quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Vida de oração - Introdução

A ORAÇÃO 

Santo Afonso Maria de Ligório

(1696-1787)

Bispo e Doutor da Igreja

Editora Santuário




 Ao Verbo Encarnado

Jesus Cristo


DILETO DO ETERNO PAI, 

BENDITO DO SENHOR, AUTOR DA VIDA,

REI DA GLÓRIA, SALVADOR DO MUNDO, 

DESEJADO DAS NAÇÕES,

DESEJO DAS COLINAS ETERNAS, 

PÃO CELESTE, JUIZ UNIVERSAL,

MEDIANEIRO ENTRE DEUS E OS HOMENS,

MESTRE DA VIRTUDE, 

CORDEIRO SEM MANCHA, 

HOMEM DAS DORES, SACERDOTE ETERNO, 

VÍTIMA DE AMOR, FONTE DE GRAÇA,

BOM PASTOR, AMANTE DAS ALMAS,


dedico esta obra Afonso, pecador.





INTRODUÇÃO

1. Publiquei várias obras espirituais. Penso, entretanto, não ter escrito obra mais útil do que esta, na qual trato da oração, porque a oração é o meio necessário e certo de alcançarmos todas as graças necessárias para a salvação. Se me fosse possível, faria imprimir tantos exemplares deste livro quantos são os fiéis de todo o mundo. Daria um exemplar a cada um, a fim de que todos pudessem compreender a necessidade que temos de orar para nos salvar.

2. Falo assim porque vejo, de um lado, a absoluta necessidade da oração, tão altamente recomendada pelas Santas Escrituras e por todos os santos Padres. E de outro lado, vejo que poucos cuidam de empregar este grande meio de salvação. E o que mais me causa dor é ver que pregadores e confessores tão pouco se lembram de recomendar a oração a seus ouvintes penitentes! Mesmo os livros espirituais, que hoje em dia andam nas mãos dos fiéis, não tratam suficientemente desse assunto, quando é certo que todos os pregadores e confessores e todos os livros não deveriam incutir nada com mais empenho e afinco do que a necessidade de rezar. 

Ensinam às almas tantos meios de se conservarem na graça de Deus, como fugir das ocasiões, frequentar os sacramentos, resistir às tentações, ouvir a Palavra de Deus, meditar nas verdades eternas e outros tantos meios, todos eles, certamente de muita utilidade. Digo, porém: de que servem as pregações, as meditações e todos os outros meios aconselhados pelos mestres da vida espiritual, se faltar oração, quando é certo que o Senhor diz não "conceder suas graças, senão a quem pedir?" "Pedi e recebereis" (Mt 7,7).

Sem a oração, segundo a providência ordinária de Deus, serão inúteis todas as meditações, todos os propósitos e todas as promessas. Se não rezarmos, seremos infiéis a todas as luzes recebidas e a todas as nossas promessas. A razão é a seguinte: para fazer atualmente o bem, para vencer as tentações e para praticar a virtude, numa palavra, para observar inteiramente todos os preceitos divinos, não bastam as luzes recebidas anteriormente, nem as meditações e os propósitos que fizemos. É necessário ainda o auxílio de Deus. E este auxílio atual, como logo veremos, Deus não o concede senão a quem reza e reza com perseverança. As luzes recebidas, as considerações e os bons propósitos que fazemos, servem para que rezemos nas ocasiões iminentes de desobedecer à lei divina e, assim, possamos obter o socorro divino, que nos conservará incólumes do pecado. Sem isto, sucumbiremos. 

3. Eu queria, amigo leitor, antes de tudo o que vou dizer aqui, explicar esta minha sentença para agradecerdes a Deus que, por meio deste meu livreto, vos dá a graça de refletir mais profundamente sobre a importância deste grande meio da oração, pois todos os que se salvam, falando dos adultos, ordinariamente só por meio da oração é que conseguem salvar-se. Por isso, repito, agradecei a Deus, pois muito grande é a sua misericórdia concedendo-nos a luz e a graça de rezar.

Espero, irmão caríssimo, que depois de terdes lido esta obra, não vos esquecereis de recorrer sempre a Deus pela oração, quando fordes tentado a ofendê-lo. E, se alguma vez sentirdes a consciência gravada com muitos pecados, sabeis que a causa disto é a falta de oração e de pedir a Deus auxílios necessários para resistir às tentações que vos assaltam. Peço-vos, portanto, que leiais este livreto e o torneis a ler, com toda atenção, não por ser trabalho meu, mas sim porque é um meio que Deus vos concede para conseguirdes a vossa salvação eterna, dando-vos assim a entender, de modo particular, que vos quer salvar. E, depois de o terdes lido, peço-vos que, sendo possível, o façais ler a vossos conhecidos e amigos.

Comecemos, pois, em nome do Senhor!

4. Escrevendo a Timóteo, o Apóstolo diz: "Rogo-te, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças" (1Tm 2,1). Santo Tomás, o Doutor Angélico, explica essas palavras dizendo que a oração consiste propriamente na elevação da alma a Deus. A prece consiste em pedir a Deus coisas, quer particulares e determinadas, quer indeterminadas, por exemplo quando dizemos: Senhor, vinde em meu socorro! O pedido consiste em impetrar a graça. Assim como quando dizemos: Por vossa paixão e cruz, livrai-nos, Senhor!

A ação de graças, enfim, consiste em agradecer os benefícios recebidos, pelo que, como diz Santo Tomás, merecemos receber benefícios ainda maiores. A oração no sentido estrito, diz o Santo Doutor, significa recorrer simplesmente a Deus. Mas, em sua acepção geral, compreende todas as outras espécies já mencionadas. Deste modo, nós a entendemos e neste sentido é que, daqui por diante, empregaremos a palavra "oração".

Para concebermos um grande amor à oração e para usarmos com fervor deste grande meio da salvação, consideremos, antes de tudo, quanto ela nos é necessária e quão poderosa é para nos obter todas as graças, que desejamos de Deus, se pedirmos como devemos.

Por isso, na primeira parte, trataremos da necessidade e do valor da oração e, depois, das qualidades que a oração deve ter para ser eficaz diante de Deus.



Livro: A oração - Santo Afonso Mª de Ligório, pág. 10-14. Ed. Santuário.





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