quarta-feira, 2 de setembro de 2015

LONGAS AUSÊNCIAS


“Era demais o agarramento de Irma com sua mãe. Das filhas era a mais ‘beijoqueira’ e... a mais desobediente. Dia e noite derretia-se  em meiguices para com a mãezinha. Fazia-lhe companhia à noite,  acompanhava-a nas visitas. No colégio, os olhos vermelhos  de pranto ‘saudoso’ favoreciam as caçoadas  das colegas.
Casou-se e fez uma cena daquelas para deixar a mãezinha. O bom rapaz que lhe era esposo notou, tempos depois, uns ares tristes na esposa. Saudades, no mínimo, calculou ele. Estudava um jeito para remediá-las. Um dia Irma vem atirar-se nos braços do marido e, desfeita em pranto, com ares de criança, dizia:
- Não aguento mais as saudades de mamãe!
- Irás vê-la quanto antes, meu bem. – Tal foi a resposta e dali em diante surgiram economias e sacrifícios ignorados pela esposa.  Não queria o marido contrariá-la nessa exigência, ainda mais no estado em que ela se achava. Levou-a para a casa da mãe e, após o nascimento do filhinho, voltou para a gerência da importante firma aos seus cuidados. A permanência de Irma prolongou-se ao lado da mãezinha cúmplice. Ele foi comendo em hotéis, foi sentindo a solidão no lar, foi notando o desarranjo na casa, foi achando falta de muita coisa.
E todos os anos Irma dava pranto saudoso e permanência risonha ao lado da mãe, longe do marido. Certa vez ele observou que ela lhe fazia falta.
- Mas como você é egoísta! Isso não é amor: bem vejo que você não me quer bem, que nunca me quis bem... (Linguagem de todas as pessoas contrariadas).
Ferido em sua sinceridade, acanhado diante de certas explicações delicadas, o marido concordava em viver solitário por vários meses. Digo mal. Não vivia solitário. Vivia compensado, após ter lutado contra a tentação insidiosa e meiga. A companhia que a esposa lhe roubava era criminosamente substituída...
Um dia tudo veio à tona do conhecimento. Irma fez uma cena tresloucada. A mãe reclamou para perto de si a filha ‘inocente’ e traída. Ruiu o lar, sepultando a felicidade de vários corações.
De quem foi a culpa? Dividamo-la antes de tudo entre a mãe e a filha. A primeira viciou a futura esposa, mostrou incompreensão da natureza moça e sadia  do genro. Faltou à segunda a séria obrigação que toda esposa tem, em consciência, de estudar e conhecer, acompanhar e assistir o marido. Obrigação de adivinhar-lhe até os desejos, ainda que sejam sem nome e expressões.  Foi cruel  para um erro da qual foi mãe e causa.
Ao jovem marido faltou a coragem de dizer um não categórico às manhas  e saudades da  esposa,  aos desejos de menina de colégio.
Gravíssima imprudência é, por conseguinte, a longa ausência entre jovens casais. Os médicos, os pastores de almas, os experimentados da vida a desaconselham e reprovam. A moral cristã exige razões sérias para a permitir, acompanhando tudo de sábios conselhos à esposa. O próprio São Paulo desconfia dessa ausência e a quer só por pouco tempo.
Leitora manda embora teu sentimentalismo lacrimoso e saudoso da mãezinha! Hoje pertences a teu marido e lhe deves fazer companhia. Se ele fidalgamente te oferecer ausências, aceita-as com muita parcimônia e prudência.
Não queres parar com teu choro de saudades, ao qual o marido não se abranda, pela qual até te cesura? Toma o chapéu e vai dar uma volta, olhando... os novos modelos de chapéus e vestidos. Perante a terceira vitrina as lágrimas já terão secado."

As três chamas do lar 

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