Da oração em geral
Edição da Juventude Católica de Lisboa.
Da oração em geral
5º Mandamento da Igreja: Não comer carne nas sextas-feiras e nos Sábados.¹
1. A Igreja nos manda jejuar na quaresma toda, exceto os domingos, nas quatro temporas, e nas vigílias de algumas festas.
2. O jejuar consiste a comer uma só vez ao dia com abstinência de certas comidas, que são as carnes de animais terrestres e aves de pena, os ovos e laticínios² que são produzidos pelos animais.
3. Nos devemos abster dessas comidas por mortificação, pois são nutritivas e mais gostosas.
4. Comer carne nos dias de jejum, sem causa, é pecado mortal.
5. Dizemos que para jejuar se há de comer uma só vez ao dia, porque a consoada* somente é permitida pelo costume. Podemos comer à consoada coisas de pouca substância e em pequena quantidade.
6. Para comer ovos e laticínios ao jantar em dias de jejum é preciso tomar a Bula da santa Cruzada.
7. O preceito do jejum principia a obrigar a vinte e um anos completos.³
8. A Igreja sendo mãe não quer prejudicar a saúde de seus filhos, e por isso dispensa da obrigação do jejum os que não tem boa saúde ou que tem muito trabalho extraordinário.
9. A quaresma são quarenta dias de jejum e penitência, instituídos pela Igreja, 1º para honrar e imitar o Jejum de Jesus Cristo no deserto; 2º para excitar-nos a fazer penitência; 3º para preparar-nos à celebrar os mistérios da paixão de Cristo; 4º para dispor-nos a comunhão pascal.
10. O jejum das quatro temporas foi instituído: 1º para consagrar pela penitência cada uma das estações do ano; 2º para pedir a Deus a conservação dos frutos da terra; 3º para dar-lhe graças pelos frutos já recebidos; 4º para suplicar-lhe que dê bons ministros à sua Igreja.
11. Foi instituído o jejum das vigílias para que os fiéis se preparem a celebrar mais, devotamente as festas.
12. Nos ordena a Igreja a abstinência em cada semana para nos estimular a viver na penitência e fazer-nos exercitar na mesma, escolheu a sexta-feira em honra da paixão de Jesus Cristo e o sábado em memória da sua sepultura.
13. Principia a obrigar o preceito de não comer carne deste os sete anos completos.
14. Quem está dispensado da abstinência não está dispensado do jejum: são coisas diversas.
15. Nos dias de jejum não se pode comer carne e peixe na mesma comida.
Explicação da gravura
16. Na parte superior da gravura, vê-se a N. S. Jesus Cristo tentado pelo demônio no deserto.
17. À direita, um padre impõe a cinza na cabeça dos fiéis no primeiro dia da Quaresma dizendo: Lembre-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar.
18. À esquerda, nas temporas do verão, está representado a ordenação dos subdiáconos; mais abaixo, nas têmporas do outono, está representada a ordenação dos diáconos; embaixo, nas têmporas do inverno, está representado a imposição das mãos na ordenação dos padres; mais acima, à direita, nas têmporas da primavera, está representada a consagração das mãos na ordenação dos sacerdotes.
19. Na parte superior da gravura à direita vê-se o velho Eleazar a quem querem obrigar a comer carnes proíbidas pela lei.
20. Na parte superior vê-se ainda representado um festim onde se serve carne em dia proíbido. Ao centro vê-se um baile em tempo de quaresma, e mais abaixo o inferno onde se precipitam.
21. No ângulo esquerdo inferior vê-se, profeta Jonas profetizando a ruína de Nínive.
22. No ângulo direito vê-se São João Batista pregando penitência aos Judeus.
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1. A Igreja hoje, após o Concílio Vaticano II mudou um pouco as regras do jejum. Hoje de forma obrigatória ele ( o jejum) só é mandado para a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira Santa. As outras sextas-feiras ou sábados ficam a decisão do fiel para modelar sua devoção.
2. Da mesma forma, a abstinência [em todas as sextas-feiras do ano] hoje se toma para com as carnes de animais de sangue quente, ou seja, bovinos, suínos e aves. Os ovos e laticínios são permitidos mesmo em dias de abstinência, assim como os peixes e frutos do mar.
3. O jejum torna-se obrigatório a partir dos 18 anos e a abstinência a partir dos 14.
*Consoada: leve refeição noturna, sem carne, que se toma em dia de jejum.
P.S.: "Os tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja. Esses tempos são particularmente apropiados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias). CIC 1438
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3º Mandamento da Igreja: Comungar pela Páscoa da Ressureição.
1. Estamos obrigados a este preceito logo que chegamos ao uso da razão e que começamos a conhecer o bem e o mal.
2. Não se satisfaz a este preceito por uma confissão voluntariamente nula, porque a Igreja manda fazer uma confissão válida e frutuosa.
3. Além da confissão anual devemos confessar quando temos devoção de receber a sagrada comunhão; quando nos conhecemos réus de pecado mortal e quando nos achamos em perigo de vida.
4. Não há obrigação de comungar em dia de Páscoa, mas quando nos desobrigamos de Quaresma, segundo o costume do nosso reino.
5. Não podemos comungar em dia de Páscoa ou por desobriga* em qualquer igreja; deve ser em a nossa igreja paroquial, exceto se, com muita causa, o pároco nos der licença para comungar em outra igreja.
6. Grande pecado é deixar uma pessoa de satisfazer ao preceito da comunhão ou a desobriga*, porque é desobedecer à Igreja em matéria grave, desprezar o maior benefício de Deus, e dar escândalo ao próximo.
7. Quando a Igreja nos diz que nos devemos confessar ao menos uma vez no ano, e comungar ao menos na Páscoa de Ressureição quer que entendamos que o seu desejo é que os fiéis se confessem e comunguem mais a miúdo, porque é difícil viver cristãmente se nos confessarmos e comungarmos uma só vez no ano.
Explicação da gravura
8. Na parte superior da gravura, à direita, começa a representação das festas que a Igreja aconselha aos cristãos para santificar pela recepção dos sacramentos da penitência e da Eucaristia.
9. À esquerda, vê-se a Porta da Quaresma que a Igreja abre aos bons cristãos para os preparar por meio da oração e da penitência para a confissão e comunhão pascal. Nem todos os cristãos obedecem ao chamamento da Igreja: muitos preferem os prazeres mundanos ao cumprimento dos deveres religiosos.
10. Acima da porta da Quaresma vê-se um confessionário onde os fiéis recebem o perdão das suas faltas, recuperam a paz da alma e a amizade de Deus. Da cruz Nosso Senhor aplica-lhes os merecimentos de seu sangue e morte. À direita do confessionário veem-se os fiéis cumprindo o preceito da comunhão pascal recebendo com a sagrada Eucaristia o penhor da vida eterna.
11. Na parte inferior da estampa, à direita, veem-se os Israelitas reunidos à mesa para comer o cordeiro pascal. Sobre eles um anjo com uma espada prepara-se para matar os primogênitos dos Egípcios. Assim como os Israelitas que marcaram as suas portas com o sangue do cordeiro pascal e se alimentaram com a sua carne, foram poupados pelo anjo exterminador assim os cristãos que pelo sacramento da penitência purificam as suas almas no sangue de Jesus e que na Eucaristia se alimentam da sua carne, evitarão a morte eterna.
12. Desde o tempo dos apóstolos sempre os cristãos se confessaram. No ângulo esquerdo inferior veem-se cristãos confessando-se a São Paulo.
*Desobriga: cumprimento do preceito da Quaresma.
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São Paulo (Brasil)
Festa a 12 de outubro
No ano de 1717, ao passar por Guaratinguetá o Conde de Assumar, a Câmara notificou aos pescadores que se fizessem ao rio, para pescarem, pois desejavam honrar, com lauta mesa, um tão alto personagem.
Entre outros foram então pescar Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, em suas canoas. Porém, todos, ainda que continuassem até o pôrto de Itaguassu, muito distante do ponto da partida, nada conseguiram.
Desapontados com a inutilidade dos seus esforços, tentam contudo novamente pescar aqui e além, e, lançando João Alves a sua rede de arrasto, tirou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora, sem a cabeça, pelo que lançou outra vez a rede mais abaixo, e tirou a cabeça da mesma imagem, não se tendo sabido nunca quem a tinha lançado ao rio. Não tinham conseguido pegar um só peixe, como já dissemos; porém, continuando a pescaria depois do precioso achado, foi tão copiosa em poucos lanços, que, receosos de naufragarem, voltaram para suas casas assombrados com o que lhes tinha sucedido.
Felipe Pedroso conservou a referida imagem (que o povo chamou logo de Senhora Aparecida) em sua casa durante vários anos, e depois presenteou-a a seu filho Atanásio, que morava em Itaguassu, em cujo porto tinham encontrado a pequenina imagem. Atanásio, inspirado pela sua fé, fez um oratório e colocou num altar a aparecida imagem, e aos sábados, à noite, o povo da vizinhança ali se reunia para rezar o terço e outras devoções.
Em uma dessas rezas, estando a noite serena, apagaram-se repentinamente as velas que alumiavam a imagem de Nossa Senhora, e, querendo alguém acendê-las de novo, vê o povo, com pasmo, que as velas por si sós, sem ninguém lhes tocar, acendem-se de repente!
Foi este o primeiro prodígio, que se repetiu várias vezes, de modo que a notícia do estranho fato chegou ao conhecimento do Vigário de Guaratinguetá, Pe. José Alves Vilela, que, com outros devotos, lhe edificaram uma capelinha; mas essa capelinha logo se tornou pequena, pelo que foi demolida, e, no lugar em que hoje está, edificaram outra maior, que, reformada e aumentada, é a Basílica atual (velha).
A imagem está hoje em um nicho riquíssimo, tendo na cabeça uma coroal real que foi benzida pelo Santo Padre.
Eis por que Nossa Senhora grangeou mais um título em nossa amada pátria: Nossa Senhora Aparecida, por ter uma imagem sua aparecido na rede de um pescador.
Nossa Senhora Aparecida foi proclamada padroeira do Brasil, e terá em breve um santuário condigno na nova basílica que lhe será construída em Aparecida (Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida, SP, Brasil).
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, rogai por nós. (300 dias de indulgência - Pio XI).
Maria e seus gloriosos títulos, Edésia Aducci, editora Lar Católico, 1960, 2ª edição.
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183. De todas as verdades que acabo de descrever em relação à Santíssima Virgem, o Espírito Santo nos apresenta, na Sagrada Escritura (Gn 27), uma figura admirável na história de Jacó, o qual recebeu a bênção de Isaac, graças à solicitude e engenho de sua mãe Rebeca.
Ei-la tal como a conta o Espírito Santo. Em seguida ajuntarei a explicação.
ARTIGO I
Rebeca e Jacó
§I. História de Jacó
184. Esaú vendera a Jacó seu direito de primogenitura. Anos depois, Rebeca, mãe dos dois irmãos, assegurou a Jacó, - que ela amava ternamente -, as vantagens daquele privilégio, empregando, para isto, uma astúcia santa e cheia de mistério. Pois Isaac, sentindo-se extremamente velho, quis, antes de morrer, abençoar seus filhos, e, chamando Esaú, o preferido, ordenou-lhe que fosse caçar algo para ele comer. Depois o abençoaria. Rebeca, prontamente, pôs Jacó ao corrente do que se passava, e disse-lhe que fosse buscar dois cabritos no rebanho. Assim que ele lhos trouxe, ela os preparou do modo que Isaac mais gostava. Em seguida, com as vestes de Esaú, que ela guardava, vestiu Jacó e com as peles dos cabritos envolveu-lhe o pescoço e as mãos, a fim de que Isaac, que não podia ver, acreditasse, tateando-lhe as mãos, que fosse Esaú, embora ouvindo a Voz de Jacó. Isaac, com efeito, ficou surpreso ao ouvir a voz que ele reconhecia como a de Jacó, mas, fazendo-o aproximar-se e tateando-lhe os pelos que cobriam as mãos do filho, murmurou: Em verdade a voz é de Jacó, mas as mãos são de Esaú. E, convencido, comeu. Em seguida, ao beijar Jacó sentiu a fragrância das roupas de Esaú, o que acabou por dissipar-lhe as dúvidas. Abençoou-o, então, e desejou-lhe o orvalho do céu e a fecundidade da terra; estabeleceu-o senhor de todos os seus irmãos; e terminou a bênção com estas palavras: "Aquele que te amaldiçar seja amaldiçoado, e aquele que te abençoar seja cumulado de bênçãos".
Apenas Isaac acabara de falar, entrou Esaú trazendo um guisado da caça que abatera, e o apresentou ao pai, pedindo-lhe que comesse e em seguida o abençoasse. O santo patriarca ficou extremamente surpreendido, ao ficar ciente do engano, mas, longe de retratar o que fizera, confirmou-o, pois reconhecia no fato, evidentemente, o dedo de Deus. Então Esaú, como observa a Sagrada Escritura, gritou com grande clamor, e acusando em altas vozes o embuste de seu irmão, perguntou ao pai se ele não tinha outra bênção. Neste ponto, notam os Santos Padres, ele era a imagem dos que facilmente conciliam Deus com o mundo, querendo gozar ao mesmo tempo as consolações do céu e as da terra, Isaac, comovido pelos gritos de Esaú, abençoou, enfim, mas a bênção que lhe deu foi uma bênção terrena, sujeitando-o ao irmão. Por isso Esaú concebeu um ódio tão profundo contra Jacó que, para matá-lo, só esperava a morte do pai. E Jacó não teria podido evitar a morte, se sua extremosa mãe Rebeca não o protegesse com sua habilidade e os bons conselhos que lhe deu e que ele seguiu.
§ II. Interpretação da história de Jacó
185. Antes de explicar esta história tão bela, é preciso notar que, conforme todos os Santos Padres e intérpretes da Sagrada Escritura, Jacó e figura de Jesus Cristo e dos predestinados, enquanto Esaú é figura dos réprobos; basta, apenas, examinar a atitude de um e de outro para verificá-lo.
1º) Esaú, figura dos réprobos
1º) Esaú, o mais velho, era forte e robusto de corpo, destro e habilidoso no manejo do arco e na arte da caça.
2º) Quase não parava em casa, e, confiante em sua força e destreza, só trabalhava fora, ao ar livre.
3º) Pouco se incomodava de agradar a sua mãe Rebeca, e nada fazia por ela.
4º) Era guloso e gostava tanto de satisfazer o paladar, que chegou a vender seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas.
5º) Estava, como Caim. cheio de inveja de seu irmão Jacó, e o perseguia sem tréguas.
186. Eis a conduta dos réprobos, todos os dias:
1º) Fiam-se em sua força e indústria nos negócios temporais; são muito fortes, muito hábeis e esclarecidos para as coisas da terra, mas extremamente fracos e ignorantes nas coisas do céu: "In terrenis fortes, in caelestibus debiles". Por isso:
187. 2º) Não se demoram ou se demoram muito pouco em sua própria casa, quer dizer no seu interior, que é a casa interior e essencial dada por Deus a cada homem para aí morar, conforme seu exemplo, pois Deus mora sempre em sua casa. Os réprobos não amam o retiro, nem a espiritualidade, nem a devoção interior e chamam de espíritos acanhados, carolas e selvagens aqueles que são espirituais e retirados do mundo, e que trabalham mais no interior do que fora.
188. 3º) Os réprobos não se preocupam de modo algum com a devoção à Santíssima Virgem, a Mãe dos predestinados. É verdade que não a odeiam formalmente, fazem-lhe às vezes um elogio, dizem que a amam, praticam até alguma devoção em sua honra, mas, de resto, não suportariam vê-la amada ternamente, porque não têm para ela as ternuras de Jacó. Acham motivo de censura nas práticas de devoção, a que se entregam os bons filhos e servos da Virgem Santíssima para obter sua afeição, na certeza de que esta devoção lhes é necessária à salvação, e acham mais que, desde que não odeiam formalmente a Santíssima Virgem, e que não desprezam abertamente sua devoção, isso é bastante e já ganharam as boas graças da Santíssima Virgem e são seis servos, ao recitarem ou resmungarem algumas orações em sua honra, sem a menor ternura por ela nem emenda para eles.
189. 4º) Esses réprobos vendem seu direito de primogenitura, isto é, os gozos do paraíso, por um prato de lentilhas, os prazeres da terra. Riem, bebem, comem, divertem-se, jogam, dançam, etc., sem a mínima preocupação, como Esaú, de se tornarem dignos de bênção do Pai celeste. Em três palavras, eles só pensam na terra, só amam a terra, só falam e agem pela terra e pelos prazeres, por uma vã fumaça de honra, e por um pedaço de matéria amarela ou branca, a graça batismal, sua veste de inocência, sua celestial herança.
190. 5º) Os réprobos, finalmente, em segredo ou às claras, odeiam e perseguem diariamente os predestinados. Prejudicam-nos quanto podem, desprezam-nos, roubam-nos, enganam-nos, empobrecem-nos, expulsam-nos, reduzem-nos a pó; enquanto eles mesmos fazem fortuna, gozam seus prazeres, vivem em situação esplêndida, enriquecem, se engrandecem e levam vida folgada.
2º) Jacó, figura dos predestinados
191. 1º) Jacó, o caçula, era de compleição franzina, meigo e sossegado. Permanecia em casa o mais possível, para ganhar as graças de sua mãe Rebeca, que o amava ternamente. Se saía de casa, não o fazia por vontade própria, nem por confiança em sua própria habilidade, mas para obedecer a sua mãe.
192. 2º) Amava e honrava sua mãe: por isso ficava em casa junto dela. Seu maior contentamento era vê-la; evitava tudo que pudesse desagradar-lhe e fazia tudo que imaginava agradar-lhe. Tudo isso concorria para aumentar em Rebeca o amor que dedicava ao filho.
193. 3º) Em todas as coisas ele era submisso a sua mãe, obedecia-lhe inteiramente em tudo, com obediência pronta, sem tardanças, e amorosa, sem queixas; ao menor sinal da vontade materna, o pequeno Jacó corria e trabalhava. Acreditava piamente, sem discutir, em tudo que a mãe lhe dizia: por exemplo, quando Rebeca o mandou buscar os dois cabritos, e ele os trouxe a fim de ela os preparar para Isaac, Jacó não replicou nem observou que bastava um para satisfazer o apetite de um só homem, mas, sem discenir, fez exatamente como ela mandou.
194. 4º) Ele depositava uma confiança sem limites em sua querida mãe; como não contava absolutamente com sua própria experiência, apoiava-se unicamente na proteção e nos desvelos maternos. Chamava por ela em todas as suas necessidades e a consultava em todas as suas dúvidas: por exemplo, quando lhe perguntou se, em vez de bênção, não receberia a maldição de seu pai, creu e confiou na resposta que ela lhe deu de que tomaria sobre si a maldição.
195. 5º) Ele imitava, enfim, na medida de sua capacidade, as virtudes que via em sua mãe; e parece que uma das razões por que ele permanecia em casa, tão sedentário, é que procurava imitar sua virtuosa mãe, e afastar-se de más companhia, que corrompem os costumes. Por tal motivo, tornou-se digno de receber a dupla bênção de seu querido pai.
196. Eis também a conduta diária dos predestinados:
1º) Vivem em casa, sedentariamente, com sua mãe, quer dizer, amam o recolhimento, são interiores, e se aplicam à oração, mas conforme o exemplo e a companhia de sua Mãe, a Santíssima Virgem, cuja glória está toda no interior e que, durante a vida inteira, tanto amou o retirou e a oração. É verdade que aparecem às vezes fora, no mundo; fazem-no, porém, em obediência à vontade de Deus e de sua querida Mãe, para cumprir os deveres de estado. Por grandes coisas que façam no exterior e que apareçam, preferem muito mais as que fazem no interior, em companhia da Santíssima Virgem, porque aí executam a grande obra de sua perfeição, ao lado da qual todas as outras são como brinquedos de criança. Por isso, enquanto que seus irmãos e irmãs trabalham muitas vezes para o exterior com mais entusiasmo, habilidade e sucesso, recebendo os louvores e aprovações do mundo, eles sabem, pela luz do Espírito Santo, que há muito mais glória, bem e prazer em permanecer oculto no reconhecimento com Jesus Cristo, seu modelo, numa submissão inteira e perfeita a sua Mãe, do que em realizar, por si próprio, maravilhas naturais e da graça no mundo, como tantos Esaús e réprobos. "Gloria et divitiae in domo eius" (Sl 111,3) - a glória para Deus e as riquezas para os homens encontram-se na casa de Maria.
Senhor Jesus, quão amáveis são vossos tabernáculos! O pardal encontrou uma casa para se alojar, e a rola, um ninho, onde abrigar seus filhotes. Oh! como é feliz o homem que mora na casa de Maria, na qual fizestes, primeiro, a vossa morada! É nesta casa de predestinados que ele de Vós somente recebe socorro, e em seu coração dispôs subidas e degraus de todas as virtudes, para elevar-se à perfeição neste vale de lágrimas. "Quam dilecta tabernacula..." (Sl 83).
197. 2º) Eles amam ternamente e honram em verdade a Santíssima Virgem, como sua boa Mãe e Senhora. Amam-na não só com a boca, mas verdadeiramente; honram-na não só no exterior, mas no fundo do coração; evitam, como Jacó, tudo que pode desagradar-lhe, e praticam com fervor tudo que creem poder adquirir-lhes sua benevolência. Trazem-lhe e lhe entregam não só dois cabritos como Jacó a Rebeca, mas seu corpo e sua alma, com tudo que do corpo e da alma depende, de que são figura os dois cabritos de Jacó, 1º) para que ela os receba como um dom que lhe pertence; 2º) para que os sacrifique e faça morrer ao pecado e a si próprios, escorchando-os e despojando-os da própria pele de seu amor-próprio, e para agradar, por este meio, a Jesus, seu Filho, que não quer para amigos e discípulos, senão aqueles que estiverem mortos a si mesmos; 3º) para que os prepare ao gosto do Pai celeste, e para servir à sua maior glória, que ela conhece melhor que nenhuma outra criatura; 4º) para que, por seus cuidados e intercessões, este corpo e esta alma, purificados de toda mancha, bem mortos, bem despojados e bem preparados, sejam um manjar delicado, digno do paladar e da bênção do Pai celeste. Não é o que farão as pessoas predestinadas, que apreciarão e praticarão a consagração perfeita a Jesus Cristo pelas mãos de Maria, como lhes ensinamos, para testemunhar a Jesus e Maria um amor efetivo e corajoso?
Os réprobos dizem que amam a Jesus, que honram Maria, mas não com sua substância¹, com os seus haveres, ao ponto de lhes sacrificar seu corpo com os sentidos, sua alma com todas as paixões, como fazem os predestinados.
198. 3º) Eles são submissos e obedientes à Santíssima Virgem, como a sua boa Mãe, a exemplo de Jesus Cristo, que, dos trinta e três anos que viveu sobre a terra, dedicou trinta a glorificar a Deus seu Pai, por uma perfeita e inteira submissão a sua Mãe Santíssima. A ela obedecem, seguindo com exatidão os seus conselhos, como o pequeno Jacó seguia os de sua mãe, que lhe diz: "Acquiesce consiliis meis" (Gn 27,8) - Meu filho, segue meus conselhos; ou como os criados nas bodas de Caná, aos quais a Santíssima Virgem diz: "Quodcumque dixerit vobis facite" - Fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2,5). Por ter obedecido a sua mãe, Jacó recebeu a bênção, como por milagre, embora por direito natural não devesse recebê-la; porque os servos nas bodas de Caná seguiram o conselho da Santíssima Virgem, foram honrados com o primeiro milagre de Jesus Cristo, que nessa ocasião, a pedido de sua Mãe, converteu a água em vinho. Assim, todos aqueles que até ao fim dos séculos receberem a bênção do Pai celeste, e forem honrados com as maravilhas de Deus, só receberão estas graças em consequência de sua perfeita obediência a Maria; os Esaús, ao contrário, perderão sua bênção, por falta de submissão à Santíssima Virgem.
199. 4º) Os predestinados têm uma grande confiança na bondade e no poder da Santíssima Virgem; reclamam sem cessar seu socorro; olham-na como a estrela polar guiando-os a seguro porto; comunicam-lhe, com o coração aberto, suas penas e suas necessidades; acolhem-se à sua misericórdia e doçura para, por sua intercessão, alcançar o perdão de seus pecados, ou para gozar de seus maternais carinhos em suas aflições e contrariedades. Atiram-se até, escondem-se e se perdem de um modo admirável em seu regaço amoroso e virginal, para aí ficarem abrasados de amor, para aí se purificarem das menores manchas, e para aí encontrarem plenamente a Jesus, que aí reside como no mais glorioso dos tronos. Oh! que felicidade! "Não creiais, diz o Abade Guerrico, que seja maior felicidade habitar o seio de Abraão que o seio de Maria, pois neste colocou o Senhor o seu trono: Ne credideris maioris esse felicitatis habitare in sinu Abrahae quam in sinu Mariae, cum in eo Dominus posuerit thronum suum".²
Os réprobos, ao contrário, põem toda a confiança em si próprios, só comem, como o filho pródigo, o que comem os porcos; como vermes, só se alimentam de terra; e porque amam somente as coisas visíveis e passageiras, como os mundanos, não apreciam as doçuras e suavidades do seio de Maria. Não sentem aquele apoio e aquela confiança que os predestinados sentem pela Santíssima Virgem, sua boa Mãe. Amam miseravelmente sua fome exterior, como diz São Gregório³, porque não querem provar a suavidade que está preparada no próprio íntimo deles e no íntimo de Jesus e de Maria.
200. 5º) Finalmente, os predestinados mantêm-se nos caminhos da Santíssima Virgem, isto é, imitam-na, e nisto eles são verdadeiramente felizes e devotos, trazendo assim o sinal infalível de sua predestinação. Esta boa Mãe lhes diz: "Beati qui custodiunt vias meas" (Pr 8,32) - Bem-aventurados os que praticam minhas virtudes, e caminham sobre as pegadas de minha vida, com o socorro da divina graça. Eles são felizes neste mundo, durante sua vida, devido à abundância de graças e de doçuras que eu lhes comunico de minha plenitude e com muito mais abundância que aos outros que não me imitam tão esforçadamente; eles são felizes em sua morte, que é doce e tranquila, e na qual eu os assisto, para os conduzir às alegrias da eternidade; serão finalmente, felizes na eternidade, porque jamais perdeu algum dos meus servos, que durante a vida tenha imitado fielmente as minhas virtudes.
Os réprobos, ao contrário, são infelizes durante a vida, em sua morte e na eternidade, porque não imitam a Santíssima Virgem em suas virtudes, contentando-se com pertencer a alguma de suas confrarias, com recitar uma ou outra oração em sua honra ou fazer qualquer devoção exterior.
Ó Virgem Santíssima, minha boa Mãe, quão felizes são aqueles - eu o repito com transportes de coração - quão felizes são aqueles que, sem se deixar seduzir por uma falsa devoção, guardam fielmente vossos caminhos, vossos conselhos e vossas ordens! Quão infelizes, porém, e malditos, aqueles, que, abusando de vossa devoção, não guardam os mandamentos de vosso Filho! "Maledicti omnes qui declinant a mandatis tuis" - Malditos os que se afastam de teus mandamentos (Sl 118,21).
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1. Cf. Pr 3,9: "Honora Dominum de tua substantia" (Honra o Senhor com os teus haveres).
2. Sermo 1 in Assumptione, n.4.
3. "Amamus foris miseri famem nostram" (Homil. 36 in Evangel.).