"O amor é, por essência, único, constante, indefectível. São os homens que o traem." (Cmardonne)
Para corações de mulher, o amor é uma realidade maravilhosa. É a ele que aspiram, mais ou menos conscientemente, todas as raparigas, a partir dos primeiros anos de sua formação física. Sentem intensamente a necessidade de amar e ser amadas. É a idade, para as melhores ou mais preservadas, das amizades ardentes com tal ou tal companheira de estudo, das dedicações profundas e entusiastas a esta ou àquela professora; para as mais expostas, é a idade do convívio com os rapazes; para todas, dos sonhos sentimentais, das necessidades imprecisas, das impressões vivas de felicidade ou de solidão dolorosa, da expectativa de não sei que de grande, de belo, que deve torná-las prodigiosamente felizes. Saibam ou ignorem seu nome, é no Amor que pensam, é por ele que estão esperando.
Mas ei-las noivas. O amor concreto nasceu-lhes nos corações e ficam totalmente sob o encanto dele. O futuro não lhes oferece dúvida alguma. Será feliz. Sentem-se seguras daquele que escolheram. É grande, belo, forte. Teriam outras falhado no seu lar. Contam-se casos... Mas elas, apesar de tudo, não hão de falhar no seu. Tem a convicção íntima disso. O seu amor irá crescendo; a sua união será deliciosa, envolvendo o marido em tanta ternura, tanto calor de coração, e ele, em troca, será tão bom, tão dedicado, e sustê-las-á tão bem com sua força que a felicidade será durável. <<Amanhã, os dois, educaremos os nossos filhos: serão gentis, inteligentes, dóceis... e, ainda por cima, crianças encantadoras>> Tais os projetos e os sonhos de todas as noivas... Como o amor é cheio de encantos!
Seria uma tolice velas de crepe tão belos sonhos que são a alegria, o sol dos meses de noivado. De modo nenhum maldiremos o amor. Se não houver traição por parte de qualquer um dos cônjugues, será mais belo ainda na sua realidade concreta, embora ligeiramente diferente do que se havia sonhado.
Mas para que seja esse belo e grande amor que enche de sol a vida, é necessário, em primeiro lugar, ter escolhido bem o companheiro de viagem, não pela estatura, vigor físico e ar forte e decidido..., qualidades superficiais, mas pelo seu valor profundo e real, consciência, sentido do dever, coragem no trabalho, delicadeza.
Em seguida, não devemos ficar numa concepção um tanto romântica e irreal do amor, mas duplicar a sua grande riqueza sentimental nativa com uma visão clara da inteligência e com uma firme decisão da vontade de amar sempre, aconteça o que acontecer, para além das decepções parciais, dos choques inevitáveis, dos sofrimentos inelutáveis, o esposo que tivermos escolhido. Amar implica o saber perdoar e também sofrer.
O amor é grande e nobre, quando, vivido na sua plenitude, permanece fiel às suas exigências. Então é um dom total de si e um apelo total do outro.
Como um dom total de si para tornar o outro feliz, aspira a devotar-se plenamente ao ser amado, julga nulos os sacrifícios feitos pela sua felicidade. A noiva é já felicíssima, ao pensar que poderá aninhar, acarinhar, cercar duma ternura sem reservas o amado de sua alma. Não encara limitação alguma de tempo ao seu amor: é para sempre que se lhe entrega.
Ao mesmo tempo que dom total, o amor é um apelo total do outro: a noiva é atraída pela força e energia do noivo, conta com ele para apoiar a sua fragilidade; deseja dessendentar-se na sua ternura. Ser amada, não é uma das aspirações mais ardentes da mulher? Tem necessidade do noivo para derramar sobre ele os tesouros de afeto e de amor que tem dentro de si; é-lhe tão necessário que, sem ele, a vida torná-se-ia insípida, nunca seria feliz...
O amor não tolera qualquer limite, nem à amplitude do dom nem à sua duração. Todo o advérbio o trai. Diz <<Eu amo-te>>, simplesmente; teria consciência de negar a si mesmo, se dissesse <<Eu amo-te agora>>. <<Amo-te por algum tempo>>; afrouxaria dizendo: <<Amo-te muito>>; só pode dizer: <<Amo-te>>, envolvendo neste laconismo, toda a intensidade, toda a duração, e negando a restrição. O amor não prevê o divórcio, e se há noivos que o preveem, ignoram o que é amar.
O amor é total e é por isso que exige a intimidade dos corpos, dos corações e dos espíritos: a vida em comum. Sofre com as reticências, com os segredos ciosamente guardados, com as inquietações que passam no olhar, com as rugas que se cavam na fronte e que o noivo ou esposo se nega a explicar, com os recantos de sombra e mistério reservados no coração; tudo quer saber da vida anterior do bem-amado e dos seus pensamentos presentes; quer ser o único bem, exige a plenitude do coração, receia todo rival, aspira à posse total, decisiva e definitiva, à unificação, à identificação com o ser amado.
Tal é, no esplendor nativo, em toda a radiante espontaneidade, o amor dos noivos.
E, contudo, seria para desejar que este amor se não reduzisse unicamente ao sentimento expontâneo, por magnífico que seja. <<A grande, a trágica ilusão das almas amantes, é julgarem que a força e profundeza do estado afetivo oferecem uma garantia da sua duração>> (Klages). Basta olhar à nossa volta: quantos lares não começaram por felizes noivados, na febre do amor, e depois foram arrefecendo! O amor, baseado unicamente no sentimento, sofre esta lenta usura que corrói todas as coisas humanas. Se o amor se funda apenas na linha, na esbeltez, na juventude do noivo, no simples encanto das suas qualidades físicas masculinas, no atrativo espontâneo que delas resulta, com elas passará também.
Sem dúvida que são necessários essa atração e esse afeto sentimental entre os noivos e esposos. Devemos amar-nos, para vir-mos a desposarmos. Mas é necessário, além disso, que este amor seja fundado na razão e, para esse efeito, ter escolhido o noivo pelas suas qualidades profundas de consciência, de coragem no trabalho... que duram mais do que a linha e a cabeleira!
É preciso construir o amor sobre a vontade. Todas as esposas conhecem decepções. <<Desposa-se um noivo e vive-se com um marido. Não é absolutamente o mesmo homem>> (Tinayre). Para que a desilusão sentimental originada por essas decepções não varra o amor, temos que estar decididas a nutrir em nós uma afeição forte, tenaz, que perdoará, sofrerá com paciência e fará os esforços de adaptação necessários.
Temos que fundar o amor sobre a Fé. A fidelidade de coração como de corpo, é um verdadeiro dever de estado do qual devemos dar contas a Deus. Somos todas para o nosso esposo e para o nosso lar: << Doravante, não procurarei mais a quem agradar, mas sim agradar a quem escolhi>> (Alain).
Tudo isso é evidente para as noivas; tudo isso lhes parece naturalíssimo. É o que conseguem entrever no fogo do seu amor nascente. Todavia, o dom conjugal não será completo, não será amor seguramente durável, se a este ardor de sentimentos não vem juntar-se uma clara decisão da vontade; decisão de não se deixar desconcertar pelas borrascas e de amar fielmente, através dos sacrifícios possíveis e dos eventuais desencantamentos. <<Um amor não é verdadeiramente grande e durável senão na medida em que se nutre das próprias dores e decepções semeadas em seu caminho>> (Thibon).
Eis o genuino grande Amor, aquele que a noiva deve esforçar-se por manter e fazer crescer dentro de si: amor quente do coração, amor claro da inteligência, amor forte da vontade, amor- missão divina. Só ele é o amor humano em toda a sua plenitude, o amor perfeito.
Fonte: Livro A intimidade conjugal - o livro da esposa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário