sábado, 30 de novembro de 2013

A decência dos vestidos



São Paulo quer que as mulheres cristãs (o que há de entender-se também dos homens) se vistam segundo as regras de decência, deixando de todo o excesso e imodéstia em seus ornatos. Ora, a decência dos vestidos e ornatos depende da matéria, da forma e do asseio. 
O asseio deve ser geral e contínuo, de sorte que evitemos toda mancha ou coisa semelhante que possa ofender os olhos; esta limpeza exterior considera-se como um indício da pureza da alma, a ponto de o mesmo Deus exigir dos seus ministros dos altares uma pureza e honestidade perfeita ao corpo. 
No tocante à matéria e à forma dos vestidos, a decência só se pode determinar com relação às circunstâncias do tempo, da época, dos estados ou vocações,  da sociedade em que se vive e das ocasiões. É um uso geral vestir-se melhor nos dias de festa, à proporção de sua solenidade, ao passo que no tempo da penitência, como na Quaresma, se escusa muita coisa. Os dias de casamento e os de luto tem igualmente grande diferença e regras peculiares. Achando-se na corte de um príncipe, o vestuário terá mais dignidade e esplendor do que quando se está em casa. Uma mulher pode e deve se enfeitar melhor quando está com seu marido, sabendo que ele o deseja; mas, se o fizesse em sua ausência, haveria de perguntar-se a quem quererá agradar com isso. Às moças se concedem mais adornos, porque podem desejar agradar, contanto que suas intenções sejam de ganhar um só coração para o casamento legítimo. O mesmo se há de dizer das viúvas que estão pensando em novas núpcias, contanto que não queiram imitar em tudo as jovens, porque, depois de ter passado pelo estado matrimonial e pelos  desgostos da viuvez, pensa-se que devem ser mais sóbrias e moderadas. Para aquelas que são verdadeiras viúvas, como diz o apóstolo, i. é, aquelas que possuem no coração as virtudes da viuvez, nenhum adorno convém além de um ou outro, conforme à humildade, modéstia ou devoção; se querem, pois, dar amor aos homens, não são verdadeiras viúvas e, se não o querem dar, porque atrair a si os olhares? Ri-se sempre dos velhos que se querem fazer de bonitos: é esta uma fraqueza que mesmo o mundo só perdoa na mocidade. 
Conserva um asseio esmerado, Filotéia, e nada permitas em ti rasgado ou desarranjado. É um desprezo das pessoas com quem se convive andar no meio delas com roupas que as podem desgostar; mas guarda-te cuidadosamente das vaidades e afetações, das curiosidades e das modas levianas. Observa as regras da simplicidade e modéstia, que são indubitavelmente o mais precioso ornato da beleza e a melhor escusa  da fealdade. São Pedro e São Paulo proíbem em especial às moças esses penteados extravagantes. Os homens de tão pouco caráter, que se divertem com essas coisas de sensualidade e vaidade, tão tidos por toda parte na conta de espíritos efeminados. Diz-se que não se tem má intenção nessas coisas, mas eu replico, como fiz outras vezes, que o demônio sempre tem. Para mim eu desejava que uma pessoa devota fosse sempre a mais bem vestida duma reunião, mas a menos pomposa e afetada, e que fosse ornada, como se lê nos provérbios, de graça, de decência e dignidade. São Luís resume tudo isso numa palavra, dizendo que cada um deve vestir-se segundo o seu estado; de modo que as pessoas prudentes e a gente de bem não possam achar exagero algum e os jovens nenhuma falta de ornato e decência; e no caso em que os jovens se deem por contentes, é preciso seguir o conselho das pessoas prudentes. 

São Francisco de Sales

A humildade interior é a mais perfeita

Desejarás, Filotéia, que te introduza ainda mais na prática da humildade; este desejo merece o meu aplauso e eu o quero satisfazer; pois, no que tenho dito até agora, há mais prudência que humildade. 
Encontram-se pessoas que nunca querem prestar atenção às graças particulares que Deus lhes faz, temerosas que seu coração, enchendo-se duma vã complacência, não dê toda a glória a Deus. É um falso temor e um verdadeiro erro. 
Pois, desde que a consideração dos benefícios de Deus é um meio eficacíssimo de amá-lo, assim, diz o doutor angélico, quando mais o conhecemos, tanto mais o amamos. Mas, sendo nosso coração mais sensível às graças particulares que aos benefícios gerais, é exatamente sobre aquelas graças que devemos refletir. 
Nada é tão próprio para nos humilhar ante a misericórdia de Deus que a multidão de suas graças e a multidão dos nossos pecados ante a sua justiça. Consideremos, com muita atenção, o que Deus fez por nós e o que nós fizemos contra ele. Ao passo que examinamos também as graças que Deus nos concedeu, e já não há que temer que este conhecimento nos ensoberbeça, se refletirmos que não temos nada de bom em nós. Porventura as bestas de carga não permanecem animais grosseiros e brutos, embora caminhem carregados de trastes preciosos e perfumados dum príncipe?
Que temos nós de bom, que não tenhamos recebido? E, se o temos recebido, por que nos gloriamos disso?
Ao contrário, a viva consideração das  graças de Deus nos torna humildes, porque o conhecimento dum benefício produz naturalmente o seu reconhecimento; e, se esta consideração excitar em nós alguma complacência de vaidade, temos um remédio infalível, contra este mal, na lembrança de nossas ingratidões, imperfeições e misérias. Sim, se considerarmos o que fizermos, quando Deus não estava conosco, havemos de conhecer que o que fazemos, quando ele está conosco, não provém de nossa indústria e diligência. 
Na verdade, regozijar-nos-emos do bem que ele em nós e nós memos nos regozijaremos, porque somos nós que o possuímos; mas toda a glória é devida unicamente a Deus, que é o seu autor. 
Assim a SS. Virgem confessou publicamente que Deus tinha operado nela grandes coisas e fez isso ao mesmo tempo para se humilhar e para dar glória a Deus. Minha alma, diz ela, glorifica o Senhor; porque tem operado em mim grandes coisas.
Muitas vezes dizemos que nada somos, que somos a mesma miséria e, como diz São Paulo, o lixo do mundo; mas muito nos melindraríamos se nos compreendessem verbalmente e nos tratassem quais dizemos ser. 
Pelo contrário, outras vezes fugimos para que nos venham atrás, escondemo-nos para que nos procurem, damos mostras de querer o último lugar, para que nos levem com muita manifestação de honra ao primeiro. O verdadeiro humilde não quer parecer que o é e nunca fala de si mesmo; a humildade, pois, não só procura esconder as outras virtudes, mas ainda mais a si mesma e, se a dissimulação, a mentira, o mau exemplo fossem coisas lícitas, ela cometeria atos de soberba e ambição, para esconder-se mesmo debaixo das capas do orgulho e subtrair-se mais seguramente ao conhecimento dos homens.
Fica aqui o meu conselho, Filotéia, ou nunca falemos de nós com termos de humildade, ou conformemos com eles os nossos pensamentos, pelo usentimento interior duma verdadeira humildade. Nunca abaixemos os olhos, sem humilharmos o coração; nunca procuremos o últimos lugar, sem que de bom grado e sinceramente o queiramos tomar. Esta regra é tão geral que não se pode abrir exceção alguma. 
Unicamente acrescento que a civilidade requer às vezes que ofereçamos certas honrar a pessoas que certamente não as hão de aceitar, e que isso não é dobrez nem humildade falsa, porque esta deferência é um simples modo de os honrar; e, conquanto não se lhes possa ceder toda a honra, não tem nada de mal que se lhe ofereça. Digo o mesmo de certas expressões de acatamento que não são inteiramente segundo as regras rigorosas das verdades, mas também não lhes são contrárias, contanto que se tenha um desejo sincero de honrar as pessoas com quem se fala; pois, ainda que haja um certo excesso nessas expressões, não andamos mal se as empregarmos segundo o uso geral, como as recebem e entendem. Desejaria, contudo, que se conformassem o mais possível as palavras com as intenções, para que em nada se afastem da simplicidade do coração e exatidão da sinceridade. 
O homem verdadeiramente humilde gostará mais que os outros digam dele que é um miserável, que nada é e nada vale, do que se o dizer por si mesmo; ao menos, se sabe que falam assim dele, sofre com paciência e, como está persuadido que é verdade o que dizem, facilmente se conforma com esses juízos, aliás iguais aos seus. 
Dizem muitos que deixam a oração mental para os perfeitos e que se acham indignos de fazê-la; outros protestam que não comungam muitas vezes, porque não se sentem com a pureza da alma requerida; outros ainda dizem que temem profanar a devoção, habituando-se a ela, por causa de suas misérias e fragilidades; muitos outros, por fim, recusam empregar os seus talentos no serviço de Deus e salvação do próximo, porque, conhecendo a sua fraqueza, dizem eles, temem que o orgulho se aproveite do bem de que seriam os instrumentos e assim, enquanto iluminam a outros, venham eles mesmos a perder-se. Tudo isso não passa dum artifício de humildade não só falsa, mas até maligna, porque se servem dela para desprezar de um modo sutil e oculto as coisas de Deus ou esconder melhor sob pretextos de humildade o seu amor-próprio, a sua própria vontade, o seu mau humor e preguiça. 
Pede ao Senhor teu Deus para ti algum sinal que chegue ao profundo do inferno ou ao mais alto do céu, disse o profeta Isaías ao ímpio Acás e este respondeu: Não pedirei tal, nem tentarei ao Senhor.
- Ó perversidade! Finge grande reverência para com Deus e sob esse pretexto de humildade rejeita uma graça que a Bondade divina lhe queira dar. E não sabia ele que, quando Deus nos quer conceder uma graça, é um ato de orgulho recusá-la, que esses dons por sua própria natureza nos obrigam a aceitá-los e que a humildade consiste em conformar-se o mais possível com a vontade divina? Ora, Deus deseja sumamente que sejamos perfeitos, para nos unir a ele pela imitação mais exata possível de sua santidade. O soberbo que se fia em si mesmo muita razão tem para não se atrever a intentar coisa alguma; mas o humilde é tanto mais animoso quanto mais impotente se vê, e se torna tanto mais resoluto quanto mais o desprezo de si mesmo o faz parecer pequeno a seus olhos, porque ele deposita toda a sua confiança em Deus, que se compraz em magnificar a sua onipotência em nossa fraqueza e a sua misericórdia em nossa miséria. É, pois, necessário empreender com uma humildade corajosa tudo quanto os que nos guiam julgam útil ao nosso adiantamento.
Pensar que se sabe o que se ignora é uma loucura manifesta; fazer-se de sábio em matéria ignorada é uma vaidade insuportável. Eu para mim nem queria fazer-me sábio nem de ignorante. Se a caridade o exige, cumpre ajudar o próximo com bondade e doçura em tudo o que é necessário para a sua instrução e consolação; pois a humildade, que esconde as virtudes, para as conservar, também as deixa aparecer, se a caridade o exige, para as exercer e aperfeiçoar. Neste ponto, pode-se comparar a humildade às árvores das ilhas de Tilos, que de noite conservam muito vivo, e só as abrem ao nascer do sol; o que faz os habitantes da ilha dizerem que estas flores dormem de noite. Com efeito, a humildade esconde as virtudes e as boas qualidades e só as mostra pela caridade, que, não sendo uma virtude humana e mortal, mas celeste e divina e o sol das virtudes, deve sempre dominar sobre todas; de  sorte que, se a humildade prejudica a caridade em alguma coisa, é, sem dúvida, uma humildade falsa. 
Quanto a mim, não quisera fazer-me de louco, nem de prudente, porque, se a humildade me impede de fazer-me prudente, a sinceridade e a simplicidade me devem impedir de fazer-me de louco; se a vaidade é contrária à humildade, o fingimento e o ardil são contrários à simplicidade e à candura da alma. Se alguns servos de Deus se fingiram loucos, para serem desprezados, é preciso admirá-los e não imitá-los, porque os motivos que os levaram a esses excessos foram neles tão extraordinários e adaptados às suas disposições particulares, que ninguém pode tirar daí uma consequência para a sua vida. No tocante à ação de Davis, dançando e saltando ante a arca da aliança um pouco mais do que era decente, sua intenção não foi fazer-se de louco; abandonou-se simplesmente e sem fingimento ao instinto e impetuosidade de sua alegria, de que o Espírito de Deus lhe inundava o coração. É verdade que, quando Micol, sua mulher, o repreendeu, como tendo feito uma loucura, ele não se alterou e assegurava, ainda tomado dessa alegria espiritual, que de boa vontade recebia este desprezo, para a glória de Deus. Assim, se, por ações que tem um cunho ingênuo de verdadeira devoção, todo o mundo te tiver na conta de vil, abjeto ou extravagante, a humildade te fará achar alegria neste opróbrio precioso, cujo princípio e causa não és tu que o sofrerás, mas aquele donde ele vier. 

São Francisco de Sales

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Mais um filho!?


Tal texto foi extraído do Blog comshalon.org, postado no dia 11 último, e, realmente, vale a pena difundi-lo, pois bem retrata a realidade de uma família que deseja resistir às ondas destrutivas da Civilização Cristã, como, por exemplo, o controle de natalidade. Trata-se de um relato de autoria de Renato Guimarães Varges — responsável pelo referido blog.

Filhos, uma escola de amor

No dia 07 de maio de 2013, meu quarto filho foi concebido. Poucos dias depois veio a confirmação da gravidez e naturalmente a notícia foi se espalhando.
Algumas pessoas como minha mãe e amigos próximos ficaram imensamente felizes e já foram logo dando palpite sobre o sexo do bebê. Outras pessoas já sorriram só com o canto da boca, respiraram fundo e deram uns parabéns amarelado ou por pura educação. Outras sequer conseguiram disfarçar seus pensamentos e teceram comentários divididos por categoria, os irônicos diziam: “vocês são animados hein!” ou “vocês não tem TV em casa?”; os pseudo-entusiastas: “vocês são guerreiros!” ou “nossa, que coragem!”; os calculistas: “mais um? meu Deus!” ou “quem vai pagar suas contas?” ou “vocês planejaram isso?” ou “já marcaram a laqueadura de trompas?”; e por fim os dramáticos: “foi um acidente?” ou “como vocês vão viver?” .
Comentários à parte, estamos imensamente felizes com a chegada do caçula da vez. No entanto, a decisão de escrever esse artigo é fruto do desejo de fazer uma pequena partilha do que vivo como pai e defensor da cultura da vida e expressar um pouco algo que me incomoda muito na cultura que vivemos atualmente.
Ah sim, você pode perguntar “E o que isso tem a ver com bioética?” Respondo: ABSOLUTAMENTE TUDO!!! Pois a bioética não pode ficar presa nos livros, conceitos e teorias, mas para defende-la e exercê-la com autoridade, é preciso antes de tudo acreditar nela na nossa própria vida.
Ao observar a postura de certos casais diante da realidade dos filhos, tenho me perguntado: Por que alguns casais estão convencidos de que os filhos são verdadeiros estraga prazeres da vida conjugal? De onde vem esta mentalidade de que os filhos diminuem a qualidade de vida do casal? Por que existe tanto espaço para a cultura materialista que só consegue enxergar os filhos como potenciais consumidores, gastadores e devoradores de salário? Por que alguns pais querem dar aos filhos um padrão de vida que não possuem como se isso fosse a fórmula do sucesso pessoal e familiar? Por que as pessoas tem tanto pavor do trabalho que as crianças dão em casa, enquanto se matam no trabalho para cumprir metas e conseguir promoções? Por que o cansaço e as exigências com a educação dos filhos são tão rejeitados? Por que as mulheres valorizam tanto o trabalho fora de casa como se educar um filho em casa não fosse um serviço tão ou mais nobre à sociedade quanto qualquer outro trabalho?
Passaria horas aqui somente escrevendo perguntas do tipo, mas esse não é meu objetivo, como também não é responde-las ou levantar um debate sobre cada um dos temas, isso daria um livro o qual eu não tenho competência para escrever.
Gostaria simplesmente de tentar descrever porque considero os filhos um dom preciosíssimo de Deus e uma verdadeira escola de amor. Nossos planos como casal nunca foram baseados no conforto, nem nas férias inesquecíveis na Disney, nem na casa dos sonhos, mas sempre foram baseados no papel que estávamos assumindo diante de Deus e da Igreja, ou seja, o compromisso de ser uma família. Não tenho nada contra as férias (aliás estou precisando das minhas), nem contra a Disney (dizem que é muito divertido), mas os que se casam confiando unicamente em planos materiais e só tomam decisões com a segurança da conta corrente não estão preparados para construir uma família que ama a Deus acima de todas as coisas e provavelmente não terão a fé como seu maior valor. Se você nunca pensou nisso ou simplesmente nem leva isso em consideração, sinceramente você tem meu respeito, mas, por experiência própria, posso garantir que o matrimônio como um empreendimento meramente humano perde uma dimensão que considero essencial.
Recordo quando descobrimos a gravidez do nosso 3º filho, uma pessoa chegou para mim e disse:“Ih… agora vocês se danaram. Saiba que o mundo foi feito pra quem tem no máximo dois filhos!” Eu estava um pouco destemperado no momento e respondi sem medir muito as palavras, mas expressando o que se passava no fundo do meu coração: – “E quem disse que nós geramos filhos pensando neste mundo minha senhora?”. Ela arregalou os olhos e viu que eu tinha me ofendido, mas fui obrigado a continuar, especialmente porque eu sabia que ela já havia criticado um outro casal amigo. Eu concluí dizendo: – “Uma família católica gera filhos para povoar o Céu e não nossas cidades, queremos gerá-los para a eternidade, pois é lá que desejamos encontrá-los um dia, a herança que temos para deixar para nossos filhos é a fé, o amor de Deus e a santidade, todo resto é consequência. O bem estar que ofereço é aquele que Divina Providência nos conceder”… Pelo silêncio acho que ela acabou entendendo. Mas é exatamente isso!
Um casal que rejeita o dom dos filhos ou se fecha irreversivelmente a essa possibilidade está invertendo em absoluto a razão de ser do matrimônio, do ato conjugal e do propósito de estarem unidos por um sacramento. Não estou aqui fazendo apologia à mera quantidade de filhos. Ninguém pode me acusar disso. Sobre esse assunto, o que digo é que existem quatro critérios que devemos adotar quando pensamos em ter filhos:
1. A confiança na vontade de Deus e na Divina Providência deve ser maior que nossos fundos de investimentos.
2. A quantidade de filhos não se calcula pela quantidade dos que já temos, mas pela generosidade com os que ainda podemos ter.
3. O próximo filho será ainda mais exigente, portanto, nos fará crescer ainda mais na partilha e no amor.
4. O melhor presente que posso dar aos meus filhos é o próximo irmão.
Ou seja, não é simplesmente uma questão ter muitos filhos, mas ter o máximo que o casal puder. Quanto mais filhos um casal tiver, mais experimentarão da Providência de Deus. Não estou fazendo apologia à irresponsabilidade, mas à generosidade.
Os filhos só terão sentido na vida de um casal e assim contribuir para a santidade da família se eles forem entendidos e acolhidos como dons de Deus e não como intrusos, vilões ou saqueadores de seu cheque especial. Você pode estar ai dizendo que isso é um exagero ou que eu vivo fora da realidade. Nada disso! Há momentos, não poucos, em que temos a impressão que os filhos exigem mais do que podemos dar, humana e financeiramente, ou que a educação que damos vai parar em qualquer outro lugar que não seja a cabecinha da criança. Isso tira qualquer um do sério, mas não justifica a rejeição dos filhos, nem a substituição do nosso papel na sua educação, muito menos achar que tudo que fizemos até hoje de nada valeu. Ultimamente, quando estou muito cansado e me pego rejeitando dar atenção ou calculando quanto amor vou dar a um filho, penso em três coisas, exatamente nessa ordem:
1. Como São José agiria nesse momento?
2. Nas crianças abortadas que não tiveram a chance de nascer.
3. Nas famílias que estão na fila da adoção na esperança de ter pelo menos um filho em casa. Pode parecer um pouco ingênuo, mas pelo menos funciona.
Há duas coisas que vem junto com os filhos. Uma é inversa e outra diretamente proporcional à sua quantidade. O tempo livre será sempre inversamente proporcional e o cansaço sempre diretamente proporcional à quantidade de filhos. Isso não tem escapatória! Quanto ao tempo, não tem jeito, se não tivessem os filhos, seria ocupado com outra coisa, talvez até menos nobre.
Nunca considero o tempo que passo com meus filhos uma perda, nem fico ponderando mentalmente o que eu poderia estar fazendo caso não estivesse ali com eles, pois isso seria uma espécie de traição e talvez diminuísse minha alegria de estar com eles. Não adianta, educação não se terceiriza e quem cai nessa cilada, muito cedo paga o preço. Educar os filhos exige muito mais esforço que os mais árduos trabalhos profissionais. Talvez por isso alguns preferem, consciente ou inconscientemente, distrair os filhos do que educá-los. Outros talvez tenham medo de colocar limites claros e dar punições para não perder a amizade dos filhos. Mas a realidade da boa educação exige exatamente o contrário. Meus filhos ainda são pequenos, ainda me idolatram como qualquer criança, mas tenho certeza que seria muito mais fácil eu perder a amizade futura dos meus filhos por não tê-los deixado aprender com as quedas do que pela liberdade que dei para aprenderem a caminhar com suas próprias pernas e entender que crescer e amadurecer dói. Educar é penoso e por vezes vergonhoso porque mostra muito mais os limites dos pais do que as capacidades dos filhos. Por isso, ao invés de fugir desta sadia responsabilidade, devemos abraça-la ainda com mais dedicação.
Quanto ao cansaço, esse é uma marca do sofrimento físico de quem ama. Um corpo sem as marcas do sofrimento, das exigências de quem se doa ao outro é um corpo que reflete muito mais o que faço para mim do que o que faço pelos outros. O corpo de quem ama é esculpido pelo amor e não pelas academias, por isso, nossos melhores “personal trainers” são nossos filhos. Um corpo que se desgasta por amor é um corpo sarado sim, mas sarado no sentido de ser curado a todo instante de um possível egoísmo ou fechamento aos outros.
Sempre confesso meu cansaço ao cuidar das crianças, mas ajudar nas tarefas de casa, dar as refeições, conviver com meus filhos, poder sorrir com eles, ouvir suas palhaçadas, consolar as dores das suas quedas, fingir que eles são engraçados, dar atenção, corrigir seus erros, tirar as dúvidas brincar, contar histórias, escovar os dentes, brigar, cantar e rezar com eles é um grande presente de Deus.
Concluo dizendo que só sabe educar quem decide amar. Definitivamente, amar não é uma emoção agradável, nem um sentimento gostoso, como descer numa montanha russa. Amor é uma decisão séria e comprometida que envolve em primeiro lugar a felicidade do outro e não a minha. Amar é um sim mútuo entre dois imperfeitos que se escolhem. Amar é decidir-se por fazer o que é melhor pelo outro ainda que isso custe o meu tempo, meus planos, meu sono, minha beleza, minhas últimas energias. Com alegria digo que Deus não me deu o dom da vida para ser retido, afinal, o que guardamos demais acaba perdendo a validade e apodrecendo. Nunca o cansativo cuidado com os meus filhos aliviou tanto meu cansaço.
Por fim, posso dizer, não se descansa apenas dormindo. Descansa-se acima de tudo amando e servindo aos outros. Quando se ama de verdade, até o sono é uma forma de amar, pois o repouso nos fará servir melhor aos outros ao despertar. Por essas e outras razões, posso afirmar que os filhos são uma escola de amor!
Por Renato Guimarães Varges

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Decálogo da Educação para a Pureza

I.
"As crianças, de acordo com a idade, sejam preparadas por uma educação sexual positiva e prudente".

II.
"Os jovens devem ser instruídos convenientemente e a tempo sobre a dignidade, a função e o exercício do amor conjugal, a fim de que, preparados no cultivo da castidade, possam passar, na idade própria do noivado honesto para as núpcias".

III.
"Conheçam os candidatos ao sacerdócio, devidamente, os deveres e a dignidade do matrimônio cristão, símbolo do Amor entre Cristo e a Igreja (Ef, 5,32s). Compenetrem-se, porém, da maior excelência da virgindade consagrada a Cristo, de modo que, após opção maduramente deliberada, se consagrem com magnanimidade ao Senhor, mediante íntegra doação do corpo e da alma".

IV.
É preferível que a educação sexual seja dada pelos pais. Mas se estes, por qualquer motivo, não possam cumprir com seu dever, seja dada, com autorização explícita dos pais, por outras pessoas (médicos, professores, sacerdotes, parentes próximos) nas quais as crianças sintam confiança.

V.
Manter as crianças na ignorância com respeito ao sexo, é um erro; nem se deve dizer-lhes mentiras (informar-lhes, por exemplo, que foram trazidas pela cegonha). Mas a linguagem seja respeitosa e delicada para evitar traumatismos, por vezes altamente perigosos.

VI.
A melhor maneira de evitar que as crianças e os adolescentes fiquem obcecados pelos "mistérios do sexo", é dizer-lhes tudo quanto quiserem saber a respeito, dentro dos limites de sua compreensão.

VII.
A educação sexual para as crianças e adolescentes deve ser dada, de preferência, individualmente, respondendo até onde perguntarem. Os temas mais gerais e candentes podem ser prudentemente abordados em grupo, contanto que se conserve a simplicidade e elevação de linguagem e de atitudes.

VIII.
Simplicidade e naturalidade devem ser as qualidades de uma equilibrada educação sexual. Para os pais que entendem o sexo como expressão de amor, tudo será fácil. Entretanto, mais que elucidação sobre sexo, deve a educação formar atitudes perante o sexo, com valor positivo. A necessidade de se formar a vontade e orientar a consciência constitui o fundamental da educação para a pureza. 

IX.
Se as crianças demoram muito em fazer perguntas com respeito ao sexo, é lícito suspeitar que não há no lar o necessário clima de confiança; precisa-se corrigir essa anomalia, com a delicadeza devida. 

X. 
É necessário que as crianças vejam na sexualidade um convite, que Deus faz ao homem, a participar do seu Poder Criador, para propagar a vida. Que elas compreendam que a mulher grávida realiza, no plano da natureza física, o mais belo trabalho que existe no universo: gera  a vida!

Conservai em nós, Maria, um coração puro, para que sejamos capazes de amar!

Pe. Vitório Lucchesi

O controle da natalidade

"Estejam todos certos de que a vida dos homens e a missão de a transmitir não se continuam no tempo presente, nem se podem medir ou entender por esse tempo apenas, mas que estão sempre relacionados com a destinação eterna dos homens" (GS, 51).


 Podem os cônjuges achar-se em circunstâncias tais em que, ao menos por certo tempo, o número de filhos não deve crescer?
A nossa mãe Igreja está bem consciente de que isso possa acontecer. De fato, no recente Concílio Vaticano II, assim se expressou: "O Concílio sabe que os esposos encontram muitas vezes obstáculo na organização harmoniosa da vida conjugal por certas condições modernas de vida. E podem achar-se em circunstâncias em que, ao menos por certo tempo, o número de filhos não deve crescer; é nelas que com dificuldade se conservam o cultivo do amor fiel e a plena intimidade de vida. 
Existem os que ousam trazer soluções desonestas a esses problemas e não recuam até mesmo diante da destruição da vida. Mas a Igreja torna a lembrar que não pode haver verdadeira contradição entre as leis divinas sobre a transmissão da vida  e o cultivo do autêntico amor conjugal" (GS, 51).

A decisão sobre o número dos filhos a procriar cabe aos esposos ou à autoridade pública?
Cabe aos esposos. "Em virtude do direto inalienável do homem ao matrimônio e à geração da prole, a decisão sobre o número de filhos a procriar depende do juízo reto dos cônjuges. De maneira alguma pode ser atribuída ao critério da autoridade pública. Mas como a decisão dos esposos supõe uma consciência bem formada, é de máxima importância que a todos se dê a possibilidade de chegar ao nível de uma responsabilidade reta e verdadeira humana com relação à lei divina, de acordo com as circunstâncias da realidade do tempo" (GS, 87), de modo que os cônjuges, retamente "harmonizando o amor conjugal com a transmissão responsável da vida" (GS, 51), "exerçam a função de procriar com responsabilidade generosa, humana e cristã" (GS,50), lembrando que "tudo isso é impossível se a virtude da castidade conjugal não for cultivada com sinceridade" (GS,51).  Este direito for cultivada com sinceridade" (GS,51). Este direito dos esposos, assim compreendido, exclui qualquer interpretação no sentido de arbitrariedade egoísta.

Que pensar da esterilização do homem ou da mulher imposta pelo Estado por razões do "bem comum" ou procurada pelo interessados como meio de "controle"?
Trata-se, no caso da Autoridade Civil, de um abuso intolerável que conduz à degradação mais abjeta do ser humano. As chamadas razões de "bem comum" não passam de considerações meramente econômicas e até políticas, que nascem de uma concepção materialista do homem e totalitária do Estado.
Entretanto, nem ao indivíduo é lícito mutilar-se, a não ser nos casos em que a extirpação de um órgão deteriorado é necessária à sobrevivência. Nem se apele ao princípio da totalidade, isto é, que a esterilização, por exemplo a ligadura  de trompas, beneficiaria o conjunto de tal vida matrimonial posto em perigo pela possibilidade da concepção. A Igreja lembra antes o bem ético da pessoa que está em jogo e toda a ordem moral ameaçada pelas mutilações individuais, destinadas a fugir das consequências naturais do uso do sexo (Doc. da Sagr, Congr. Doutr. Fé, sobre a esterilização - 13.03.75, L´OSSERVATORE ROMANO de 19.12.75).
Quando se fala tanto em paternidade responsável, conviria insistir igualmente, ao menos tanto, no uso responsável do sexo, pois o sexo sem responsabilidade perde toda a sua grandeza. 

É lícito a um casal jovem evitar  a procriação durante alguns anos  até que tenha consolidado sua situação emocional e  econômica, e gozado livremente uma vida conjugal sem filhos?
A entrada no matrimônio com estas disposições pode criar sérios entraves ao amor que "não é olhar um para o outro, mas ambos na mesma direção".
A esterilização voluntária do amor retarda ou impede a consolidação emocional que precisamente se objetiva. Pelo contrário, a generosa abertura para a fecundidade, se bem que não exclua a prudência, é o clima do autêntico amor, tão oposto ao egoísmo, ainda que "a dois".
Os reais problemas econômicos não são tão reais, quando se pensa que o amor se nutre de sacrifícios e que vale a pena lutar contra a mentalidade da assim chamada "sociedade de consumo", em que o homem, vítima da propaganda, se torna escravo de tantas "necessidades" secundárias pré-fabricadas. 

Por que a continência ou abstenção sexual periódica é considerada pela Igreja "uma via lícita" no que tange o controle da natalidade?
Porque a continência periódica consiste em "fazer uso natural de fenômenos naturais". Ligada à aplicação dos métodos naturais da regulação da natalidade, que se fundamentam em um fato biológico, ou seja, na existência de alguns dias fecundos no curso da vida reprodutiva de toda mulher, a omissão da  omissão da relação conjugal durante tais dias torna inviável a concepção.

Os vários métodos artificiais de controle da natalidade - que são, moralmente ilícitos- além de falharem mais em seu objetivo (impedir a concepção) que os métodos naturais, trazem também graves inconvenientes à saúde da mulher?
Sim. Os métodos anticoncepcionais artificiais (recursos a substâncias químicas, em pomada, pó ou líquido, a meios mecânicos ou relações antinaturais, a "pílula anticoncepcional, etc) podem constituir, por si mesmos, ameça à saúde d a  mulher: "Quando a mulher é privada do valor nutritivo do líquido espermático por métodos anticoncepcionistas artificiais, produzem-se em seu organismo alterações de caráter local como geral" (Dr. Frederich J. MacCann, em "A influência das práticas anticonceptivas sobre os órgãos sexuais femininos").
Podem surgir problemas muito sérios, como: o efeito hipertensiogênico (os anticoncepcionais desencadeiam pressão arterial alta das mulheres predispostas); o efeito diabetogênico; o efeito carcinogênico (particularmente se houver antecedentes de câncer de mama) e, além disso, os efeitos colaterais que prejudicam a sua estética, como por exemplo: o cloasma (manchas no rosto, de cura mais difícil do que as semelhantes que às vezes ocorrem em gestantes), as varizes, o aumento de peso (que tem diminuído paralelamente com a redução dos hormônios). Isto sem falar de consequências mais comuns do uso de contraceptivos mecânicos ou químicos, como infecções pélvicas, peritonites, lesões mais ou menos sérias, etc.

Qual dos três métodos naturais de controle da natalidade (Ogino- Knaus, Doyle, Billings) é o mais seguro?
É o método Billings, assim chamado porque foi estudado e elaborado com particular êxito pelo casal de médicos australianos John e Evelyn Billings; o método tem sido aplicado com grande resultado evidenciando ser seguro. 
A utilização, no entanto, conjugada dos três métodos mencionados comporta, surpreendentemente, uma margem diminuta de  apenas um por cento de  erros (ou seja, noventa e nove por cento de êxito), o que nem o mais sofisticado anovulatório moderno consegue oferecer, sem que se corra o perigoso para a saúde física e moral, tão ardilosamente encoberto pela extraordinária máquina publicitária. 

Em que consiste o método Billings ou da ovulação ou da mucosidade ou da "clara  de ovo"?
O método Billings se chama também método da ovulação porque nos indica uma maneira fácil e segura para reconhecer a aproximação e a verificação da ovulação.
De fato, um indicador seguro do período da ovulação e, por isso, dos dias em que a mulher pode ser fecundada é a presença do sintoma ou fluxo mucoso (derrame de secreção uterina de composição alcalina), que, nos dias mais fecundos, se assemelha à "clara de ovo", apresentando-se suave e elástico com sensação de "molhado", escorregadio e lubrificante na área genital ao redor da vagina. 
Toda mulher pode aprender, pela simples observação, a interpretar corretamente seu fluxo mucoso, distinguindo-o do líquido seminal, que é outra coisa. 

Em quais casos, portanto, deverão os esposos, se quiserem licitamente evitar a concepção, abster-se de relações conjugais?
Nos dias fecundos da mulher, isto é:
a)durante a menstruação;
b) quando houver fluxo mucoso e nos três dias seguintes;
c) se houver hemorragia durante o ciclo menstrual, e nos três dias seguintes a esta hemorragia.

O método Billings é de ajuda também aos casais que têm dificuldades em conseguir nova gravidez?
Sim. O reconhecimento do sintoma mucoso, que preanuncia a ovulação, pode ser de grande ajuda aos casais que têm dificuldade em conseguir nova gravidez. De fato, a melhor possibilidade de obter uma gravidez verifica-se quando as relações conjugais ocorrerem nos dias em que a mulher percebe em nível máximo a sensação de umidade e lubrificação produzida pelo muco cervical ou fluxo mucoso.

Em que sentido a ciência pode contribuir para o bem do matrimônio e da família, e a paz das consciências?
"Os especialistas em ciências, mormente biológicas, médicas, sociais, podem contribuir grandemente para o bem  do matrimônio e da família, e a paz das consciências, se, mediante estudos comparados, se esforçarem por esclarecer mais profundamente as condições que favorecem a honesta regulação da procriação humana" (GS, 52).

Pe. Vitório Lucchesi


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O matrimônio

"O Criador de tudo constituiu o matrimônio como princípio e fundamento da sociedade humana, e o tornou por sua graça o grande Sacramento, em Cristo e na Igreja (cf. Ef 5,32) e  assim, "o autêntico amor conjugal foi assumido no amor divino" (GS, 48).

O que é matrimônio?
O matrimônio é:
a) para todos os homens, o pacto instituído por Deus no começo da humanidade e assegurado por suas leis, para instaurar uma íntima comunhão de amor e de vida entre o homem e a mulher (cf. Gên 1, 27-28) e
b) para os cristãos, o mesmo pacto conjugal elevado por Cristo à dignidade de sacramento, à imagem de sua própria união com a Igreja (cf. Ef 5,32).

Qual é a "matéria" e qual a "forma" do sacramento do matrimônio?
Matéria e forma do sacramento do matrimônio são o mútuo consentimento dos esposos em viver matrimonialmente: o consentimento com vontade de entregar do próprio corpo à outra parte é "matéria" contrato; o consentimento como aceitação do corpo da outra parte é a "forma".

Quais os ministros do matrimônio?
Os ministros do matrimônio são os nubentes que o contraem na presença do Pároco ou de seu representante, mais duas testemunhas.

Quais as propriedades essenciais do matrimônio?
As propriedades essenciais do pacto matrimonial, que se tornaram mais firmes pelo caráter sacramental, são duas: a unidade e a indissolubilidade (cf. Mt 19, 3-5).

Qual é unidade do matrimônio?
Unidade é a propriedade pela qual o matrimônio vincula um só homem com uma só mulher, impossibilitando a poligamia (união de um homem com várias mulheres) e a poliandria (união de uma mulher com vários homens).

Que é a indissolubilidade?
A indissolubilidade é a propriedade pela qual o vínculo matrimonial não se dissolve senão com a morte de um dos cônjuges, impossibilitando o divórcio.

Quais as finalidades do matrimônio?
As finalidades do matrimônio são:
-a procriação e a educação dos filhos;
-a complementação dos esposos;
-a legítima satisfação da concupiscência.
O Concílio Vaticano II confirmou a doutrina tradicional da Igreja: "O matrimônio, porém, não foi instituído apenas para o fim da procriação. Mas a própria índole do pacto indissolúvel entre pessoas e o bem da prole exigem que também o amor recíproco se realize com reta ordem, que cresça e que amadureça. Por isso, embora os filhos muitas vezes tão desejados faltem, continua o matrimônio como íntima comunhão de toda a vida, conservando seu valor e sua indissolubilidade" (GS, 50).

O autêntico amor conjugal, que se exprime e se realiza de maneira singular pelo ato próprio do matrimônio, é capaz de enobrecer as expressões do corpo e da alma como elementos e sinais específicos da amizade conjugal e de enriquecê-los com uma especial dignidade?
Sim. De fato, "os atos pelos quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos, e, quando realizados de maneira verdadeiramente humana, testemunham e desenvolvem a mútua doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido; robustecidos, pois, pela graça para uma vida santa os cônjuges irão cultivar com assiduidade a firmeza do amor, a grandeza de alma e o espírito de sacrifício, e os implorarão em sua oração" (GS, 49).

Quais as condições para que o matrimônio seja válido?
O matrimônio entre pessoas batizadas é válido nas seguintes três condições:
a) que o mútuo consentimento, manifestado externamente, seja um ato interno e livre;
b) que o matrimônio seja celebrado segundo as normas estabelecidas pela Igreja ou "forma canônica";
c) que não haja entre os nubentes impedimentos dirimentes.

Quantos e quais são os impedimentos dirimentes?
 Os impedimentos dirimentes são doze:
a) falta de idade (18 anos);
b) impotência funcional permanentes de realizar o ato conjugal (a esterilidade não constitui impedimento);
c) vínculo matrimonial vigente com outra pessoa;
d) disparidade de culto (de pessoa batizada com não batizada);
e) parentesco de consanguinidade em linha direta (sempre) ou em linha colateral (até o 3° grau);
f) voto solene de virgindade;
g) ordem sacra (diaconato, presbiterato e episcopado);
h) afinidade - é nulo o novo matrimônio com os parentes do cônjuge morto: em linha reta (sempre) ou em linha colateral (até o 2° grau);
i) parentesco espiritual (entre padrinhos e afilhados de batismo);
j) crime: adultério ou conjugicídio; ou um ou outro, cometidos com a finalidade de se casar;
m) rapto, para se casar;
n) pública desonestidade, que torna nulo o matrimônio entre o homem e a consanguínea da mulher, e entre o homem e o consanguíneo do homem, nos 1° e 2° graus com linha direta, quando a primeira união é resultante de um matrimônio inválido ou de público concubinato.

Há impedimentos só impedientes, isto é, que não tornam nulo o matrimônio?
Os impedimentos impedientes, que tornam o matrimônio lícito, são três:
a) voto simples de castidade;
b) religião mista (de pessoa católica com protestante ou ortodoxa);
c) parentesco legal (que nasce da adoção).

A quem compete julgar os impedimentos?
Só a Hierarquia compete julgar os impedimentos matrimoniais e dispensar, de alguns deles, os fiéis cristãos.

A autoridade pública pode declarar nulo o contrato de matrimônio civil?
A autoridade pública em certas circunstâncias declara nulo o contrato de matrimônio civil, ainda quando a lei divina o proíbe. De qualquer forma, tal declaração não atinge o casamento religioso celebrado entre cristãos, que constitui um dos sete sacramentos.
O contrato civil, que também se deve fazer, é, para os cristãos, uma formalidade jurídico-social, a fim de garantir os efeitos legais do casamento religioso.

Há casos em que as autoridades eclesiásticas declaram a nulidade do casamento religioso?
Sim, toda vez em que, comprovadamente, faltou o cumprimento de uma ou mais condições enumeradas anteriormente neste apêndice.

Pode a autoridade pública conceder o divórcio, isto é, dissolver um vínculo conjugal já existente e permitir a realização de uma nova união conjugal?
De modo algum. Nenhuma autoridade, nem pública nem religiosa, poderia dissolver um vínculo de um matrimônio válida e licitamente realizado: "A salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar da comunidade conjugal e familiar. Mas a dignidade desta instituição não refulge em toda a parte com o mesmo brilho, posto que a obscurecem a poligamia, a peste do divórcio, o chamado amor livre, e outras deformações" (GS,47).
Além disso, queremos lembrar o fato de que uma lei, por sua natureza, tem sempre e em primeiro lugar função "pedagógica" (no sentido originário do termo), isto é, a função de orientar positivamente e sabiamente a vida dos homens, apontando-lhes o verdadeiro e, às vezes, árduo caminho a seguir. Aceitar a dissolução do casamento é abrir a porta a todas as licenças e comprometer decisivamente a própria instituição da família.

Quais as condições para que o matrimônio seja também lícito?
São quatro as condições:
a) estado de graça; quem recebe o matrimônio em estado de pecado mortal, comete sacrilégio e se priva da graça sacramental;
b) suficiente instrução na doutrina cristã;
c) obediência às disposições da Igreja, a respeito da celebração do Sacramento;
d) ausência de impedimentos impedientes não dispensados.

Quais os efeitos do matrimônio recebido válida e licitamente?
São três efeitos:
a) a consagração da união natural, que, santificada pela graça, adquire um caráter sobrenatural;
b) o aumento, nos esposos, da graça santificante;
c) a recepção da graça sacramental, isto é, do direito a receber, por toda a vida, as graças atuais necessárias para cumprir fielmente os graves deveres da sublime missão da família cristã.

Como a Igreja deseja que se celebre o matrimônio?
O Concílio Vaticano II afirma: "Habitualmente, celebra-se o matrimônio dentro da Misa, após a leitura do Evangelho e a Homilia, antes da Oração dos Fiéis" (SC, 78).

Quais são os principais deveres dos cônjuges?
Os principais deveres dos cônjuges são:
- recíproca fidelidade; mútuo amor; compreensão;
-aceitação, manutenção e educação cristã dos filhos.

Podem os pais escolher o estado de vida dos filhos?
Não podem. "Os filhos sejam educados de tal maneira que, ao atingir a idade adulta, possam seguir com pleno senso de responsabilidade  sua vocação, inclusive religiosa, e escolher um estado de vida no qual, se vierem a se casar, possam constituir família própria em boas condições morais, sociais e econômicas. É dever dos pais ou tutores orientar, com prudentes conselhos, os jovens que vão fundar uma família; ouvindo-os de boa vontade, cuidem, porém, de não obrigá-los por coação direta ou indireta a contrair matrimônio ou a escolher determinado cônjuge" (GS, 52).

Fonte: Livro Bem aventurados os puros de coração de Pe. Vitório Lucchese