quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Trecho 1 - Tratado da Conformidade com a Vontade de Deus



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Toda a nossa perfeição consiste em amar ao nosso amabilíssimo Deus. "A caridade é o vínculo da perfeição". (Col 3,14). E toda a perfeição do amor de Deus consiste em unir a nossa vontade com a Sua santíssima vontade. "O principal efeito do amor", diz São Dionísio (De divinis nominibus, c.4.), "é unir a vontade daqueles que se amam de maneira que se torne uma e a mesma vontade". Por conseguinte, quanto mais uma pessoa está unida com a vontade divina maior será o seu amor. Penitências, meditações, comunhões e obras de caridade, praticadas para com o nosso próximo, são de certo agradáveis a Deus, mas quando? Quando estas obras são feitas em conformidade com a Sua vontade; mas, quando elas não são praticadas pela vontade de Deus, não só lhe são desagradáveis, mas odiosas e merecedoras unicamente de castigo. Se um amo tivesse dois criados, dos quais, um trabalhando todo o dia, mas conforme a sua vontade, e o outro trabalhando à vontade de seu amo, seguramente o amo estimaria mais o segundo do que o primeiro. Como podem nossas ações promover a glória de Deus, se não forem conformes ao seu divino agradado? "O Senhor", disse o profeta a Saul, "não deseja sacrifícios, mas obediência à Sua vontade: acaso pede o Senhor holocausto e vítimas, e não obediência à Sua voz?" (1 Reis 15,22-23).
Aquele que trabalha segundo a sua própria vontade, e não conforme a vontade de Deus, comete uma espécie de idolatria, porque em lugar de adorar a vontade divina, adora de alguma maneira a sua própria.
A maior glória, pois, que nós podemos dar a Deus, é cumprir Sua bendita vontade em tudo. O nosso Redentor, que baixou dos Céus à Terra para promover a divina glória, cumprindo com a divina vontade, veio principalmente ensinar-nos a assim o praticarmos, pelo seu mesmo exemplo. Escute-mo-lo, como São Paulo no-lo descreve, falando ao seu Eterno Pai: "Vós não tendes querido sacrifício nem oblação, porém haveis-me dado um corpo [...] Então, eu disse: eis me aqui, ó Deus, para fazer a vossa vontade" (Hb 10,5-9.). Vós tendes recusado as vítimas que os homens vos tem oferecido, e me ordenastes que sacrificasse o corpo que me haveis dado, eis-me pronto a fazer a vossa vontade. E Ele repetidas vezes declara que não veio fazer a Sua vontade, mas sim a de Seu Eterno Pai: "Eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas sim para cumprir a daquele que me enviou" (Jo 6). E nisto desejava Ele que o mundo conhecesse o amor que tinha a Seu Pai, na sua obediência à Sua vontade, a qual era que Ele fosse crucificado sobre uma cruz para salvação do gênero humano: por isso, quando o Senhor se adiantou a encontrar seus inimigos, no horto de Getsêmani, que vinham para O prender e matar, Ele disse: "Eu me entrego ao seu furor, para que o mundo veja que eu amo a meu Pai; e que cumpro o que meu Pai tem ordenado a mim: levantai-vos pois e vamos daqui" (Jo 14,31). E desta maneira, cumprindo com a divina vontade, Ele disse que conhecia quem era seu irmão: "Aquele que fizer a vontade de meu Pai, que está no Céu, esse é meu irmão" (Mt 12,50).

Santo Afonso Mª de Ligório - Ed. Biblioteca Católica

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