sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Cântico Espiritual - São João da Cruz

[Segunda redação com a inclusão da estrofe 11, uma nova ordem dada às existentes e alguns retoques nos versos].
[Granada 1584-1586]

CANÇÕES ENTRE A ALMA E O ESPOSO

Esposa

1. Onde é que te escondestes,
Amado, e me deixastes com gemido?
Como o cervo fugiste,
Havendo-me ferido;
Saí, por ti clamando, e eras já ido.
2. Pastores que subirdes
Além, pelas malhadas, ao Outeiro, 
Se, porventura, virdes
Aquele a quem mais quero,
Dizei-lhe que adoeço, peno e morro.
3. Buscando meus amores,
Irei por estes montes e ribeiras;
Não colherei as flores,
Nem temerei as feras,
E passarei os fortes e fronteiras.

Pergunta às criaturas

4. Ó bosques e espessuras,
Plantados pela mão de meu Amado!
Ó prados de verduras, 
De flores esmaltado.
Dizei-me por vós ele há passado!

Resposta das criaturas

5. Mil graças derramando,
Passou por estes soutos com presteza,
E, enquanto os ia olhando, 
Só com sua figura
A todos revestiu de formosura.

Esposa

6. Quem poderá curar-me?!
Acaba de entregar-te já deveras;
Não queiras enviar-me
Mais mensageiro algum,
Pois não sabem dizer-me o que desejo.
7. E todos quanto vagam, 
De ti me vão mil graças relatando,
E todos mais me chagam;
E deixa-me morrendo
Um "não sei quê", que ficam balbuciando.
8. Mas como perseveras,
Ó vida, não vivendo onde já vives?
Se fazem com que morras
As flechas que recebes
Daquilo que do Amado em ti concebes?
9. Por que, pois, hás, chagado
Este meu coração, o não saraste?
E, já que mo hás roubado. 
Por que assim o deixaste
E não tomas o roubo que roubaste?
10. Extingue os meus anseios.
Porque ninguém os pode desfazer;
E vejam-te meus olhos, 
Pois deles és a luz,
E para ti somente os quero ter.
11. Mostra tua presença!
Mate-me a tua vista e formosura;
Olha que esta doença
De amor jamais se cura;
A não ser com a presença e com a figura.
12. Ó cristalina fonte,
Se nesses teus semblantes prateados
Formasses de repente
Os olhos desejados
Que tenho nas entranhas debuxados!
13. Aparta-os, meu Amado,
Que eu alço o voo.

Esposo

Oh! volve-te, columba,
Que o cervo vulnerado
No alto do outeiro assoma,
Ao sopro de teu voo, e fresco toma.

Esposa

14. No Amado acho as montanhas,
Os vales solitários, nemorosos. 
As ilhas mais estranhas,
Os rios rumorosos, 
E o sussuro dos ares amorosos;
15. A noite sossegada,
Quase aos levantes do raiar da aurora;
A música calada,
A solidão sonora,
A ceia que recreia e que enamora.
16. Caçai-nos as raposas,
Que está já toda em flor a nossa vinha;
Enquanto destas rosas
Faremos uma pinha;
E ninguém apareça na colina!
17. Detém-te, Aquilão morto!
Vem, Austro, que despertas os amores:
Aspira por meu horto,
E corram seus olores,
E o Amado pascerá por entre as flores.
18. Ó ninfas da Judeia,
Enquanto pelas flores e rosais
Vai recendendo o âmbar.
Ficai nos arrabaldes
E não ouseis tocar nossos umbrais.
19. Esconde-te, Querido!
Voltando tua face, olha as montanhas;
E não queiras dizê-lo,
Mas olha as companheiras
Da que vai pelas ilhas mais estranhas.

Esposo

20. A vós, aves ligeiras,
Leões, cervos e gamos saltadores
Montes, vales, ribeiras,
Águas, ventos, ardores,
E, das noites, os medos veladores:
21. Pelas amenas liras
E cantos de sereias, vos conjuro
Que cessem vossas iras,
E não toqueis no muro, 
Para a Esposa dormir sono seguro.
22. Entrou, enfim, a Esposa
No horto ameno por ela desejado;
E a seu sabor repousa,
O colo reclinado
Sobre os braços dulcíssimos do Amado.
23. Sob o pé da macieira,
Ali, comigo fostes desposada; 
Ali te dei a mão, 
E fostes renovada
Onde a primeira mãe foi violada.

Esposa

24. Nosso leito é florido,
De covas de leões entrelaçado,
Em púrpura estendido,
De paz edificado,
De mil escudos de ouro coroado.
25. Após tuas pisadas
Vão discorrendo as jovens no caminho, 
Ao toque de centelha,
Ao temperado vinho,
Dando emissões de bálsamo divino.
26. Na inteior adega
Do Amado meu, bebi; quando saía, 
Por toda aquela várzea
Já nada mais sabia, 
E o rebanho perdi que antes seguia.
27. Ali me abriu seu peito
E ciência me ensinou mui deleitosa;
E a ele, em dom perfeito, 
Me dei, sem deixar coisa,
E então lhe prometi ser sua esposa.
28. Minha alma se há votado, 
Com meu cabedal todo, a seu serviço;
Já não guardo mais gado,
Nem mais tenho outro ofício,
Que só amar é já meu exercício.
29. Se agora, em meio à praça, 
Já não for mais eu vista, nem achada,
Direis que me hei perdido,
E, andando enamorada,
Perdidiça me fiz e fui ganhada.
30. De flores e esmeraldas,
Pelas frescas manhãs bem escolhidas,
Faremos as grinaldas
Em teu amor floridas,
E num cabelo meu entretecidas.
31. Só naquele cabelo
Que em meu colo a voar consideraste,
- Ao vê-lo no meu colo, -
Nele preso ficaste,
E num só de meus olhos te chagaste.
32. Quando tu me fitavas,
Teus olhos sua graça me infundiam;
E assim me sobreamavas,
E nisso mereciam
Meus olhos adorar o que em ti viam. 
33. Não queiras desprezar-me, 
Porque, se cor trigueira em mim achaste,
Já podes ver-me agora, 
Pois, desde que me olhaste,
A graça e a formosura em mim deixaste.
34. Eis que a branca pombinha
Para a arca, com seu ramo, regressou;
E, feliz, a rolinha
O par tão desejado
Já nas ribeiras verdes encontrou.
35. Em solidão vivia,
Em solidão seu ninho há já construído;
E em solidão a guia,
A sós, o seu Querido,
Também na solidão, de amor ferido.
36. Gozemo-nos, Amado!
Vamo-nos ver em tua formosura,
No monte e na colina,
Onde brota a água pura;
Entremos mais adentro na espessura.
37. E, logo, as mais subidas
Cavernas que há na pedra, buscaremos;
Estão bem escondidas;
E juntos entraremos,
E das romãs o mosto sorveremos.
38. Ali me mostrarias
Aquilo que minha alma pretendia,
E logo me darias,
Ali, tu, vida minha,
Aquilo que me deste no outro dia.
39. E o aspirar da brisa.
Do doce rouxinol a voz amena,
O souto e seu encanto,
Pela noite serena,
Com chama que consuma sem dar pena.
40. Ali ninguém olhava;
Aminadab tampouco aparecia;
O cerco sossegava;
Mesmo a cavalaria,
Só à vista das águas, já descia.



São João da Cruz - Obras Completas. Ed.Vozes, 2002.


sábado, 28 de julho de 2018

Para que haja mérito nas boas obras, deve concorrer o consentimento do livre-arbítrio com a graça de Deus?

Certa vez, enquanto discursava, dirigindo-me a Deus, agradecendo por estar seguindo o bem, e pedindo forças para cada vez mais aperfeiçoar-me, um dos que me ouviam indagou-me:

- Por que fazes tantas boas obras e sacrifícios? Quais são os méritos ou prêmios que esperas ganhar se é Deus o responsável por todas as coisas boas? Será que és tu quem de fato decides teus próprios atos?

Respondi-lhe prontamente:

- Deves dar glórias a Deus, que de graça te precedeu, te despertou e te consagrou. Por fim, deves viver dignamente entre outras coisas dessas espécie, para que Ele te prove e te beneficie. Não sejas ingrato, permaneças sempre idôneo!

Mas ele continuou respondendo-me:

- Sei que este é um ótimo conselho, mas deves também me dizer o modo de sermos capazes de segui-lo. Conhecer é uma coisa, e fazer é outra bem menos fácil. Uma carruagem conduzida por um cego é bem diferente de outra conduzida por um franco, pois não é qualquer pessoa capaz de mostrar o caminho e prover a via para o viajante. Um é o homem que faz seus planos e parte para a viagem, e outro o que exagera e tomba no caminho. Digo mais, caro Bernardo: até mesmo um professor, que primeiro nos ensina o que é bom, muitas vezes não age conforme o que ele diz. Para mim, há duas atitudes necessárias na vida: ensinar que devemos fazer o bem, e sermos ajudados, [amparados com os meios para] agirmos. Tu, homem reto e probo, podes dar-me esse conselho, livrando-me da ignorância?

Como nos disse o Apóstolo - "O Espírito é quem nos ajuda a agir bem, diante de nossa falta de firmeza" -, digo-te outra coisa: o conselho que ensinas por tua boca, além de transmitindo, é necessário ser acompanhado de um amparo do Espírito, tornando-te forte o suficiente para implementá-lo.

Confesso-te que eu compreendo ser pelo trabalho da graça que se forma em mim este querer bom, mas não encontro a capacidade para concretizá-lo nem mesmo nas ocasiões em que confio que vou descobri-la no meu interior. Como devo proceder se o querer bom só se concretiza quando quem concede a boa vontade, além de dá-la, também aperfeiçoa a capacidade para que a busquemos? Dize-me onde estão nossos méritos; onde está nossa esperança [diante da necessidade da graça para que concretizemos nossa boa vontade do mundo?]

Respondi-lhe o seguinte:

- Não somos movidos pelas obras justas, e por elas salvos, mas somos salvos pela divina misericórdia. Logo, o que é a salvação? Será que por acaso pensas que, possuindo as obras justas, já poderás ser salvo por tua justiça, mesmo que nem saibas dizer o nome do Senhor Jesus e independentemente do Espírito Santo?

Parece que nos esquecemos da frase de Jesus: "Sem mim, não podes fazer nada", e do Apóstolo: "A salvação não está naqueles que desejam, nem nos que correm, mas apenas se realiza pela misericórdia de Deus".

Logo, dize-me, o que é agir com o livre-arbítrio? Respondo-te rapidamente: para mim, é a atitude de nos salvarmos. Suprime o livre-arbítrio, e não teremos mais como ser salvos. Exclui a graça, e não haverá a quem ser salvo. A ação, destituída desses dois elementos, não pode se concretizar: o primeiro, o livre-arbítrio, provém de quem age; enquanto o outro, a graça, é o 'por que' se age ou 'em que' a ação se dá.

Deus é o autor da salvação, único responsável pelo livre-arbítrio: somente Ele pode dar-nos a salvação, e nos tornamos capazes de recebê-la pelo livre-arbítrio. A salvação só é dada pelo livre-arbítrio ao capaz de recebê-la, sendo Deus o único capaz de enviá-la. Sem o consentimento do livre-arbítrio, ela não pode ser recebia, mas, sem a graça, ela não pode ser dada.

Logo, posso afirmar que o livre-arbítrio está a cooperar com a graça na concretização da salvação, já que, enquanto consente, está de fato a salvar. Para o livre-arbítrio, então, consentir é salvar-se.

Pouca coisa podemos dizer sobre o espírito das bestas, que não podem ser salvas. Falta-lhes o consentimento voluntário para que consciente e placidamente obedeçam a Deus, aquiescendo com seus mandamentos, crendo em suas promessas e prestando-lhe graças.

Uma coisa é o consentimento voluntário, e outra é o apetite natural. Nós compartilhamos este último com os animais irracionais, mas não podemos consentir com o espírito, enquanto estivermos atraídos e presos na carne.

Talvez seja isto o que nomeia o Apóstolo como 'a sabedoria da carne', quando diz: "A sabedoria da carne é a inimiga de Deus: ela não é submetida à lei de Deus nem o pode". Por isso afirmei que possuímos características comuns com as bestas, mas é justamente o consentimento voluntário que nos diferencia delas, sendo este o hábito da alma e a condição para a sua liberdade.

Não reconhecemos um ato livre, quando obtido pela força. Um ato voluntário não é de necessidade, pois não podemos refutá-lo nem apresentá-lo a não ser pela própria vontade. Coagir alguém a agir contra sua vontade, refutando-a, significa usar da violência, não havendo vontade nem consentimento.

O consentimento é necessariamente voluntário, e onde há vontade, há liberdade. Eis o que suponho como sendo livre-arbítrio, caro irmão.




São Bernardo de Claraval, Opúsculo sobre o livre-arbítrio, p 23-6. Ed. Ecclesiae

quarta-feira, 25 de julho de 2018

O Matrimônio




1. O matrimônio pode considera-se como contrato e como sacramento. Como contrato, é uma união conjugal do homem e da mulher que os obrigada a viver numa inseparável companhia.
2. Como sacramento, o matrimônio é este mesmo contrato elevado por Jesus Cristo à dignidade de sacramento que dignifica e causa graça nos que o celebram.
3. O sacramento do matrimônio dá aos que o recebem dignamente e que são legitimamente casados virtude e graça para viverem em paz e caridade, e para criarem os filhos no santo temor de Deus. 
4. Para que o matrimônio seja perfeito e abençoado de Deus, os noivos devem  principalmente: 1º estar em graça de Deus; 2º saber bem a doutrina cristã; 3º ter boa intenção.
5. Ambos os noivos hão de estar em graça de Deus, porque o matrimônio é um sacramento de vivos, e não pode ser recebido dignamente senão por quem estiver vivo pela graça. 
6. Devem saber os noivos a doutrina cristã, porque os pais de família têm a obrigação de ensiná-la a seus filhos e criados, e não a podem ensinar sem a saberem bem. 
7. As principais obrigações dos que se casam são duas: 1º viver em mútuo amor e união conjugal assim como Jesus Cristo a tem com a sua Igreja; 2º e educar bem os seus filhos.
8. O matrimônio nulo é aquele em que os casados verdadeiramente não estão casados, ainda que fizessem a cerimônia da Igreja. 
9. O matrimônio é nulo por causa dos impedimentos. Os impedimentos são muitos; os mais frequentes porém são os parentesco até o quarto grau de consanguinidade ou de afinidade, o ser clandestino o matrimônio, etc.
10. Há tempos em que a Igreja proíbe os casamentos, e são: desde o primeiro domingo do advento até ao dia de Reis, e desde o dia de cinza até ao domingo que chama de Páscoa. Proibem-se neste tempo os casamentos solenes e bençãos nupciais. Os bispos podem conceder dispensa do tempo proibido. 
11. Proíbe a Igreja os casamentos em todo o lugar que não for a pároquia de um dos contraentes, exceto se houver licença especial.
12. Proíbe a Igreja casar com os hereges e com os excomungados, durante a excomunhão.
13. Proíbe a Igreja celebrar os matrimônios enquanto não estiverem corridos os banhos e o pároco estiver certo da livre vontade dos contraentes. 
14. A Igreja manda correr os banhos para averiguar se há ou não algum impedimento.
15. Quem souber em segredo algum impedimento tem obrigação de o declarar ao pároco, debaixo de pecado mortal e pena de excomunhão, a não haver razão grave, que o dispensa. 
16. Há um estado que é mais perfeito e mais agradável a Deus do que o matrimônio, é a virgindade cristã.
17. Casar em estado de pecado mortal é um sacrilégio que atraí a maldição de Deus sobre as famílias. 
18. O matrimônio é indissolúvel; só se dissolve pela morte de um dos desposados. Nosso Senhor disse no Evangelho que o homem não pode separar o que Deus uniu. 


Explicação da gravura

19. A parte principal da gravura representa o casamento de Nossa Senhora com São José, que tem na mão uma açucena. Quando Maria chegou à idade de se casar, o sumo sacerdote reuniu todos os jovens da família de Davi que desejavam desposá-la, e deu a cada um ramo bento dizendo que escrevessem o seu nome. Depois colocou os ramos no altar pedindo a Deus que manifestasse a sua vontade. Então viu-se que só o ramo de José estava coberto de folhagem e flores. À direita vê-se um jovem que, triste por não ter sido escolhido, quebrou o ramo que lhe dera o sacerdote.
20. Na parte superior, à esquerda, veem-se Tobias e Sara preparando-se para o casamento com fervorosas orações. O anjo Rafael expulsa o demônio que matara os sete maridos de Sara pelas suas más disposições para o matrimônio. À direita vê-se Adão e Eva a quem Deus abençoou e disse: Crescei e multiplicai-vos. 
21. Na parte inferior vê-se um casamento católico.




Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

A Ordem



1. A Ordem é um sacramento instituído por Jesus Cristo, pelo qual se confere o poder de consagrar, oferecer e administrar a Eucaristia, e exercer as outras funções eclesiásticas.
2. Este sacramento dá virtude e graça aos sacerdotes e outros ministros  da Igreja para bem cumprir os seus ofícios.
3. Os que abraçam o estado eclesiástico devem ter por fim a glória de Deus e a salvação eterna do próximo.
4. Somente aos bispos pertence administrar o sacramento da ordem, porque têm a plenitude do sacerdócio.
5. As disposições necessárias para receber o sacramento da Ordem são principalmente três: 1º vocação, isto é, ser chamado por Deus para o estado eclesiástico; 2º uma vida exemplar e devota; 3º suficiente doutrina.
6. Há sete graus no sacramento da ordem, quatro menores e três maiores. Os quatro graus menores do sacramento da ordem são: ostiário, leitor, exorcista e acólito. As três ordens maiores ou ordens sacras são: subdiácono, diácono e presbítero, que é o mesmo que a de epístola, de evangelho, e de presbitério ou de missa.
7. Há uma diferença quase infinita entre os sacerdotes e os que não o são. Basta dizer que o Filho do Altíssimo lhe obedece, vindo à terra realmente em um instante toda a vez que o sacerdote o diz na consagração.
8. Devemos pois ao sacerdote todo o respeito, pelos dois poderes que Deus lhe deu, um sobre o Filho de Deus feito homem que obedece à sua voz, e outro o de perdoar os pecados que são ofensas feitas a Deus. 
9. Se o sacerdote não tiver costumes próprios a esta grande dignidade, devemos respeitar o caráter do sacramento, e ter compaixão e caridade da pessoa.
10. Para com aqueles que são promovidos às ordens, devemos: 1º orar a Deus para que se digne conceder à sua Igreja bons pastores e zelosos ministros; 2º ter lhes particular e veneração.


Explicação da gravura

11. A parte principal da gravura representa a São Pedro conferindo a ordem aos sete primeiros diáconos. Como o número dos cristãos aumentasse de dia para dia, e como os Apóstolos não pudessem cumprir todas as funções do seu ministérios, mandaram eleger na assembleia dos fieis sete diáconos que os substituíssem na distribuição das esmolas às viúvas, órfãos e pobres. Rogando a Deus pelos escolhidos, os Apóstolos conferiram-lhes a ordem do diaconato pela imposição das mãos.
12. Na parte superior vê-se o bispo conferindo as ordens menores. À esquerda confere o bispo a ordem de Ostiário mandando tocar as chaves da igreja. A seguir, o bispo confere a ordem de leitor mandando tocar o missal. No ângulo direito, na parte esquerda, o bispo confere a ordem de exorcista, cuja função é de expulsar os demônios, mandando tocar o livro dos Exorcismos. Por fim, na quarta parte, o bispo confere a ordem de acólito mandando tocar um castiçal com vela e as galhetas. 
13. A parte inferior divide-se em três; na primeira, à esquerda, o bispo ordena um subdiácono, cuja função é de servir o diácono no altar, e de cantar a epistola na missa solene. Para ordená-lo o bispo manda ao ordinando tocar o cálice, a patena e o livro das epístolas. O subdiácono obriga-se a castidade perpetua e à recitação cotidiana do ofício divino.
14. Na parte última, à direita, o bispo confere a ordem sacra do diaconato. As funções do diácono são de ajudar o sacerdote à missa, de cantar o Evangelho, de pregar e batizar. Hoje em dia o diácono não pode pregar nem batizar sem especial licença do bispo. Confere essa ordem o bispo com a imposição das mãos, dizendo: Recebe o Espírito Santo, para teres a força de resistir ao demônio e às suas tentações.
15. Enfim na parte média, o bispo confere a ordem de sacerdote, cujas funções são dizer missa, pregar e administrar os sacramentos. Confere o bispo esta ordem com a imposição das mãos sobre os ordinandos, e com ele todos os sacerdotes presentes; manda tocar o cálice com vinho e a patena com a hóstia, dizendo ao mesmo tempo: Recebe o poder de oferecer a Deus o sacrifício e de celebrar a missa pelos vivos e pelos mortos.  



Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

domingo, 22 de julho de 2018

A Extrema Unção




1. A Extrema Unção é um sacramento instituído por Jesus Cristo para alívio espiritual e corporal dos enfermos.
2. Chama-se unção, porque consiste em ungir o enfermo com azeite de oliveira bento pelo bispo.
3. Diz-se extrema porque é a última entre as unções que se dão nos sacramentos da Igreja, e também porque se dá no fim da vida.
4. Chama-se também Santos Óleos, porque, como já se disse, a sua matéria é o óleo ou azeite bento pelo bispo na quinta-feira santa.
5. Este sacramento produz na alma os seguintes efeitos: apaga os restos dos pecados e as faltas veniais, dá graças e fortaleza à alma para combater com o demônio naquele último transe. 
6. E quanto ao corpo, a Extrema Unção ajuda também a receber a saúde do corpo, se esta for útil para a salvação da alma.
7. O ministro deste sacramento é só o pároco, ou qualquer sacerdote por ele autorizado.
8. A Extrema Unção deve administrar-se aos enfermos que estão em perigo de vida. 
9. Não se deve esperar que estejam no último artigo da morte; é muito proveitoso que estejam ainda em seu juízo, e tenham alguma esperança de vida.
10. Pode dar-se aos meninos. logo que cheguem ao uso da razão, posto que não tenham ainda comungado. 
11. Pode dar-se em toda a doença perigosa, e até na mesma doença pode receber-se mais de uma vez, se o enfermo, depois de o ter recebido, se restabelecer e depois tornar a cair em perigo de vida.
12. As disposições necessárias para receber este sacramento são: estar em graça de Deus, porque é um sacramento de vivos, e recebê-lo com sentimento de fé, esperança, resignado. Por consequência, se o enfermo estiver em estado de pecado mortal, deveria fazer antes uma boa confissão. Se não pudesse confessar-se, deveria fazer um ato de contrição, com voto de confessar-se. 
13. As unções fazem-se nos sentidos do corpo do enfermo, nos olhos, nos ouvidos, no nariz, na boca, nas palmas das mãos, nas plantas dos pés, e ao peito, se for possível.
14. Fazem-se as unções em todas as partes do corpo para que Nosso Senhor, por virtude deste sacramento, perdoa o que o enfermo delinquiu pelos olhos, ouvidos, nariz, mãos e pés, etc.
15. O enfermo, enquanto recebe este sacramento, deve acompanhar com o coração as orações que diz o sacerdote, e pedir perdão a Deus dos pecados cometidos pelo mal uso dos sentidos.
16. O sacerdote diz certas orações quando administra a Extrema Unção para alcançar de Deus, a favor do enfermo, a graça do sacramento. 
17. Os que assistem devem orar a Deus do coração e encomendar à sua misericórdia a vida e a salvação do enfermo.
18. Depois de recebida a Extrema Unção, o doente deve: 1º dar graças a Deus pelo benefício que lhe concedeu com este sacramento; 2º resignar-se inteiramente à sua vontade; 3º não pensar noutra coisa mais senão em Deus e na eternidade.
19. O santo concílio Tridentino diz: Se alguém disser que a Extrema Unção não é um verdadeiro sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, seja anatemasiado.
20. Somos obrigados a advertir os doentes para receberem os últimos sacramentos e é o maior serviço que lhes podemos fazer, pois que muitas vezes disso depende a salvação eterna. Se não podermos adverti-los diretamente, ao menos devemos prevenir o pároco da sua freguesia.
21. Quando o doente estiver em agonia, devem os assistentes rezar as orações dos agonizantes a aspergi-lo com água benta.



Explicação da gravura


22. A gravura representa um Apóstolo administrando os santos óleos a um enfermo. Vê-se um anjo com uma inscrição: Aquele que dentre vós estiver doente chame o sacerdote e que este o unja em nome do Senhor, que o aliviará, e perdoará os seus pecados. Vê-se outro anjo que lhe aponta o céu, mostrando-lhe ao mesmo tempo uma coroa.



Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

A Penitência



1. A Penitência é um sacramento instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo.
2. Recebemos o sacramento da Penitência quando o sacerdote nos dá a absolvição. Absolvição é a sentença que o confessor pronuncia em nome de Jesus Cristo para se perdoarem os pecados do penitente bem disposto. 
3. Para receber válida e frutuosamente a absolvição são necessárias três coisas que se chamam as três partes do sacramento da Penitência, e também os três atos do penitente, a saber: contrição, confissão e satisfação. Das três, a mais necessária e indispensável é a contrição, que em certos casos pode suprir as outras. 


A Contrição

4. A contrição é um verdadeiro desgosto da alma, uma dor de coração e uma detestação do pecado cometido, com propósito firme de nunca mais pecar.
5. A contrição é perfeita, ou imperfeita, a qual se chama também atrição. A contrição perfeita é uma dor pela qual nos pesa de termos ofendido a Deus, por ele ser infinitamente bom, infinitamente amável, e porque o pecado lhe desagrada. - A contrição imperfeita ou atrição é uma dor de ter ofendido a Deus causada ordinariamente pela torpeza do pecado, pelo temor do inferno ou pela perda do paraíso.
6. A melhor é, sem dúvida alguma, a contrição perfeita, que promanando do amor de Deus e sendo por ele aperfeiçoada, perdoa todos os pecados, com tanto que se tenha vontade de confessa-los. O ato de contrição perfeita equivale pois ao ato de caridade perfeita que perdoa todos os pecados.
7. A atrição não basta para alcançar o perdão dos pecados senão sendo por meio da absolvição no sacramento da Penitência, porque a atrição dispõe somente para impetrar o perdão dos pecados e a graça de Deus.


A Confissão


8. A confissão sacramental é uma acusação dos próprios pecados, feita a um sacerdote para isso aprovado, a fim de receber a absolvição. Digo acusação, porque os pecados não se devem contar como uma história, mas com ânimo de se acusar o pecador a si mesmo, e de querer tomar de si severa vingança. 
9. Foi Nosso Senhor quem estabeleceu a confissão quando deu a seus ministros o poder de perdoar ou não perdoar os pecados, porque o sacerdote não pode julgar se deve ou não perdoá-los, sem conhecê-los, e em consequência, sem os ouvir em confissão.
10. Para a confissão ser válida, o pecador deve acusar todos os pecados mortais que cometeu, com o número deles e as circunstâncias que mudam ou aumentam a malícia do pecado. Para isso há de fazer o exame de consciência que é uma busca diligente dos pecados cometidos. 
11. Não é necessária para ter uma boa confissão a acusação dos pecados veniais, mas é muito útil acusá-los.


A Satisfação

12. Chama-se satisfação a penitência sacramental que o confessor impõe e pela qual se satisfaz a Deus pelos pecados cometidos. Esta penitência impõe-se para castigo do pecado e para remédio das enfermidades do penitente. Quem se confessar com intenção de não cumprir a penitência não fica absolvido.
13. Devemos também satisfazer o próximo, se lhe tivermos causado algum dano, como está explicado nos mandamentos da lei de Deus. Quem se confessar com intenção de não restituir ou não reparar os danos causados ao próximo, não fica absolvido.



Explicação da gravura

14. A parte principal da gravura representa a Nosso Senhor instituindo o sacramento da Penitência, quando deu a seus discípulos o poder de ligar e desligar, dizendo: Os pecados serão perdoados àqueles a quem os perdoardes, e não serão perdoados àqueles a quem não os perdoardes. 
15. No ângulo superior direito vês-se o paralítico a quem Jesus perdoou primeiro os pecados, e depois lhe disse: Levanta-te e anda. No ângulo superior esquerdo vê-se a pecadora Madalena ajoelhada e chorando aos pés de Jesus, que lhe diz: Vai em paz: são-te perdoados os teus pecados.
16. Na parte inferior, à direita, vê-se saindo do confessionário, perdoado, a um pecador que fez uma boa confissão, e do lado oposto a um pecador que não alcançou o perdão por ter feito uma confissão nula.




Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

A Confirmação [Crisma]



1. A Confirmação ou Crisma é um sacramento que confere aos batizados a plenitude do Espírito Santo, para os fazer perfeitos cristãos, fortificando-os na fé e aperfeiçoando as outras virtudes e dons que tinham recebido no Batismo.
2. Este sacramento chama-se confirmação porque reforça e confirma os cristãos na nova vida que receberam no batismo. A palavra Crisma significa unção, e este sacramento chama-se também crisma porque se unge a testa de quem o recebe.
3. As disposições necessárias para receber a confirmação são: 1º que a pessoa que se há de crismar seja batizada; 2º que esteja instruída nos mistérios da fé e nas coisas pertencentes a este sacramento; 3º que esteja em estado de graça.
4. O ministro do sacramento da confirmação é o bispo, porque, com a confirmação, dá-se o último  complemento ao ser de cristão, e por isso o conferi-lo pertence ao bispo, que tem a plenitude do sacerdócio.
5. Para administrar este sacramento, o bispo: 1º estende as mãos sobre os que vão ser confirmados, invocando sobre eles o Espírito Santo; 2º faz uma unção em forma de cruz com o santo óleo do crisma na testa de cada um deles.
6. Para dar  a fórmula a esta matéria, o bispo diz estas palavras: Eu te marco com o sinal da cruz, e te confirmo em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo. Dá depois uma leve bofetada na face do crismado, dizendo: a paz esteja contigo.
7. A imposição das mãos significa a proteção de Deus pela presença do Espírito Santo.
8. O crisma é um composto de azeite de oliveira e de bálsamo que se forma na quinta-feira santa com a consagração do bispo. O crisma significa a mansidão e a força da graça do Espírito Santo, e o bom cheiro das virtudes cristãs que deve praticar o que é crismado.
9. Na unção faz o bispo o sinal da cruz para mostrar que toda a virtude e graça deste sacramento vem da morte de Jesus Cristo.
10. O bispo faz a cruz na testa do crismado para que o cristão se não envergonhe de confessar publicamente a fé de Cristo, e lhe dá depois uma leve bofetada na face para o advertir que deve estar pronto a sofrer toda a espécie de afronta por amor de Jesus Cristo.
11. Os dons do Espírito Santo que recebemos na confirmação são sete, a saber: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
A sabedoria é um dom pelo qual só estimamos a Deus e as coisas do céu, o desprezamos tudo o que não é Deus. Pelo dom de inteligência compreendemos, quanto o permite o nosso limitado espírito, as verdades da religião. Pelo dom de conselho nos ensina o Espírito Santo a tomar, nas coisas duvidosas, o melhor caminho para a glória de Deus. Consiste o dom de Fortaleza no ânimo, valor e constância com que encaramos e vencemos as dificuldades e obstáculos que se nos opõem a darmos glória a Deus e a fazermos a sua vontade. Pelo dom de ciência o homem sabe evitar os perigos de sua salvação e caminhar seguro para o céu. O dom de piedade é uma propensão para a virtude e seus atos e especial horror ao pecado. O dom de temor de Deus consiste na grande veneração que devemos ter a Deus e às suas ameaças e juízos, e no receio de o ofender com o pecado. Há três espécies de temor, mundano, servil e filial; o temor mundano é aquele que nos faz fugir do pecado para evitar um mal temporal; o temor servil faz fugir o pecado pelo receio da pena; o temor filial nos faz fugir o pecado porque desagrada a Deus. Só este último temor é dom do Espírito Santo.
12. O sacramento da confirmação não é necessário para a salvação; mas não o devemos desprezar, para não nos tornarnos culpados de negligência em coisa tão santa e tão útil.

Explicação da gravura

13. A parte principal representa a São Pedro e a São João ministrando a confirmação aos fiéis de Samaria. A parte inferior representa um bispo crismando as crianças numa igreja.



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Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

A Eucaristia



1. A Eucaristia é um sacramento em que, depois da consagração do pão e do vinho, se contêm real e substancialmente, debaixo das espécies de um e de outro, o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
2. A palavra Eucaristia quer dizer ação de graças, porque, com este sacramento, damos graças a Deus de todos os benefícios que dele temos recebido.
3. A Eucaristia foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo na última ceia que celebrou com seus discípulos, na véspera da sua paixão.
4. Para instituí-la, tomou nas suas mãos um pão abençoou-o, partiu-o, e apresentou-o a seus discípulos dizendo: Tomai e comei; isto é o meu corpo. Tomou depois o cálice de vinho, abençoou-o, e apresentou-o a seus discípulos dizendo: Bebei, isto é o meu sangue.
5. Por essas palavras Jesus Cristo obrou aquilo que disse, converteu o pão no seu corpo, e o vinho no seu sangue, conversão que se chama transubstanciação, quer dizer, conversão de uma substância em outra substância.
6. Nosso Senhor acrescentou depois estas palavras: Fazei isto em memória de mim - para dar aos Apóstolos, aos Bispos e sacerdotes o poder de converterem, como ele, o pão em seu corpo, e o vinho em seu sangue.
7. O pão converte-se no corpo e o vinho no sangue de Jesus Cristo em virtude das palavras da consagração que o sacerdote profere na hóstia e o vinho o cálice de modo que, feita a consagração, não há mais pão nem vinho, porque toda a substância do pão e do vinho se converteu no corpo e sangue de Jesus Cristo, sem que fique do pão e do vinho mais do que os acidentes, que chamamos de espécies sacramentais.
Esses acidentes ou  espécies sacramentais são tudo aquilo que aparece aos nossos sentidos no pão e no vinho consagrado, isto é a figura, a cor, o cheiro e o sabor de um e do outro. Os acidentes existem milagrosamente.
8. Debaixo das espécies do pão não está só o corpo de Jesus Cristo; está também o sangue, a alma e a divindade, como debaixo das espécies do vinho está também o corpo, a alma e a divindade, por concomitância, isto é, acompanhamento, porque as coisas inseparáveis vão sempre acompanhadas. Na Hóstia, o Senhor está oculto debaixo das espécies do pão e no cálice debaixo das espécies do vinho. Enquanto à Hóstia, as palavras falam só no corpo, mas como está vivo, não pode estar o corpo sem o sangue, a alma e a divindade; enquanto ao cálice, as palavras só falam no sangue, mas como o Senhor está vivo, não pode estar o sangue sem o corpo, alma e divindade, a qual é inseparável tanto da alma como do corpo.
9. Consagra-se o sangue separadamente do corpo para significar a separação do sangue do corpo de Jesus Cristo na cruz.
10. Jesus Cristo não deixa o céu para fazer-se presente na Eucaristia, mas está presente ao mesmo tempo no céu à direita do Pai e no altar, milagre que se chama Presença Real.
11. Jesus Cristo está presente em todas e em cada uma das hóstias consagradas. Não se divide o corpo do Senhor quando se divide a hóstia, mas somente as espécies do pão, e Jesus Cristo fica inteiro em todas e em cada uma das partes da Hóstia.
12. Jesus Cristo se ocultou debaixo das espécies do pão e vinho para nos manifestar que ele é o sustento e o conforto espiritual da nossa alma.
13. Devemos adorar a Eucaristia com o mesmo culto de latria que é devido ao verdadeiro Deus.
14. Recebemos o sacramento da Eucaristia na sagrada comunhão, que nos une intimamente a Jesus Cristo; conserva e aumenta as forças da alma; preserva-nos das tentações e quedas espirituais; livra-nos das culpas veniais e cotidianas; reprime a rebeldia da carne; ministra-nos uma grande virtude para adquirir a eterna glória.
15. Sendo a Eucaristia um sacramento dos vivos, para recebê-la é necessário o estado de graça. Receber a Eucaristia em estado de pecado mortal é cometer um pecado horrível chamado sacrilégio. Foi o pecado de Judas o traidor.


Explicação da gravura

16. A gravura representa a instituição da Eucaristia, e a comunhão dos fiéis cristãos.



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Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

domingo, 3 de junho de 2018

O Batismo


Os sacramentos em geral

1. O sacramento é um sinal visível da graça invisível, instituído para nossa santificação.
2. Chama-se ao sacramento sinal visível de graça, porque não só confere a graça, mas também a significa ou representa por meio de coisas sensíveis.
3. Nosso Senhor Jesus Cristo, instituiu os sacramentos deixando neles a virtude dos seus merecimentos. E instituiu-os a fim de nos comunicar as graças necessárias para a nossa santificação.
4. Os sacramentos são sete, a saber: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio.
5. Sabemos que há sete sacramentos e que não são nem mais nem menos pela doutrina constante e pela tradição da Igreja.
6. Para fazer o sacramento requerem-se três coisas: matéria, fórmula e intenção do ministro. A matéria é aquela coisa que se emprega para fazer o sacramento, como a água no Batismo. A fórmula são as palavras que se proferem quando se administra o sacramento. A intenção do ministro é a vontade de fazer o que faz a Igreja.
7. Há duas espécies do sacramentos, os sacramentos de vivos e os sacramentos de mortos.
8. Sacramentos de vivos são: Confirmação, Eucaristia, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio. Chama-se assim, porque para os receber digna e proficuamente é necessário que a alma viva da vida da graça.
9. São dons os sacramentos de mortos: Batismo e Penitência. Chama-se assim, porque são instituídos para aqueles que estão mortos para a graça de Deus.
10. Há três sacramentos que podemos receber somente uma vez, o Batismo, a Confirmação e a Ordem, porque imprimem em nossa alma um caráter indelével, isto é, que não se apaga nunca.
11. Os sacramentos de necessidade são os cinco primeiros, sendo os dois últimos de livre escolha.
12. Os efeitos dos sacramentos são dois; o primeiro e principal é conferirem os sacramentos de mortos a graça santificante, e o aumento da graça no sacramento de vivos; o segundo é o caráter que imprimem alguns deles. Além da graça santificante, conferem os sacramentos a graça sacramental, a qual, com quanto não seja distinta da santificante, acrescenta certo auxílio divino para conseguir o fim do sacramento que a causa e de que ele toma o nome. 
13. Todos aqueles que recebem os sacramentos recebem o caráter; porém a graça recebem-na só aqueles que se acham dispostos.
14. O ministro ordinário dos sacramentos é: O Papa em todo o orbe católico, o Bispo na própria diocese e o Pároco na sua paróquia. 

O Batismo

15. O batismo é o primeiro e o mais necessário de todos os sacramentos, no qual, pela ablução exterior e a invocação da Santíssima Trindade, o homem é purificado de todos os seus pecados.
16. O batismo produz os seguintes efeitos: 1º aos meninos lava-os da culpa original, e aos adultos perdoa-lhes também os pecados atuais que tiverem cometido até então e a pena que lhes é devida; 2º faz-nos filhos de Deus por adoção; 3º faz-nos membros da Igreja; 4º dá-nos direito à herança celestial.
17. A matéria deste sacramento é a água simples e natural, isto é, toda a água que não é artificial ou destilada.
18. A formúla são as palavras seguintes: Eu te batizo [ N...] em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, - que devem ser pronunciadas pela pessoa que batiza. 
19. Para batizar, deve lançar-se a água sobre a cabeça da criança, dizendo ao mesmo tempo as palavras da fórmula e tendo intenção de fazer o que faz a Igreja.
20. O ministro ordinário do batismo é o Bispo, o pároco ou um sacerdote com delegação sua.
21. Em caso de necessidade todo homem ou mulher pode batizar, mas sem as cerimônias da Igreja. A criança assim batizada deve pois ser levada à Igreja para receber os santos óleos e as cerimônias, e para se lhe abrir assento no registro paroquial.


Explicação da gravura

22. A gravura representa na parte superior o batismo de Nosso Senhor, e na parte inferior o batismo de uma criança.




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Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

A GRAÇA


1. Não podemos observar os mandamentos, praticar a virtude, evitar o pecado só com as nossas forças: é-nos precisa a graça de Deus.
2. A graça é um dom sobrenatural, que Deus nos concede gratuitamente em virtude dos merecimentos de Jesus Cristo para efetuar a obra da nossa salvação.
3. Há duas espécies de graça, a graça habitual, ou santificante, e a graça atual ou auxiliante.
4. A graça habitual ou santificante é um dom sobrenatural, estável e permanente, que o Espírito Santo infunde gratuitamente pelos merecimentos de Jesus Cristo em nossa alma, a fim de tornar aceita e agradável a Deus e herdeira do paraíso. Esta graça é muito apreciável; é a graça por excelência, aquele dom perfeito, superior a todos os dons e sem o qual todos eles são perdidos, porque, sem a graça santificante, não há salvação para o homem.
5. Podemos perder esta graça; basta um só pecado mortal para nos fazer perder a graça habitual.
6. A graça atual ou auxiliante, é todo o auxílio divino e de momento, que nos excita, nos move e ajuda a praticar a virtude e a fugir do mal.
7. A graça atual é-nos tão necessária, que sem ela não podemos fazer coisa alguma útil para a salvação.
8. Deus concede-nos a graça atual todas as vezes que é necessária, e que a pedimos devidamente.
9. Podemos infelizmente resistir à graça, e lhe resistimos demasiadas vezes.
10. A graça atual é um socorro ou interior, ou exterior. A graça auxiliante interior consiste na luz sobrenatual que Deus dá ao entendimento e nos bons movimentos que dá aos corações. A graça atual exterior consiste nos sermões, nos bons exemplos, nos bons conselhos, nos milagres, nos castigos dos pecadores, até nas doenças e enfermidades, etc, enfim em todo o auxílio exterior que nos leva ao cumprimento de nossos deveres.
11. Não podemos merecer os auxílios da graça: Nosso Senhor os dá gratuitamente; mas podemos perdê-los.
12. Deus dá a graça atual a todos os homens, porque quer que todos os homens se salvem, e porque Nosso Senhor morreu na cruz por todos.
13. Podemos alcançar a graça de Deus por dois meios: pelo uso dos sacramentos recebemos a graça santificante; e pela oração a graça auxiliante.
14. A graça habitual, já o dissemos, perder-se pelo pecado mortal, e diminui pelo pecado venial.
15. Podemos recuperar a graça perdida pelo sacramento de Penitência, ou por um ato de contrição perfeita, acompanhado do desejo de nos confessarmos.
16. Geralmente falando, pode chamar-se graça a todo o favor que Deus nos faz; e neste sentido, a multidão inumerável de benefícios que temos recebido desde o primeiro instante do nosso ser, e que estamos recebendo em todos os momentos da nossa vida são outras tantas graças que Deus nos dispensa e que estão pedindo o nosso continuo e eterno agradecimento.
17. A posse da graça habitual chama-se estado de graça. Neste feliz estado, amamos a Deus e Deus nos ama, e todas as nossas ações, mesmo as mínimas, tornam-se sobrenaturais e merecedoras do paraíso.

Explicação da gravura

18. Na parte superior à direita, São Paulo está representado dando-nos o exemplo da fidelidade à graça. Um dia, como se dirigia à cidade de Damasco com intenção de prender todos os cristãos que nela encontrasse, ouviu uma voz que lhe disse: Saulo, Saulo, por que me estás perseguindo? Respondeu-lhe: Quem sois, Senhor? E a voz respondeu-lhe: Sou Jesus a quem tu persegues. E São Paulo disse: Senhor, que quereis que eu faça?
19. Na parte superior esquerda, vê-se a Nosso Senhor falando com a mulher samaritana.
20. A alma em estado de graça está representada por uma virgem com um lírio na mão. Está olhando para o céu e o Espírito Santo habita no seu coração. A alma em estado de pecado está representada por uma mulher, presa com cadeias pelo demônio que tomou posse do seu coração.



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Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Catecismo - Duodécimo artigo (continuação): Creio na vida eterna.


O Inferno

1. O inferno é um lugar de tormentos, no qual estão os condenados, para sempre separados de Deus, e sofrendo suplícios eternos com os demônios.
2. Os que vão para o inferno são todos os que morrem em pecado mortal.
3. O tormento dos condenados no inferno consiste  em duas penas, a pena do dano e a dos sentidos.
4. A pena do dano consiste em uma grande aflição de terem perdido por sua culpa a bem-aventurança, e de serem privados para sempre da vista de Deus.
5. A pena dos sentidos consiste principalmente no fogo eterno, que Jesus Cristo mencionou no seu Evangelho e noutras penas.
6. As penas do inferno hão de durar sempre. Jesus Cristo, com efeito, declara no Evangelho que no juízo final os maus serão condenados ao fogo eterno, e numa outra passagem repete três vezes que o bicho que roe os condenados nunca há de morrer, e que o fogo que os devora nunca se há de apagar.
7. Assim como no céu os escolhidos serão premiados infinitamente, e por assim dizer, divinamente; do mesmo modo no inferno os condenados serão infinitamente e divinamente castigados.
8. Todos os condenados ficarão para sempre privados da vista e presença de Deus; mas a gravidade das outras penas será proporcional ao número e qualidade dos pecados que cometeram.
9. A lembrança do inferno é muito própria para reprimir as paixões e afastar os homens do pecado. Com efeito, seria preciso ser arrastado ao mal com uma violência extrema, para não sermos reconduzidos à pratica da virtude por este salutar pensamento, de que um dia teremos de comparecer perante o supremo Juiz que é a própria justiça, e dar-lhe conta não só de todas as nossas ações e palavras, mas também dos mais secretos pensamentos, e sofrer o castigo merecido.


Explicação da gravura


10. Dá-nos a gravura uma pequena ideia do inferno. Na parte superior veem-se sete entradas marcadas com as iniciais dos sete pecados capitais. A letra O designa o orgulho ou soberba, A avareza, L luxúria, I inveja, G gula, C cólera ou ira, P preguiça. Isto indica que os pecados capitais são os que principalmente levam o homem ao inferno. Sobre cada letra está um animal simbólico. O 
pavão representa o orgulho, o sapo a avareza, o bode a luxúria, a serpente a inveja, o porco a gula, o leão a ira, a tartaruga a preguiça.
11. O fogo é a pena comum a todos os condenados, sofrendo cada um conforme os seus pecados.
12.  Na letra O veem-se os orgulhosos arrastados aos pés de Lúcifer e obrigados a ajoelhar-se diante dele, porque na vida não quiseram adorar a Deus.
13. Na letra A veem-se os avarentos com uma bolsa no pescoço, significando que eles preferiram os bens terrenos aos do paraíso.
14. Na letra L veem-se os impuros feridos cruelmente pelos demônios.
15. Na letra I os invejosos são enlaçados por terríveis repteis.
16. Na letra G vemos os que pecam por gula, que são devorados por uma fome e sede cruéis.
17. Na letra C os coléricos e vingativos arrancam desesperados os cabelos.
18. Na letra P os preguiçosos são picados com pontas de fogo e encerrados nas chamas eternas.
19. Os transgressores dos dez mandamentos e os profanadores dos sete sacramentos são esmagados por um animal de sete cabeça e dez pontas. 
20. Na parte inferior esquerda, veem-se centauros esmagando os hereges, e os que combateram a religião com maus livros e maus jornais.
Ao centro vê-se um relógio que marca sempre a mesma hora, que é a eternidade. Quer-se significar com isto que as penas dos condenados durarão para sempre e que uma vez entrados no inferno, nunca jamais dele hão de sair.




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Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Catecismo - Duodécimo artigo: Creio na vida eterna



1. Devemos ver neste artigo que depois desta vida há de haver outra que há de durar para sempre, os bons com glória eterna no céu, e os maus com penas eternas no inferno.
2. Sabemos que há de haver outra vida depois desta, porque Deus nos revelou, e que uma outra vida é necessária para prêmio dos bons e castigo dos maus. 

O céu

3. O céu ou paraíso é um lugar de delícias, no qual os Anjos e os Santos gozam duma felicidade eterna e perfeita pela vista e posse de Deus.
4. Os que vão para o céu são aqueles que, tendo morrido em estado de graça, satisfizeram inteiramente a justiça de Deus.
5. Nem todos os bem-aventurados gozarão do mesmo prêmio; todos verão a Deus, mas a felicidade será à proporção dos seus merecimentos.
6. Sabemos que os santos veem Deus no céu, pelas palavras de Nosso Senhor dizendo: Bem-aventurados os de coração puro, porque verão a Deus.
7. A felicidade dos céus é tão grande, que não podemos compreendê-la cá na terra, onde nada pode dar-nos uma ideia do que é o céu. São Paulo diz: Os olhos do homem não viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais veio ao coração do homem o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
8. A felicidade eterna consiste, dizem os santos Padres, na ausência de todo o mal e na posse de todo o bem. No que toca ao mal, lemos no Apocalipse de São João: Os bem-aventurados não terão fome nem sede nunca jamais, nem cairá sobre eles o sol nem ardor algum. Deus lhes enxugará todas as lágrimas de seus olhos, e não haverá mais morte, nem mais choro, nem mais gritos, nem mais dor, porque as primeiras coisas são passadas. No que toca aos bens, a glória dos escolhidos será imensa, possuirão ao mesmo tempo todos os gozos, todas as delícias, porque possuirão a Deus, fonte de infinita felicidade.
9. Atualmente, os santos estão no céu só em alma; os seus corpos não entrarão ali senão depois da ressurreição e do juízo final.
10. Os bem-aventurados hão de contemplar Deus eternamente, e esse dom, o mais excelente e admirável de todos, os tornará participantes da natureza mesmo de Deus e lhes dará a posse completa e definitiva da verdadeira felicidade.

Explicação da gravura

11. Esta gravura representa o céu. Ao centro estão as três Pessoas divinas assentadas num triângulo sobre um trono de glória, cercado pelos anjos. Muitos deles tocam instrumentos diversos, outros queimam incenso em turíbulos. A Virgem Santa, sua Rainha, está a frente deles, à direita de Jesus Cristo seu filho e num trono inferior ao trono de Deus mas superior a tudo o que não é Deus.
12. No segundo plano, figuram, à direita, São João Batista, Moisés, Davi, Abraão e outros santos do Velho Testamento; à esquerda, São José, São Pedro e os outros Apóstolos, um Evangelista com um livro, e muitos santos do Novo Testamento.
13. No terceiro plano veem-se outros santos, entre os quais alguns mártires, como Santo Estevão; santos pontífices, um santo Rei, virgens santas e mártires, como Santa Cecília e Santa Catarina e santas mulheres, como Santa Maria Madalena.
14. Santo Estevão segura na mão uma pedra, porque sofreu o martírio do apedrejamento.
15. Santa Cecília tem uma harpa, porque cantava louvores a Deus ao som de instrumentos músicos.
16. Santa Catarina tem aos pés uma roda quebrada, porque a condenaram à morte por meio de uma roda armada de instrumentos cortantes, mas a roda quebrou-se, mal a puseram em movimento.
17. Santa Maria Madalena segura num vaso, porque derramou um dia sobre a cabeça de Nosso Senhor um vaso cheio de precioso perfume.



Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

terça-feira, 8 de maio de 2018

1º de Maio - São Filipe, apóstolo.

 
 
 
Filipe significa "ponta de lâmpada" ou "ponta das mãos", ou vem de philos, "amor", e uper, "acima", portanto "amante das coisas superiores". Por "ponta de lâmpada" entende-se sua luminosa pregação, por "ponta das mãos" suas constantes boas obras, por "amante das coisas superiores" sua contemplação celeste.
 
Depois de ter pregado vinte anos na Cítia¹, o apóstolo Filipe foi aprisionado pelos pagãos, que quiseram forçá-lo a sacrificar diante de uma estátua de Marte. Mas, no mesmo instante, de seu pedestal saiu um dragão que matou o filho do pontífice que cuidava do fogo do sacrifício, bem como dois tribunos cujos soldados levavam Filipe acorrentado, além de, com seu bafo, ter envenenado todos os demais presentes. Filipe disse: "Creiam-me, quebrem esta estátua e em seu lugar adorem a cruz do Senhor, que os envenenados sararão e os mortos ressuscitarão". Mas os que tinham ficado doentes gritavam: "Cure-nos que depois quebraremos a estátua de Marte". Filipe então mandou que o dragão fosse para o deserto², onde não incomodaria mais ninguém, e ele imediatamente se retirou. Em seguida Filipe curou todos e ressuscitou os três mortos.
Todos os que estavam ali se converteram, e durante um ano Filipe pregou para eles e, depois de ter ordenado padres e diáconos, foi para a Ásia, para a cidade de Hierápolis. Nesta eliminou a heresia dos ebionitas³, cujo dogma dizia que Cristo havia assumido uma carne fantástica, irreal. Estavam com ele suas duas filhas, virgens santíssimas, por meio das quais o Senhor converteu muita gente à fé. Quanto a Filipe, sete dias antes da sua morte convocou bispos e padres e disse-lhes: "O Senhor concedeu-me sete dias para aconselhá-los". Tinha então 87 anos. Depois disso, os infiéis capturaram-no e pregaram-no na cruz, como o mestre que ele apregoava, e dessa forma completou sua vida e migrou feliz para  o Senhor. A seu lado foram sepultadas suas duas filhas, uma à direita, outra à esquerda.
Eis o que ISIDORO diz de Filipe no Livro da vida, do nascimento e da morte dos santos: "Filipe pregou Cristo aos gauleses e aos seus vizinhos bárbaros que estavam nas trevas, cercados por um oceano de erros, e com a luz da ciência conduziu-os ao porto da fé. Em Hierápolis, cidade da província da Frígia, morreu lapidado e crucificado e ali repousa com suas filhas". Assim escreveu Isidoro.
Houve outro Filipe, que foi um dos sete diáconos, e sobre o qual diz Jerônimo em seu Martirológico que depois de muitos milagres e prodígios morreu em Cesaréia no dia 8 de julho. Ao seu lado foram enterradas três de suas filhas, enquanto uma quarta repousa em Éfeso. O primeiro Filipe é diferente deste, pois foi apóstolo, e o outro, diácono. Aquele repousa em Hierápolis, este em Cesareía, aquele teve duas filhas profetisas, o outro quatro, embora a HISTÓRIA ECLESIÁSTICA pareça dizer que foi o apóstolo Filipe quem teve quatro filhas profetisas. Mas é melhor confiar em Jerônimo.
 
_______________________________
1. Conforme nota 4 do capítulo 2, Cítia era o nome dado na Antiguidade à região entre o norte do mar Negro e o mar de Aral, ou seja, correspondente aos atuais territórios de várias repúblicas do sudeste da ex- União Soviética.
2. Conforme nota 1 do capítulo 15.
3. Entre os primeiros judeus convertidos ao cristianismo, os ebionitas ("pobres") eram aqueles ainda muito apegados às tradições judaicas e que não aceitavam por isso que se levasse a Nova Lei aos gentios. Esse grupo herético desapareceu no século V diante da conversão maciça de diferentes populações ao cristianismo.
 
 
 
Legenda Áurea - Vida dos Santos, Jacopo de Varazze, pg 401-02.