Fonte: Livro Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem
Autor: São Luís Maria Grignion de Montfort; Missionário Apostólico, Fundador da Congregação dos Missionários da Companhia de Maria e da Congregação das Filhas da Sabedoria.
44° edição- Editora Vozes- Petrópolis, 2014.
ARTIGO IV
Temos necessidade de um medianeiro junto do
próprio medianeiro que é Jesus Cristo
83. Quarta verdade. - É muito mais perfeito, porque é mais humilde, tomar um medianeiro para nos aproximarmos de Deus.
Se nos apoiarmos sobre os nossos próprios trabalhos, habilidade, e preparações, para chegar a Deus e agradar-lhe, é certo que todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas e peso insignificantemente terão junto de Deus, para movê-lo a unir-se a nós e nos atender, pois, como acabo de demostrar, nosso íntimo é extremamente corrupto. E não foi sem razão que ele nos deu medianeiros junto de sua majestade. Viu nossa iniquidade e incapacidade, apiedou-se de nós, e, para dar-nos intercessores poderosos junto de sua grandeza; de sorte que negligenciar esses medianeiros e aproximar-se diretamente de sua santidade sem outra recomendação é faltar ao respeito a um Deus tão alto e tão santo; é menosprezar este Rei dos reis, como não se faria a um rei ou príncipe da terra, do qual ninguém se aproxima sem a recomendação de um amigo.
84. Nosso Senhor é nosso advogado e medianeiro de redenção junto de Deus Pai; é por intermédio de redenção junto de Deus Pai; é por intermédio dele que devemos rezar com toda a Igreja triunfante e militante; é por intermédio dele que obtemos acesso junto de sua mejestade, em cuja presença não devemos jamais aparecer, a não ser amparados e revestidos dos méritos de Jesus Cristo, como Jacob revestiu-se da pele de cabrito para receber a benção de seu pai Isaac.
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85. Mas temos necessidade de um medianeiro junto do próprio medianeiro? Será a nossa pureza suficiente para que nos permita unir-nos diretamente a Ele, e por nós mesmos? Não é Ele Deus, em tudo igual ao Pai, e, por conseguinte, o Santo dos santos, digno de tanto respeito como seu Pai? Se Ele, por sua caridade infinita, se constituiu nosso penhor e medianeiro junto de Deus seu Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que lhe devíamos, quer isto dizer que lhe devemos menos respeito e temor por sua majestade e santidade?
Digamos, pois, ousadamente, com São Bernardo¹, que temos necessidade de um medianeiro junto do Medianeiro por excelência, e que Maria Santísima é a única capaz de exercer esta função admirável. Por ela Jesus Cristo veio a nós, e por ela devemos ir a Ele. Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo Deus, em vista de sua grandeza infinita, ou por causa de nossa baixeza, ou, ainda, devido aos nossos pecados, imploremos afoitamente o auxílio e intercessão de Maria nossa Mãe; ela é boa e terna; nela não há severidade nem repulsa; tudo nela é sublime e brilhante; contemplando-a, vemos nossa pura natureza. Ela não é o sol, que, pela força de seus raios, nos poderia deslumbrar em nossa fraqueza, mas é bela e suave como a lua (Ct 6,9), que recebe a luz do sol e a tempera para que possamos suportá-la. É tão caridosa que a ninguém repele, que implore sua intercessão, ainda que seja um pecador; pois, como dizem os santos, nunca se ouviu dizer, desde que o mundo é mundo, que alguém que tenha recorrido à Santíssima Virgem, com confiança e perseverança, tenha sido desamparado ou repelido². Ela é tão poderosa que jamais foi desatendida em seus pedidos; basta-lhe apresentar-se diante de seu Filho para pedir-lhe algo, e Ele só ouve o pedido para logo conceder-lhe o que ela pede; é sempre amorosamente vencido pelos seios, pelas entranhas e pelas preces de sua querida Mãe.
86. Tudo isto é tirado de São Bernardo e de São Boaventura. De acordo com suas palavras, temos três degraus a subir para chegar a Deus: o primeiro, mais próximo de nós e mais conforme à nossa capacidade, é Maria; o segundo é Jesus Cristo; e o terceiro é Deus Pai³. Para ir a Jesus é preciso ir a Maria, pois ela é a medianeira de intercessão. Para chegar ao Pai eterno é preciso ir a Jesus, que é nosso medianeiro de redenção. Ora, pela devoção que preconizo, mais adiante, é esta a ordem perfeitamente observada.
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1. Sermo in Domin, inf. oct. Assumptionis, n.2: "Opus est enim mediatore ad Mediatorem istum, nec alter nobis utilior quam Maria". Todo este parágrafo é tirado deste sermão de São Bernardo.
2. Termina aqui a citação de São Bernardo. A frase seguinte é tirada de SÃO BOAVENTURA. Sermo 2 in B.V.M.
3. "Per Mariam ad Christum accedimus, et per Christum gratiam Spiritus Sancti invenimus" (SÃO BOAVENTURA. Speculum B.V., lect. VI, § 2). Cf. tb. LEÃO XIII. Encíclica "Octobri mense", 22-9-1891.
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