Na Última Ceia, Jesus transformou o pão e o vinho no seu próprio corpo e sangue. Ao mesmo tempo, mandou os seus Apóstolo repetirem a mesma ação sagrada no futuro. "Fazei isto em memória de mim", foi o encargo solene que lhes deu. Evidentemente, Jesus não manda coisas impossíveis e, portanto, juntamente com esse mandato conferiu-lhes o poder necessário para transformarem o pão e o vinho no seu corpo e sangue. Com as palavras "Fazei isto em memória de mim", Jesus converteu os seus Apóstolos em sacerdotes.
O poder de transformar o pão e o vinho no corpo e no sangue do Salvador foi transmitido pelos Apóstolos aos homens que deveriam perpetuar o seu trabalho e partilhar da sua missão quando eles se fossem embora. E estes, por sua vez, confeririam esse poder sacerdotal a outros. E assim, de geração em geração, durante estes dois mil anos, o poder do sacerdócio foi-se transmitindo por meio do sacramento da Ordem Sagrada. De bispo em bispo, chegou até os sacerdotes de hoje.
A ação litúrgica pela qual o pão e o vinho transformam-se no corpo e no sangue do Senhor é a Santa Missa. A palavra "Missa" deriva do latim missa, que significa "despedida". Por força de um costume da primitiva cristandade, este vocábulo passou a ser o nome da ação pela qual Jesus se torna presente na Eucaristia. À exceção dos batizados, ninguém estava autorizado a assistir ao Sacrifício eucarístico. Os futuros cristãos (chamados catecúmenos) tinham que deixar o recinto ao terminar a leitura do Evangelho e o sermão. Tanto a estes após o sermão, como ao resto da assembléia ao terminar a ação sagrada, o sacerdote dirigia a advertência oficial: "Ide, é a despedida", em latim Ite missa est. Pelo uso, a palavra "missa" passou a designar o Sacrifício eucarístico completo.
Teremos ocasião de estudar mais adiante a Missa como sacrifício. Aqui queremos apenas indicar que é nela que o pão e o vinho são transformados no corpo e no sangue de Cristo, mudança que tem lugar quando o sacerdote, fazendo-se instrumento livre e voluntário de Cristo, pronuncia sobre essa espécies da palavras do Senhor "Isto é o meu Corpo" e "Este é o cálice do meu Sangue". De pé no altar, como representante visível de Jesus, o sacerdote humano "aciona" o poder infinito de Cristo, e Cristo, pela força do Espírito Santo, torna-se presente no mesmo instante sob as aparências do pão e do vinho.
Nessas palavras da Missa - que são chamadas palavras da Consagração - está a essência da Missa, e só elas, e não as demais orações e cerimônias (à exceção da comunhão do sacerdote, que completa a missa), são a Missa. Isto requer, naturalmente, que o sacerdote tenha a intenção de consagrar o pão e o vinho. Se, por exemplo, almoçando a uma mesa em que houvesse pão e vinho, um sacerdote se pusesse a narrar a Última Ceia aos demais comensais, e ao fazê-lo pronunciasse as palavras da consagração, é evidente que não haveria consagração, porque o sacerdote não teria essa intenção.
Só o pão feito de trigo se pode converter no corpo de Cristo, visto Jesus ter utilizado pão de trigo na Última Ceia. Se as palavras da consagração fossem pronunciadas sobre pão feito de outra espécie de grão, como aveia, centeio ou milho, por exemplo, não haveria transubstânciação.
Qualquer pão de farinha de trigo serve. No entanto, a Igreja de rito latino requer que só se utilize pão ázimo, quer dizer, sem fermento. Esta antiquíssima lei da Igreja de rito latino baseia-se em que, com toda a probabilidade, Jesus utilizou pão ázimo, visto ter celebrado a Última Ceia "no primeiro dia dos ázimos", um período de sete dias em que os judeus só comiam pão sem fermento.
Não obstante, a Igreja Católica de rito grego, como a maioria das igrejas orientais, usa pão com fermento para a missa, e é tão missa como a nossa. Mas, quer tenha fermento quer não, o pão deve ser de trigo.
Como Jesus utilizou vinho de uva na Última Ceia, só se deve usar vinho de uva para a missa. Se as palavras da consagração se pronunciasse sobre vinho feito de outra fruta (como vinho de cerejas ou de ameixas), não produziriam efeito. O corpo e o sangue do Senhor não se fariam presentes. Só o sumo puro fermentado de uva pode ser utilizado na missa.
Uma vez que o pão e o vinho se tenham transformado no corpo e no sangue de Cristo, o nosso Salvador permanece presente enquanto as aparências do pão e do vinho se conservarem intactas. Por outras palavras, Jesus está presente na Sagrada Eucaristia não somente durante a missa, mas enquanto as hóstias consagradas na missa continuarem a manter as aparências de pão. Isto quer dizer que devemos à Eucaristia a adoração que se deve a Deus, já que a Sagrada Eucaristia contém o próprio Filho de Deus. Adoramos a Eucaristia com culto de latria, que é o culto reservado exclusivamente a Deus.
Na Igreja primitia, a adoração a Jesus sacramentado era praticada apenas dentro da missa. A devoção ao Santíssimo Sacramento fora dela - tão familiar nos nossos dias - desenvolveu-se lenta e gradualmente. Parece que os cristãos demoraram bastante tempo a perceber plenamente o tesouro que tinham na Eucaristia. Só no século XII é que nasceu o costume de reserva a Sagrada Eucaristia para a adoração dos cristãos fora da missa. A partir daí, a devoção ao Santíssimo Sacramento desenvolveu-se rapidamente.
"A sagrada Reserva (no Sacrário) era a princípio destinada a guardar, de maneira digna, a Eucaristia, para poder ser levada aos doentes e ausentes, fora da missa. Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo na sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente sob as espécies eucarísticas. Por isso, o sacrário deve ser colocado em lugar particularmente digno da igreja; deve ser construído de tal modo que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento" (n. 1379; cf. também os ns. 1378 e 1380-1).
Hoje, em cada igreja católica, há um tabernáculo, um sacrário. Esse tabernáculo (do latim tabernaculum, que significa "tenda") é uma caixa coberta normalmente com um véu, que se identifica por uma luz que arde na lamparina do sacrário. Dentro dela, Jesus está presente, tanto na hóstia grande que se usa na bênção solene, e que se guarda numa caixa de metal, como nas hóstias pequenas, guardadas numa copa - o cibório -, que é utilizada para distribuir a comunhão aos fiéis.
A partir do momento em que se começou a estender a devoção à Sagrada Eucaristia fora da missa, três práticas devotas se tornaram universais: a festa e procissão do Corpus Christi, a exposição e bênção com o Santíssimo Sacramento e a devoção das Quarenta Horas.
A festa do Corpus Christi, do Corpo de Cristo, originou-se na diocese de Liège, na Bélgica, no ano de 1246, e dezoito anos mais tarde o Papa Urbano IV estendeu-a a toda a Igreja. O Corpus Christi é celebrado sempre na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade. Parte da celebração consiste na procissão do Corpus, que pode ser nesse dia ou no domingo seguinte, se houver razões para isso. Na procissão, a Sagrada Eucaristia é levada na chamada custódia ou ostensório, que significa literalmente "caixa para mostrar". O ostensório é uma caixa circular de ouro, prata ou metal, montada sobre um suporte. Nas procissões e nas bênçãos solenes, a lúnula que contém a Sagrada Hóstia é inserida no ostensório, para que todos os participantes a possam ver.
O rito eucarístico a que chamamos bênção com o Santíssimo Sacramento foi introduzido gradualmente a partir da instituição da festa do Corpus Christi. Tornou-se costume expor o Santíssimo Sacramento para adoração dos fiéis, e logo houve um desenvolvimento adicional desse costume, concluindo-se o ato com a bênção dos assistentes, que o sacerdote dá com o Santíssimo. O rito da bênção, tal como hoje o conhecemos, remonta ao século XIV. Consiste num breve período de exposição e adoração, em que se medita a Sagrada Escritura, se cantam hinos, se dizem orações, se adora e reza em silêncio, terminando com a bênção do próprio Jesus na Sagrada Eucaristia.
A devoção das Quarenta Horas foi iniciada em Milão, no século XVI. Originariamente, consistia em 40 horas ininterruptas de adoração ao Santíssimo Sacramento exposto, em comemoração das quarentas horas em que o corpo de Jesus permaneceu no sepulcro. O bispo, se o julgar oportuno, pode fixar a cada paróquia e comunidade religiosa certas datas para que cada semana, em algum lugar da diocese (a não ser que esta seja muito pequena), se assegure a prática dessa devoção e assim se oferece a Jesus sacramentado uma adoração perpétua.
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A fé explicada - Padre Leo J. Trese. Ed.Quadrante, 14ª edição, 2014.
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