o confessor.
18. Os votos mais perfeitos são os de pobreza voluntária, de castidade e de obediência que fazem os religiosos ou religiosas.
19. Estes votos são reservados ao Papa, assim como os votos das três grandes peregrinações de Santiago de Compostella, de São Pedro de Roma, e de Jerusalém.
Explicação da gravura
20. Na parte inferior esquerda está representado Jefé que acaba de ganhar uma batalha. Fizera o voto imprudente, se fosse vitorioso, de sacrificar a Deus a primeira pessoa que encontrasse, e foi a sua filha. Não a imolou ao Senhor, mas foi votada à virgindade.
21. Na parte superior vemos a Maria Santíssima indo ao tempo de Jerusalém, acompanhada de seus pais, para consagrar a Deus a sua virgindade. Recebem-na ao pé dos degraus o sumo sacerdote, e no alto o velhor Simeão e a profetiza Ana.
22. Na parte inferior direita veem-se marinheiros ajoelhados diante do altar da Virgem. Numa tempestade, fizeram voto de visitar um tempo consagrado a Maria, se escapassem à morte, e estão a cumprir o seu voto.
Felizes de vós, amado leitor, se sempre fazeis outro tanto! A santidade será a consequência, e, tendo passado uma ditosa vida, concluirá com uma não menos ditosa morte. Quando se passa desta para outra vida, a esperança que os que ficam concebem da salvação do que partiu procede do conhecimento de que tenha morrido com resignação. Se abraçarmos todas as vicissitudes da vida como vindas da mão de Deus, e mesmo a morte, com submissão à Sua vontade, por certo que morreremos santos, e seremos salvos. Abandonemo-nos, pois, em tudo, à boa vontade daquele Senhor, que sendo o mais sábio, conhece o que melhor nos convém: e sendo o mais amante, pois que deu a sua vida por nosso amor, quer também o que é melhor por nós. Fiquemos certos e persuadidos, diz São Basílio, de que Deus procura o nosso bem, sem comparação melhor, do que nós o podemos procurar ou desejar. Mas prossigamos e consideremos em que coisas nos devemos unir com a divina vontade.
1º Devemos unir-nos à vontade de Deus nas coisas naturais, como quando faz frio, calor, quando chove; ou em tempo de escassez ou epidemia, e em outros casos iguais. Devemos abster-nos de dizer: "Que intolerável frio, que horroroso calor! Que desagradável estação!". Ou fazermos uso de algumas expressões que mostrem a nossa repugnância para com a vontade de Deus. Devemos querer tudo como é, porque Deus de tudo dispõe. São Francisco de Borja, indo uma noite a um convento da sua ordem enquanto nevava muito, bateu à porta muitas vezes; porém os padres que estavam dormindo não a abriram. Quando amanheceu, muitos deles lastimavam tê-lo feito esperar tanto fora de casa; mas o santo lhes disse "que ele tirara muita consolação durante aquele tempo, pensando que era Deus quem fazia cair os flocos de neve sobre ele".
2º Devemos unir-nos à divina vontade, quando padecemos fome, sede, pobreza, desolação, e desonra. Em todo o caso devemos dizer: "Senhor, tu fazes e desfazes e eu estou contente, desejando unicamente o que tu queres". E o mesmo devemos dizer, diz Rodriguez, naqueles casos imaginários sugeridos por Satanás, na intenção de nos fazer cair em alguma maldade, ou pelo menos nos inquietar. "Se alguém vos dissesse estas e aquelas palavras, ou vos fizesse estas ou aquelas ofensas, que diríeis? Que faríeis?". Devemos responder: "Eu diria e faria o que Deus quisesse", e assim nos livraríamos de toda a falta de inquietação.
3º Se temos algum defeito natural, ou no nosso espírito ou no nosso corpo, como ter pouca memória, inteligência rude, pouca habilidade, falta de algum membro, saúde fraca, não nos lastimemos. Pois que merecimento tínhamos para que Deus nos desse uma alma mais sublime, ou um corpo mais bem organizado? Não podia Ele permitir que nascêssemos na classe dos brutos? Não podia Ele deixar-nos no nosso nada? Demos graça ao Senhor por tudo que sua bondade nos tem concedido, e por tudo que faz. Quem sabe, se tendo nós tido maiores talentos, uma perfeita saúde, um corpo extremamente bem organizado, nos teríamos perdido! A quantos a sua ciência e o seu saber tem sido a origem da soberba e do desprezo como que tratam os outros, e por isso causa da sua perdição? Em tal perigo estão outros muitos, que se adiantem nas ciências e nos talentos. A quantos outros a beleza e suas forças tem sido causa de muitos crimes! E, ao contrário, quantos por serem pobres, enfermos e disformes, na sua figura, se tem salvado, e sido santos? E quantos se fossem ricos, instruídos e de boa presença, se teriam perdido e condenado? Portanto, contentemo-nos com o que Deus nos tem concedido. Não é necessária a beleza, a saúde, nem um engenho agudo, só é necessário o salvar-nos, disse Jesus Cristo.
4º Devemos particularmente ser resignados nas enfermidades corporais, e voluntariamente abraçá-las de maneira e pelo tempo que Deus tenha determinado visitar-nos com elas. Devemos tomar remédio, para restaurarmos a saúde: porque tal é a vontade de Deus: porém, não aproveitando estes, devemos unir-nos à vontade divina, o que nos será de maior vantagem do que a mesma saúde; e devemos dizer em ocasiões tais: "Senhor, eu não desejo a saúde nem a doença, desejo unicamente que a vossa vontade seja feita". É, sem dúvida, grande virtude não lamentar nossas aflições, durante o tempo da dor ou enfermidade; porém, quando estas pesam sobre nós, não nos é vedado descrevê-las a nossos amigos, nem mesmo rogar a Deus que nos livre delas. Falo daquelas dores ou enfermidades que atacam severamente, que muitos há tão insofridos, que pela mais leve indisposição ou fadiga pretendem obter compaixão de todos. O mesmo Jesus Cristo, começando a sua Paixão, deu a conhecer a seus discípulos a sua tribulação: "A minha alma está triste até a morte" (Mt 27,38). E Ele rogou ao seu Eterno Pai que o livrasse dela: "Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice" (Mt 27, 39). Mas o mesmo Jesus nos ensinou que o que devemos fazer depois de tais preces é resignar-nos imediatamente à vontade divina, dizendo: "Não como eu quero, mas como Vós quereis".
Santo Afonso Mª de Ligório - Ed. Biblioteca Católica
Imagem: São Francisco de Borja
1. Dissemos já que quem jurou fazer uma coisa má e cumpre o juramento comete dois pecados: um por ter jurado fazer uma coisa má, outro por cumprir o juramento.
2. Foi o pecado que cometeu Herodes mandando degolar a São João Batista. São Marcos narra assim o fato: Herodes mandou prender e meter em ferros no cárcere a João, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe, com a qual Herodes se tinha criminosamente casado, porque dizia João a Herodes: Não te é lícito ter a mulher de teu irmão. E Herodias lhe andava espreitando alguma ocasião, e o queria fazer morrer, e não podia, porque Herodes temia a João, sabendo que ele era varão justo e santo, e o tinha em custódia, e pelo seu conselho fazia muitas coisas, e o ouvia de boa vontade. Por fim chegou um dia favorável em que Herodes celebrava o dia de seu nascimento, dando um banquete aos grande da sua corte, e aos tribunos, e aos principais da Galileia. E havendo entrado no festim a filha da mesma Herodias, e dançado, e dado a Herodes e aos que com ele estavam à mesa, disse o rei à moça; Pede-me o que quizeres e eu te darei, ainda que seja a metade do meu reino. Tendo ela saído, disse a sua mãe: que eu hei de pedir? E ela respondeu: A cabeça de João Batista. E tornando logo a entrar com grande pressa aonde estava o rei, pediu, dizendo: Quero que sem mais demora me dês num prato a cabeça de João Batista. E o rei se entristeceu, mas por causa do juramento e pelos que com ele estavam ali à mesa: não quis desgostá-la. Mas enviando um dos da sua guarda, lhe mandou trazer a cabela de João num prato. E ele indo o degolou no cárcere, e trouxe a sua cabeça num prato, e a deu à moça, e a moça a deu a sua mãe. O que ouvindo os discípulos de João, vieram, e levaram o seu corpo e o puzeram no sepulcro. (Mc 6,17-29).
3. A blasfêmia é uma palavra injuriosa a Deus ou aos santos.
4. Há duas espécies de blafêmia: blasfêmia herética e blasfêmia simples.
5. A blasfêmia é herética quando na injúria que se fez a Deus se encerram falsidades contrárias ou repugnantes à fé. Isto acontece quando se atribuem a Deus, qualidades que lhe não convém, como a crueldade, a injustiça, etc; ou quando se lhe negam as que lhe convém, como a bondade, a misericórdia, etc.
6. A blasfêmia simples é aquela que não contém nenhuma falsidade repugnante à fé, mas é simplesmente injúria ou desprezo.
7. A blasfêmia é um pecado enormíssimo; é própria dos condenados, e os blasfemadores devem temer toda a sorte de castigos nesta vida e ainda o de morrerem impenitentes.
8. Quando ouvirmos uma blasfêmia devemos nós dar honra a Deus em reparação da blasfêmia e louvá-lo, dizendo, por exemplo: Louvado seja Jesus Cristo.
9. Rogar pragas aos animais é também pecado, porque são criaturas de Deus.
10. As pragas que os pais rogam a seus filhos são maior pecado, porque dão mau exemplo aos filhos e atraem grandes desgraças sobre a sua família.
11. Para emendar-se de rogar pragas podem empregar-se os quatro meios seguintes: 1º considerar os males que causam à sua alma; 2º pedir muito a Deus que dê a graça para a emenda; 3º impor-se a si mesmo alguma penitência para cada vez que rogar pragas; 4º pedir a alguém que o advirta quando rogar pragas.
Explicação da gravura
12. Na parte superior vê-se Herodes sentado à mesa e prometendo com juramento dar à filha de Herodias o que ela pedir.
13. Na parte inferior esquerda, vê-se um homem, que tinha blasfemado, lapidado pelo povo como mandava a lei antiga.
14. Na parte esquerda vê-se o castigo dum homem que tendo rogado pragas aos seus animais, vê um deles levado pelo diabo.
1. Deus, neste mandamento, nos manda honrar seu santo nome e nos proíbe que o profanemos.
2. Podemos honrar o santo nome de Deus de três modos; pronunciando-o com veneração e respeito, louvando-o, e invocando-o em nossas aflições.
3. Profana-se o santo nome de Deus de cinco modos: 1º pela irreverência; 2º pelos maus juramentos; 3º pela blasfêmia; 4º com rogar pragas; 5º com quebrar os votos.
4. O nome de Deus significa aqui a onipotente e sempreterna majestade de Deus uno e trino, o mesmo Deus.
5. Peca-se por irreverência ao santo nome de Deus quando se pronuncia sem respeito ou com desprezo.
6. Jurar é tomar Deus por testemunha do que se afirma ou promete.
7. Quando se jura pelas criaturas, também se toma a Deus por testemunha, porque, como as criaturas são obras de Deus, em certo modo se jura por Deus, quando se jura pelas suas criaturas.
8. Há duas espécies de juramento, o afirmativo e o promissório. Afirmativo é quando tomamos a Deus por testemunha para confirmar um fato presente ou passado. Promissório, quando prometemos com juramento: fazer ou não fazer uma coisa.
9. Este mandamento não proíbe toda a casta de juramento: somente proíbe o jurar em vão.
10. Juramos em vão quando faltamos aos juramentos ou à verdade, ou à justiça, ou ao juízo.
11. Faltamos à verdade nos nossos juramentos, quando sabemos que é falso, ou ao menos duvidamos se é falso isso que juramos. Aqueles que juram sem intenção de cumprir o que prometem, também juram sem verdade, porque mentem, fazendo crer que têm a intenção de cumprir o que prometem, e não têm.
12. Juramos sem justiça quando se juram coisas injustas e más. Quando juramos fazer uma coisa má não estamos obrigados a cumprir o juramento; antes, se o cumprissemos, faríamos um novo pecado.
13. Falta aos nossos juramentos o juízo, quando juramos sem que haja necessidade de jurar, ou por coisas vãs e inúteis.
14. O crime de quem jura falso chama-se perjúrio, e o que jura falso chama-se perjuro.
15. As pragas são uma espécie de juramento, se invocamos o nome de Deus, ou clara, ou indiretamente: de outro modo não o são; mas rogar pragas é sempre pecado, porque as pragas são imprecações sempre contrárias à caridade.
16. O juramento falso é um grande pecado, porque jurando assim fazemos a Deus uma injúria gravíssima, tomando-o por testemunha duma mentira.
17. Fazer juramentos é permitido nas circunstâncias graves, como quando formos chamados em justiça. Então o juramento deve fazer-se com profundo respeito, isto é, com intenção de honrar a Deus como sendo a mesma verdade.
18. Quando prometemos alguma coisa com juramento estamos duplamente obrigados a fazê-lo. Estamos obrigados por justiça, porque é um dever de justiça cumprir o prometido; estamos obrigados por religião, porque é um dever de religião cumprir o que foi prometido com juramento.
Explicação da gravura
19. A parte superior representa a São Pedro no pátio de Caifás, negando a Jesus diante dos soldados e dos criados, afirmando com juramento que não conhecia aquele homem.
20. A parte inferior direita representa Esaú jurando em vão sem necessidade, e cedendo assim o morgadio a Jacó por um prato de lentilhas que este tinha guisado.
21. Na parte inferior esquerda veem-se sete homens crucificados por causa dum juramento violado por Saul, que matou os Gabaonitas contrariamente à promessa e ao juramento de Josué, ao tomar posse da terra de Canaã.