“Era demais o agarramento de Irma com sua mãe. Das filhas
era a mais ‘beijoqueira’ e... a mais desobediente. Dia e noite derretia-se em meiguices para com a mãezinha. Fazia-lhe
companhia à noite, acompanhava-a nas
visitas. No colégio, os olhos vermelhos
de pranto ‘saudoso’ favoreciam as caçoadas das colegas.
Casou-se e fez uma cena daquelas para deixar a mãezinha. O bom
rapaz que lhe era esposo notou, tempos depois, uns ares tristes na esposa.
Saudades, no mínimo, calculou ele. Estudava um jeito para remediá-las. Um dia
Irma vem atirar-se nos braços do marido e, desfeita em pranto, com ares de
criança, dizia:
- Não aguento mais as saudades de mamãe!
- Irás vê-la quanto antes, meu bem. – Tal foi a resposta e
dali em diante surgiram economias e sacrifícios ignorados pela esposa. Não queria o marido contrariá-la nessa
exigência, ainda mais no estado em que ela se achava. Levou-a para a casa da
mãe e, após o nascimento do filhinho, voltou para a gerência da importante
firma aos seus cuidados. A permanência de Irma prolongou-se ao lado da mãezinha
cúmplice. Ele foi comendo em hotéis, foi sentindo a solidão no lar, foi notando
o desarranjo na casa, foi achando falta de muita coisa.
E todos os anos Irma dava pranto saudoso e permanência
risonha ao lado da mãe, longe do marido. Certa vez ele observou que ela lhe
fazia falta.
- Mas como você é egoísta! Isso não é amor: bem vejo que
você não me quer bem, que nunca me quis bem... (Linguagem de todas as pessoas
contrariadas).
Ferido em sua sinceridade, acanhado diante de certas
explicações delicadas, o marido concordava em viver solitário por vários meses.
Digo mal. Não vivia solitário. Vivia compensado, após ter lutado contra a
tentação insidiosa e meiga. A companhia que a esposa lhe roubava era
criminosamente substituída...
Um dia tudo veio à tona do conhecimento. Irma fez uma cena
tresloucada. A mãe reclamou para perto de si a filha ‘inocente’ e traída. Ruiu o
lar, sepultando a felicidade de vários corações.
De quem foi a culpa? Dividamo-la antes de tudo entre a mãe e
a filha. A primeira viciou a futura esposa, mostrou incompreensão da natureza
moça e sadia do genro. Faltou à segunda
a séria obrigação que toda esposa tem, em consciência, de estudar e conhecer,
acompanhar e assistir o marido. Obrigação de adivinhar-lhe até os desejos,
ainda que sejam sem nome e expressões. Foi
cruel para um erro da qual foi mãe e
causa.
Ao jovem marido faltou a coragem de dizer um não categórico
às manhas e saudades da esposa,
aos desejos de menina de colégio.
Gravíssima imprudência é, por conseguinte, a longa ausência entre
jovens casais. Os médicos, os pastores de almas, os experimentados da vida a
desaconselham e reprovam. A moral cristã exige razões sérias para a permitir,
acompanhando tudo de sábios conselhos à esposa. O próprio São Paulo desconfia
dessa ausência e a quer só por pouco tempo.
Leitora manda embora teu sentimentalismo lacrimoso e saudoso
da mãezinha! Hoje pertences a teu marido e lhe deves fazer companhia. Se ele
fidalgamente te oferecer ausências, aceita-as com muita parcimônia e prudência.
Não queres parar com teu choro de saudades, ao qual o marido
não se abranda, pela qual até te cesura? Toma o chapéu e vai dar uma volta,
olhando... os novos modelos de chapéus e vestidos. Perante a terceira vitrina
as lágrimas já terão secado."
As três chamas do lar
Nenhum comentário:
Postar um comentário