quinta-feira, 22 de julho de 2021

2º Mandamento de Deus (continuação): Não jurar em vão o Santo Nome de Deus

 


1. Um voto é uma promessa feita a Deus com deliberação, e de coisa que seja melhor bem.

2. Há de ser promessa, porque uma simples resolução de fazer uma coisa não é promessa nem voto. 

3. Há de ser feita a Deus, porque somente a Deus é que se dirigem os votos. Todavia os votos feitos aos Santos são também votos e obrigam; porque essas promessas são feitas a Deus em honra daqueles Santos.

4. A promessa há de ser com deliberação, porque promessas feitas sem consideração não obrigam; são palavras loucas.

5. O voto há de ser promessa de melhor bem, porque a matéria do voto há de ser de coisa que seja mais agradável a Deus o fazê-la, do que deixar de a fazer.

6. Estas circunstâncias de o voto ser promessa, e ser considerada, e ser de melhor bem, são essenciais, de modo que faltando algumas delas, já não é voto. 

7. Os votos feitos com estas cirscunstâncias por pessoa idonêa obrigam em consciência e é pecado faltar a eles, pecado sendo o leve ou grave segundo a matéria do voto.

8. Podemos pecar contra os votos de duas maneiras: 1º assentando em não os cumprir; 2º dilatando por muito tempo e sem causa o seu cumprimento.

9. Quando uma pessoa se acha com impossibilidade de cumprir os votos que fez, deve pedir que lhes comutem ou as dispersem. Esta impossibilidade pode ser total ou parcial. Sendo parcial, deve-se cumprir a parte possível.

10. O voto é pessoal ou real; é pessoal, quando obriga unicamente a pessoa que o fez, como por exemplo o voto de rezar tal ou tal oração; e real nos outros casos, por exemplo, o voto de fazer uma peregrinação, o voto de dar dinheiro aos pobres, o voto de mandar dizer missa, etc.

11. O voto é perpétuo ou temporário; perpétuo quando obriga por toda a vida; temporário, se só por um tempo. 

12. O voto de fazer uma coisa já ordenada pela lei de Deus, ou de igreja, ou pelos superiores é válido, porque aumenta a fidelidade e a devoção no cumprimento do dever.

13. Quando se faz voto de fazer uma coisa boa em si, mas com um fim mal e perverso, o voto é nulo, porque a matéria do voto tornou-se má, e não é lícito fazer votos de coisas más. 

14. O voto que se faz para castigo de um pecado, por exemplo, o voto de dar uma esmola quando rogarmos pragas, é válido e obrigatório. 

15. O Espírito Santo diz: Melhor é não fazer votos, do que fazê-los e não os cumprir.

16. Por justos motivos, obtêm-se da igreja a dispensa ou a comutação dos votos. Pertence isso ao confessor, exceto para certos votos especialmente reservados ao Papa.

17. Ninguém deve obrigar-se por voto sem: 1º ter examinado se poderá cumprir o prometido; 2º sem ter consultado o confessor.

18. Os votos mais perfeitos são os de pobreza voluntária, de castidade e de obediência que fazem os religiosos ou religiosas.

19. Estes votos são reservados ao Papa, assim como os votos das três grandes peregrinações de Santiago de Compostella, de São Pedro de Roma, e de Jerusalém.


Explicação da gravura


20. Na parte inferior esquerda está representado Jefé que acaba de ganhar uma batalha. Fizera o voto imprudente, se fosse vitorioso, de sacrificar a Deus a primeira pessoa que encontrasse, e foi a sua filha. Não a imolou ao Senhor, mas foi votada à virgindade. 

21. Na parte superior vemos a Maria Santíssima indo ao tempo de Jerusalém, acompanhada de seus pais, para consagrar a Deus a sua virgindade. Recebem-na ao pé dos degraus o sumo sacerdote, e no alto o velhor Simeão e a profetiza Ana.

22. Na parte inferior direita veem-se marinheiros ajoelhados diante do altar da Virgem. Numa tempestade, fizeram voto de visitar um tempo consagrado a Maria, se escapassem à morte, e estão a cumprir o seu voto.



Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.




segunda-feira, 19 de julho de 2021

Trecho 7 - Tratado da Conformidade com a Vontade de Deus






 Felizes de vós, amado leitor, se sempre fazeis outro tanto! A santidade será a consequência, e, tendo passado uma ditosa vida, concluirá com uma não menos ditosa morte. Quando se passa desta para outra vida, a esperança que os que ficam concebem da salvação do que partiu procede do conhecimento de que tenha morrido com resignação. Se abraçarmos todas as vicissitudes da vida como vindas da mão de Deus, e mesmo a morte, com submissão à Sua vontade, por certo que morreremos santos, e seremos salvos. Abandonemo-nos, pois, em tudo, à boa vontade daquele Senhor, que sendo o mais sábio, conhece o que melhor nos convém: e sendo o mais amante, pois que deu a sua vida por nosso amor, quer também o que é melhor por nós. Fiquemos certos e persuadidos, diz São Basílio, de que Deus procura o nosso bem, sem comparação melhor, do que nós o podemos procurar ou desejar. Mas prossigamos e consideremos em que coisas nos devemos unir com a divina vontade.


1º Devemos unir-nos à vontade de Deus nas coisas naturais, como quando faz frio, calor, quando chove; ou em tempo de escassez ou epidemia, e em outros casos iguais. Devemos abster-nos de dizer: "Que intolerável frio, que horroroso calor! Que desagradável estação!". Ou fazermos uso de algumas expressões que mostrem a nossa repugnância para com a vontade de Deus. Devemos querer tudo como é, porque Deus de tudo dispõe. São Francisco de Borja, indo uma noite a um convento da sua ordem enquanto nevava muito, bateu à porta muitas vezes; porém os padres que estavam dormindo não a abriram. Quando amanheceu, muitos deles lastimavam tê-lo feito esperar tanto fora de casa; mas o santo lhes disse "que ele tirara muita consolação durante aquele tempo, pensando que era Deus quem fazia cair os flocos de neve sobre ele".


2º Devemos unir-nos à divina vontade, quando padecemos fome, sede, pobreza, desolação, e desonra. Em todo o caso devemos dizer: "Senhor, tu fazes e desfazes e eu estou contente, desejando unicamente o que tu queres".  E o mesmo devemos dizer, diz Rodriguez, naqueles casos imaginários sugeridos por Satanás, na intenção de nos fazer cair em alguma maldade, ou pelo menos nos inquietar. "Se alguém vos dissesse estas e aquelas palavras, ou vos fizesse estas ou aquelas ofensas, que diríeis? Que faríeis?". Devemos responder: "Eu diria e faria o que Deus quisesse", e assim nos livraríamos de toda a falta de inquietação. 


3º Se temos algum defeito natural, ou no nosso espírito ou no nosso corpo, como ter pouca memória, inteligência rude, pouca habilidade, falta de algum membro, saúde fraca, não nos lastimemos. Pois que merecimento tínhamos para que Deus nos desse uma alma mais sublime, ou um corpo mais bem organizado? Não podia Ele permitir que nascêssemos na classe dos brutos? Não podia Ele deixar-nos no nosso nada? Demos graça ao Senhor por tudo que sua bondade nos tem concedido, e por tudo que faz. Quem sabe, se tendo nós tido maiores talentos, uma perfeita saúde, um corpo extremamente bem organizado, nos teríamos perdido! A quantos a sua ciência e o seu saber tem sido a origem da soberba e do desprezo como que tratam os outros, e por isso causa da sua perdição? Em tal perigo estão outros muitos, que se adiantem nas ciências e nos talentos. A quantos outros a beleza e suas forças tem sido causa de muitos crimes! E, ao contrário, quantos por serem pobres, enfermos e disformes, na sua figura, se tem salvado, e sido santos? E quantos se fossem ricos, instruídos e de boa presença, se teriam perdido e condenado? Portanto, contentemo-nos com o que Deus nos tem concedido. Não é necessária a beleza, a saúde, nem um engenho agudo, só é necessário o salvar-nos, disse Jesus Cristo.


4º Devemos particularmente ser resignados nas enfermidades corporais, e voluntariamente abraçá-las de maneira e pelo tempo que Deus tenha determinado visitar-nos com elas. Devemos tomar remédio, para restaurarmos a saúde: porque tal é a vontade de Deus: porém, não aproveitando estes, devemos unir-nos à vontade divina, o que nos será de maior vantagem do que a mesma saúde; e devemos dizer em ocasiões tais: "Senhor, eu não desejo a saúde nem a doença, desejo unicamente que a vossa vontade seja feita". É, sem dúvida, grande virtude não lamentar nossas aflições, durante o tempo da dor ou enfermidade; porém, quando estas pesam sobre nós, não nos é vedado descrevê-las a nossos amigos, nem mesmo rogar a Deus que nos livre delas. Falo daquelas dores ou enfermidades que atacam severamente, que muitos há tão insofridos, que pela mais leve indisposição ou fadiga pretendem obter compaixão de todos. O mesmo Jesus Cristo, começando a sua Paixão, deu a conhecer a seus discípulos a sua tribulação: "A minha alma está triste até a morte" (Mt 27,38). E Ele rogou ao seu Eterno Pai que o livrasse dela: "Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice" (Mt 27, 39). Mas o mesmo Jesus nos ensinou que o que devemos fazer depois de tais preces é resignar-nos imediatamente à vontade divina, dizendo: "Não como eu quero, mas como Vós quereis". 


Santo Afonso Mª de Ligório - Ed. Biblioteca Católica

Imagem: São Francisco de Borja

sábado, 10 de julho de 2021

2º Mandamento (continuação): Não jurar o Santo Nome de Deus em vão.



 1. Dissemos já que quem jurou fazer uma coisa má e cumpre o juramento comete dois pecados: um por ter jurado fazer uma coisa má, outro por cumprir o juramento.

2. Foi o pecado que cometeu Herodes mandando degolar a São João Batista. São Marcos narra assim o fato: Herodes mandou prender e meter em ferros no cárcere a João, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe, com a qual Herodes se tinha criminosamente casado, porque dizia João a Herodes: Não te é lícito ter a mulher de teu irmão. E Herodias lhe andava espreitando alguma ocasião, e o queria fazer morrer, e não podia, porque Herodes temia a João, sabendo que ele era varão justo e santo, e o tinha em custódia, e pelo seu conselho fazia muitas coisas, e o ouvia de boa vontade. Por fim chegou um dia favorável em que Herodes celebrava o dia de seu nascimento, dando um banquete aos grande da sua corte, e aos tribunos, e aos principais da Galileia. E havendo entrado no festim a filha da mesma Herodias, e dançado, e dado a Herodes e aos que com ele estavam à mesa, disse o rei à moça; Pede-me o que quizeres e eu te darei, ainda que seja a metade do meu reino. Tendo ela saído, disse a sua mãe: que eu hei de pedir? E ela respondeu: A cabeça de João Batista. E tornando logo a entrar com grande pressa aonde estava o rei, pediu, dizendo: Quero que sem mais demora me dês num prato a cabeça de João Batista. E o rei se entristeceu, mas por causa do juramento e pelos que com ele estavam ali à mesa: não quis desgostá-la. Mas enviando um dos da sua guarda, lhe mandou trazer a cabela de João num prato. E ele indo o degolou no cárcere, e trouxe a sua cabeça num prato, e a deu à moça, e a moça a deu a sua mãe. O que ouvindo os discípulos de João, vieram, e levaram o seu corpo e o puzeram no sepulcro. (Mc 6,17-29).

3. A blasfêmia é uma palavra injuriosa a Deus ou aos santos. 

4. Há duas espécies de blafêmia: blasfêmia herética e blasfêmia simples.

5. A blasfêmia é herética quando na injúria que se fez a Deus se encerram falsidades contrárias ou repugnantes à fé. Isto acontece quando se atribuem a Deus, qualidades que lhe não convém, como a crueldade, a injustiça, etc; ou quando se lhe negam as que lhe convém, como a bondade, a misericórdia, etc. 

6. A blasfêmia simples é aquela que não contém nenhuma falsidade repugnante à fé, mas é simplesmente injúria ou desprezo. 

7. A blasfêmia é um pecado enormíssimo; é própria dos condenados, e os blasfemadores devem temer toda a sorte de castigos nesta vida e ainda o de morrerem impenitentes.

8. Quando ouvirmos uma blasfêmia devemos nós dar honra a Deus em reparação da blasfêmia e louvá-lo, dizendo, por exemplo: Louvado seja Jesus Cristo. 

9. Rogar pragas aos animais é também pecado, porque são criaturas de Deus.

10. As pragas que os pais rogam a seus filhos são maior pecado, porque dão mau exemplo aos filhos e atraem grandes desgraças sobre a sua família.

11. Para emendar-se de rogar pragas podem empregar-se os quatro meios seguintes: 1º considerar os males que causam à sua alma; 2º pedir muito a Deus que dê a graça para a emenda; 3º impor-se a si mesmo alguma penitência para cada vez que rogar pragas; 4º pedir a alguém que o advirta quando rogar pragas. 


Explicação da gravura


12. Na parte superior vê-se Herodes sentado à mesa e prometendo com juramento dar à filha de Herodias o que ela pedir.

13.  Na parte inferior esquerda, vê-se um homem, que tinha blasfemado, lapidado pelo povo como mandava a lei antiga.

14. Na parte esquerda vê-se o castigo dum homem que tendo rogado pragas aos seus animais, vê um deles levado pelo diabo.



Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.



domingo, 4 de julho de 2021

2º Mandamento: Não jurar o Santo Nome de Deus em vão.

 



1. Deus, neste mandamento, nos manda honrar seu santo nome e nos proíbe que o profanemos. 

2. Podemos honrar o santo nome de Deus de três modos; pronunciando-o com veneração e respeito, louvando-o, e invocando-o em nossas aflições. 

3. Profana-se o santo nome de Deus de cinco modos: 1º pela irreverência; 2º pelos maus juramentos; 3º pela blasfêmia; 4º com rogar pragas; 5º com quebrar os votos.

4. O nome de Deus significa aqui a onipotente e sempreterna  majestade de Deus uno e trino, o mesmo Deus.

5. Peca-se por irreverência ao santo nome de Deus quando se pronuncia sem respeito ou com desprezo.

6. Jurar é tomar Deus por testemunha do que se afirma ou promete.

7. Quando se jura pelas criaturas, também se toma a Deus por testemunha, porque, como as criaturas são obras de Deus, em certo modo se jura por Deus, quando se jura pelas suas criaturas.

8. Há duas espécies de juramento, o afirmativo e o promissório. Afirmativo é quando tomamos a Deus por testemunha para confirmar um fato presente ou passado. Promissório, quando prometemos com juramento: fazer ou não fazer uma coisa.

9. Este mandamento não proíbe toda a casta de juramento: somente proíbe o jurar em vão.

10. Juramos em vão quando faltamos aos juramentos ou à verdade, ou à justiça, ou ao juízo.

11. Faltamos à verdade nos nossos juramentos, quando sabemos que é falso, ou ao menos duvidamos se é falso isso que juramos. Aqueles que juram sem intenção de cumprir o que prometem, também juram sem verdade, porque mentem, fazendo crer que têm a intenção de cumprir o que prometem, e não têm.

12. Juramos sem justiça quando se juram coisas injustas e más. Quando juramos fazer uma coisa má não estamos obrigados a cumprir o juramento; antes, se o cumprissemos, faríamos um novo pecado.

13. Falta aos nossos juramentos o juízo, quando juramos sem que haja necessidade de jurar, ou por coisas vãs e inúteis.

14. O crime de quem jura falso chama-se perjúrio, e o que jura falso chama-se perjuro.

15. As pragas são uma espécie de juramento, se invocamos o nome de Deus, ou clara, ou indiretamente: de outro modo não o são; mas rogar pragas é sempre pecado, porque as pragas são imprecações sempre contrárias à caridade. 

16. O juramento falso é um grande pecado, porque jurando assim fazemos a Deus uma injúria gravíssima, tomando-o por testemunha duma mentira.

17. Fazer juramentos é permitido nas circunstâncias graves, como quando formos chamados em justiça. Então o juramento deve fazer-se com profundo respeito, isto é, com intenção de honrar a Deus como sendo a mesma verdade.

18. Quando prometemos alguma coisa com juramento estamos duplamente obrigados a fazê-lo. Estamos obrigados por justiça, porque é um dever de justiça cumprir o prometido; estamos obrigados por religião, porque é um dever de religião cumprir o que foi prometido com juramento.


Explicação da gravura


19. A parte superior representa a São Pedro no pátio de Caifás, negando a Jesus diante dos soldados e dos criados, afirmando com juramento que não conhecia aquele homem.

20. A parte inferior direita representa Esaú jurando em vão sem necessidade, e cedendo assim o morgadio a Jacó por um prato de lentilhas que este tinha guisado.

21. Na parte inferior esquerda veem-se sete homens crucificados por causa dum juramento violado por Saul, que matou os Gabaonitas contrariamente à promessa e ao juramento de Josué, ao tomar posse da terra de Canaã. 


Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Trecho 6 - Tratado da Conformidade com a Vontade de Deus





6. Numa palavra, que mais deseja Deus senão o nosso bem? Quem acharemos nós que nos ame mais do que Deus? A sua vontade é não só que ninguém se perca, mas que todos se faça, santos e sejam salvos: "Não querendo que alguém pereça, mas que todos se arrependam" (2 Pd 3,9). A vontade de Deus é a vossa santificação (1 Ts 4,3). Deus tem colocado a sua própria glória no nosso bem, porque sendo em sua essência infinita bondade, como diz São Leão, e a bondade sendo por natureza desejosa de comunicar-se, Deus tem o soberano desejo de nos fazer participantes de seus bens e felicidade. E se nos manda as tribulações nesta vida, manda-as todas para o nosso bem: "Tudo coopera para o nosso bem" (Rm 8,28).
Os mesmos castigos, dizia a Santa Judith, não vêm para nossa ruína, mas para nossa emenda e salvação. Acreditemos, pois, que estes flagelos do Senhor acontecem para nossa emenda, e não para nossa destruição (Jt 8,27). Nosso Senhor, para nos salvar de eternas penas, cerca-nos com a sua bondade: "Ó Senhor, tu nos tens coroado como com um escudo da tua vontade" (Sl 5,13). Ele não só deseja, mas solicita o nosso bem: "O Senhor é zeloso em meu benefício" (Sl 39,18) "E qual será a coisa", diz São Paulo, "que Deus nos negará, Ele que deu o seu próprio Filho? Ele que não poupou o seu Unigênito, mas que entregou por nós à morte, não nos deu com Ele todas as coisas?" (Rm 8,32). Com confiança, portanto, devemos resignar-nos aos divinos decretos e determinações, como sendo tudo para nosso bem: "Em paz, na mesma paz dormirei e descansarei porque tu, ó Senhor, me tens seguramente inspirado esperança" (Sl 4,9). Entreguemo-nos, pois, em suas mãos, porque Ele sem dúvida terá cuidado de nós: "ponde todo o vosso cuidado n'Ele, porque Ele tem cuidado de vós" (1Pd 5,7). Pensemos, pois, em Deus e no cumprimento de Sua santa vontade, para que Ele pense em nós e no nosso bem. "Filha", disse o Senhor à Santa Catarina de Sena, "pense em mim, para que eu pense sempre em ti". Digamos frequentemente com a sagrada Esposa: "o meu Amado é para mim, e eu para Ele" (Ct 2,16). O meu Amado pensa no meu bem, e eu só devo pensar em agradar-Lhe, e unir-me em tudo à Sua santa vontade. O santo Abade Nilo disse que não devemos rogar a Deus para conseguirmos o que desejamos, mas sim para que em nós se cumpra a Sua santa vontade. E quando a adversidade nos persiga, aceitemos das mãos de Deus, não só com paciência, mas com alegria, segundo o exemplo dos Apóstolos que saíram da presença do conselho, alegrando-se de serem dignos de padecer opróbios pelo nome de Jesus Cristo (At 5,41). Qual pode ser a maior felicidade da alma do que saber, quando sofre qualquer tribulação, que sofrendo de boa vontade se torna sobretudo agradável a Deus? Os escritores sobre a vida espiritual nos dizem que, ainda que Deus se apraze com o desejo que algumas almas têm de sofrer por Ele e de Lhe agradar, muito mais Lhe é agradável a uniformidade daqueles que nem desejam gozar nem sofrer, mas que inteiramente se resignam à Sua santa vontade, desejando somente cumpri-la. Se desejais agradar a Deus e viver feliz no mundo, uni-vos sempre em todas as coisas à vontade divina. Refleti que todos os vossos pecados e a amargura de vossa vida passada tem procedido de vos afastardes da vontade de Deus. Abraçai, pois, daqui em diante, a vontade divina, e dizei sempre em qualquer acontecimento: "Assim seja, meu Pai, porque assim é agradável à Tua vista" (São Mart. 11,26). Quando vos inquieta algum caso adverso, pensai que vos foi mandado por Deus, e dizei imediatamente: "Mudo fiquei e não abri a boca, porque vós o tendes feito" (Sl 38,10). "Senhor, pois que vós assim o fizestes, eu nada digo, porque vós assim o fizestes, eu nada digo, e o aceito". A este fim deveis dirigir todos os vossos pensamentos e orações, procurar rogar a Deus na meditação, na comunhão, nas visitas ao Santíssimo Sacramento, para que vos auxilie a cumprir a Sua vontade. E mesmo oferece a Ele, dizendo: "Ó meu Deus, eu aqui estou: faça-se em mim, em tudo quanto me pertence, o que for mais do vosso agrado". Era esta uma constante prática de Santa Tereza esta santa se oferecia a Deus pelos menos cinquenta vezes no dia, para que Ele se dignasse dispor dela como melhor Lhe agradasse. 



Santo Afonso Mª de Ligório - Ed. Biblioteca Católica
Pintura: Eugene de Blaas