Há dois tipos de vida, a perfeita e a imperfeita. A vida perfeita é a do ser que se possui e se basta, na plenitude de um movimento que nada tem a desenvolver. Essa plenitude absoluta de vida somente se encontra em Deus.
O ato divino, pelo qual Deus se possui, se conhece e se ama na Trindade de suas Pessoas, é um ato infinito; e esse ato é a vida de Deus em si mesmo.
No céu, terei a plenitude de vida da qual o meu ser se tiver tornado capaz; e possuirei, sem fim e sem mudança, em um ato pleno que mobilizará toda a minha força vital, o desenvolvimento que tiver atingido. Esta será, em minha medida própria e acabada, a vida perfeita.
Aqui na terra, a vida é imperfeita. - E o que é a vida imperfeita? É o movimento de aquisição, pelo qual um ser se desenvolve. O princípio de atividade interna vai crescendo e se dilatando em sua ação. É uma vida que se faz, que se constrói, que se organiza, e cujo sinal característico é, portanto, a aquisição e o crescimento. O crescimento do ser imperfeito é a manifestação essencial de sua vida. E essa é a condição da minha vida presente.
20. Natural e sobrenatural. - Sou feito para viver: que quer dizer isto? Quer dizer que sou chamado a desenvolver em mim os frutos da santidade neste mundo, a fim de possuir no céu, como desfecho e para sempre, a vida eterna (Rm 6,22). A vida deste mundo é um crescimento, a vida do céu é uma posse, e ambas constituem a atividade própria do meu ser.
Tenho uma alma e um corpo; a alma vive por si mesma, com uma vida recebida de Deus; e o corpo vive por meio da alma que o anima. A alma pode agir; e ela age, por meio das faculdades que possui. O corpo pode agir; e ele age, por meio das capacidades que lhe são próprias, e que são animadas e regidas pela alma. Esta possui toda uma organização de faculdades cognitivas, volitivas e ativas; e aquele possui uma série de orgãos que se conectam às faculdades da alma e agem por meio delas. Na ação e no desenvolvimento dessas faculdades e dessas potências consiste a minha vida natural.
Tenho também, pela graça de Deus, uma outra vida; isto é, uma outra capacidade de agir e crescer; não mais por mim, mas por Deus. É a vida sobrenatural onde Deus, unindo-se à minha natureza por um liame inefável, eleva-me acima de mim mesmo, e concede às minhas faculdades o poder de realizar atos divinos. Ele mesmo se torna, então, a vida de minha vida, a alma de minha alma: mistério de amor!
E essa vida é a vida sobrenatural, quer dizer, a vida eterna 7; pois é o desenvolvimento, aqui na terra, da vida que possuirei no céu.
21. Crescei. - Sou feito para viver e somente para viver. - Que farei no céu? - Viverei, sem fim, no ato único do louvor eterno, fonte eterna de bem-aventurança. - Que devo fazer aqui na terra? - Devo viver, isto é, desenvolver-me, uma vez que a vida imperfeita, a única que tenho agora, consiste em desenvolver-se. "Crescei e multiplicai-vos", disse o Senhor ao homem, dando-lhe o poder de desenvolver e de comunicar a vida (Gn 1,28). Essa foi a primeira palavra que o Criador lhe dirigiu; em sua plenitude e sua majestade, ela contém e exprime a lei total da vida. Todas as minhas obrigações, sem nenhuma exceção, encontram sua base e sua explicação nessa obrigação primeira, na qual se encontra o sentido e a medida de todos os meus deveres para com Deus, para com as demais criaturas e para comigo mesmo. É preciso crescer, é preciso desenvolver a vida física, moral, intelectual. Essa é a razão dos cuidados e precauções a tomar na manutenção do corpo, na educação do coração e na instrução do espírito. Cada um é responsável pelo trabalho de aquisição e de conservação do pleno desenvolvimento de suas faculdades.
22. Vida cristã. - E esse desenvolvimento natural deve estar ordenado para Deus. As faculdades aperfeiçoadas devem servir de instrumentos para a vida sobrenatural. "Não entregueis vossos membros ao pecado, como armas de injustiça", diz São Paulo; "pelo contrário, oferecei-vos a Deus para, superando vossa morte, ter a sua vida, e oferecei vossos membros como armas de justiça a serviço de Deus" (Rm 6,13).
A vida sobrenatural é, pois, normalmente chamada a elevar-se pelo próprio crescimento da vida natural; sou obrigado a fazer o que depende de minha liberdade, para harmonizar a natureza com a graça. O privilégio - revelado pelo grande apóstolo - de expansão do divino em meio e acima das desagregações do que é terrestre 8, manifesta misericordiosamente seus efeitos nas leis de punição às quais Deus me submeteu; mas não se estende às falsificações que eu introduzir.
22. Vida cristã. - E esse desenvolvimento natural deve estar ordenado para Deus. As faculdades aperfeiçoadas devem servir de instrumentos para a vida sobrenatural. "Não entregueis vossos membros ao pecado, como armas de injustiça", diz São Paulo; "pelo contrário, oferecei-vos a Deus para, superando vossa morte, ter a sua vida, e oferecei vossos membros como armas de justiça a serviço de Deus" (Rm 6,13).
A vida sobrenatural é, pois, normalmente chamada a elevar-se pelo próprio crescimento da vida natural; sou obrigado a fazer o que depende de minha liberdade, para harmonizar a natureza com a graça. O privilégio - revelado pelo grande apóstolo - de expansão do divino em meio e acima das desagregações do que é terrestre 8, manifesta misericordiosamente seus efeitos nas leis de punição às quais Deus me submeteu; mas não se estende às falsificações que eu introduzir.
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(6) Cf. São Tomás, De Potentia, § 10, a. I c.
(7) "A graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 6,23).
(8) Ver nº4.
Trecho retirado do livro: A vida interior - simplificada e reconduzida ao seu fundamento,
François de Sales Pollien, Joseph Tissot.
François de Sales Pollien, Joseph Tissot.
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