terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Nossa Senhora de Covadonga ou das Batalhas

Espanha


Depois da batalha  em que o rei D. Rodrigo tão miseravelmente perdeu a coroa, e, segundo se supõe, também a vida, estendeu-se a dominação muçulmana sobre a Espanha com a celebridade com que se inunda uma planície pelo transbordamento de um rio. 
Para não me estender demasiadamente, direi apenas que um príncipe de sangue real, D. Pelayo, parente próximo do desditoso D. Rodrigo, havia visto com grande dor a queda da monarquia visigótica nos campos de Guadalete; e, não dobrando a cerviz ao jugo ominoso do invasor triunfante, como fizeram muitos , decidiu logo restituir-lhe, sem que o desanimassem os escassos ou quase nulos recursos com que contava para dar começo a tão árdua empresa. 
Como o fim deste livro é simplesmente dar a conhecer aos leitores a origem dos títulos de Nossa Senhora, não seguiremos passo a passo D. Pelayo nos sete anos que decorreram desde a derrota de Guadalete, mas somente desde que se pôs à frente dos valorosos asturianos, dando início à magna empresa. 
Não tardou a chegar aos ouvidos do "wali" El Horr a notícia do levante dos asturianos, quando ele se dispunha a invadir com as suas tropas a Gália gótica. 
Não lhe pareceu causa de importância aquele movimento belicoso dos cristãos, e, crendo ser fácil sufocá-lo, enviou a Cangas o seu lugar-tenente Alkamar com parte de seu exército, para submeterem os asturianos postos em armas. 
Disto teve notícia D. Pelayo, que, tão esperto caudilho, como esforçado guerreiro, viu logo que em Cangas de Onis, onde tinha espalhado seus soldados, não podia opor resistência ao inimigo com as escassas forças de que dispunha, contra os muito superiores em número que capitaneava Alkamar, por isso resolveu retirar-se com todos os seus soldados para o monte Auseba, aonde os seguiram as mulheres, crianças e anciãos, buscando refúgio no mais abrupto e fragoso daquelas brenhas. 
Pelayo distribui então os seus homens, pondo-os a posto nos cumes dos morros de onde pudessem melhor ferir o inimigo: aos desprovidos de armas, muniu-os de alavancas e picaretas, para removerem as pedras e fazê-las cair sobre os assaltantes, enquanto ele, com quantos soldados pode reunir, emboscou-se em uma caverna ou gruta, chamada pelos naturais - a caverna de Covadonga, e ali esperou a acometida dos mouros, encomendando-se fervorosamente, a si e aos  seus soldados, a Deus e a poderosa intercessão da Santíssima Virgem Maria. 
Akamar, em vista da pronta retirada de D. Pelayo de Cangas de Onis, pensou que o pânico se havia apoderado dos cristãos, e, possuído da soberba que cega os que confiam unicamente em suas forças, meteu-se ousadamente na estreita garganta que dá acesso ao monte Auseba e à caverna de Covadonga, e deu começo aquele combate verdadeiramente épico, do qual se conservará a memória enquanto o mundo existir: os muçulmanos, ensoberbecidos com o seu número e as armas de toda espécie de que iam providos com abundância; os cristãos, poucos, e grande parte sem outras armas senão as que à sua disposição punha a natureza naqueles abruptos lugares, mas cheios de confiança em Deus e na poderosa intercessão da Virgem Imaculada. 

Uma chuva de flechas anunciou aos cristãos o feroz ataque dos mouros, mas a surpresa destes não teve limites quando verificaram que, antes de as forças de D. Pelayo responderem à acometida, muitos dos mouros, feridos pelas mesmas flechas lançadas contra os cristãos, caíam por terra dando gritos de dor. 
A explicação deste fato é dada pelos historiadores indiferentes em matéria de religião, ou contrários à fé cristã, dizendo que as flechas atiradas pelos mouros batiam nas penhas, e de ricochete feriam os atiradores!...
As pedras e troncos de árvores lançados pelos cristãos das alturas do monte Auseba causaram também enormes danos ao exército dos mouros, dizimando ao mesmo tempo pelas flechas que os soldados de Pelayo atiravam sobre eles da gruta de Covadonga, as quais feriam sempre, por se acharem os mouros encurralados na sobredita gargante, pela qual unicamente podiam atacar. 
Tão evidente desastre desalentou sobremaneira os mouros, e, quando Alkamar viu cair morto o seu lugar-tenente Suleiman, intentou ganhar as faldas do monte Auseba, ordenando a retirada. 
Nesta situação e embaraçando-se uns aos outros naquelas aperturas, desabou uma furiosa tempestade, que veio aumentar o espanto e o terror dos que iam já de vencida.
O estampido dos trovões, cujo eco retumbava com fragor de serra em serra; a chuva que caía em catadupas; as pedras e as árvores que de todos os lados caíam sobre os árabes; o solo, que com a chuva se tornava movediço e escorregadio, fazendo-os resvalarem e caírem por aqueles declives, precipitando-os em confuso montão de águas do rio Deva, onde  morriam afogados, tudo contribuiu para se crer, com fundamento, que a mão do Senhor fazia até com que se desmoronassem os montes sobre os soldados de Mafoma. 
Horrível foi a mortandade, no exército mouro, naquela memorável batalha, havendo quem afirme que não ficou um só mouro com vida!...
Um reduzido número de homens, dentro de uma caverna ou escondidos por entre as penhas, bastou para aniquilar, no breve espaço de algumas horas, um poderoso exército, embriagado pelos vapores de repetidas vitórias!
É forçoso reconhecer, portanto, naquele conjunto de extraordinários e portentosas circunstâncias, algo que parece exceder os limites do natural e humano. Em poucas ocasiões terá sido mais manifesta a proteção do céu; por isso não admira que os escritores de uma época de tanta fé atribuem essa milagrosa vitória à mediação da Virgem Maria, cuja imagem havia Pelayo levado consigo para a caverna. 
Os árabes, em sua História, referem também o sucesso com assombro, não escondendo haver sido horrível a matança. 
O resultado imediato da batalha de Covadonga foi a proclamação de Pelayo como rei das Astúrias. 
Mas... para que esta narração histórica? 
Com que fim aparece ela neste livro?...
É para poder explicar, leitores amigos, a origem do título - Nossa Senhora de Covadonga ou das Batalhas; pois, como deves ter compreendido, não se pode deixar de admitir a intervenção milagrosa da Santíssima Virgem, por isso mandou o rei D. Afonso I, o Católico, erigir o mosteiro e capela de Nossa Senhora de Covadonga (deram-lhe este título por causa da caverna de onde pelejaram D. Pelayo e seus  guerreiros), onde foi colocada a imagem de Nossa Senhora que D. Pelayo levara para a memorável gruta, a qual (imagem) estava anteriormente em uma ermida de pequenas dimensões, perto do mencionado lugar. 
Hoje, que uma formosa basílica substitui o primitivo templo, pode-se apreciar melhor a importância daquele trabalho- a canalização do rio Deva, graças à qual puderam executar uma obra que parecia impossível. 
De todas as magnificências que hoje se admiram em Covadonga, o que mais atrai a atenção dos peregrinos é a antiga ermida e a gruta ou caverna onde, sob a proteção e amparo de Nossa Senhora, D. Pelayo e os seus rechassaram com grande denodo o ataque dos mouros.
Para subir-se até lá, construíram uma escada coberta de jaspe admiravelmente lavrado, formando um notável contraste com as escuras penhas que formam o refúgio do primeiro caudilho da Reconquista. 
A imagem de Nossa Senhora de Covadonga não é uma escultura de grande valor artístico, mas atrai a admiração de quantos a contemplam, porque nela se vê claramente, com os olhos da fé, a própria Rainha dos céus ouvindo as súplicas, de D. Pelayo e guiando-o à vitória. 
Nossa Senhora de Covadonga ou das Batalhas, protegei também hoje em dia os cristãos que combatem contra os ímpios inimigos de Deus e de sua santa Igreja!

(A notícia histórica é versão resumida do livro "La Virgem en España".)

fonte: livro Maria e seus gloriosos títulos

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