quinta-feira, 31 de maio de 2018

Catecismo - Duodécimo artigo (continuação): Creio na vida eterna.


O Inferno

1. O inferno é um lugar de tormentos, no qual estão os condenados, para sempre separados de Deus, e sofrendo suplícios eternos com os demônios.
2. Os que vão para o inferno são todos os que morrem em pecado mortal.
3. O tormento dos condenados no inferno consiste  em duas penas, a pena do dano e a dos sentidos.
4. A pena do dano consiste em uma grande aflição de terem perdido por sua culpa a bem-aventurança, e de serem privados para sempre da vista de Deus.
5. A pena dos sentidos consiste principalmente no fogo eterno, que Jesus Cristo mencionou no seu Evangelho e noutras penas.
6. As penas do inferno hão de durar sempre. Jesus Cristo, com efeito, declara no Evangelho que no juízo final os maus serão condenados ao fogo eterno, e numa outra passagem repete três vezes que o bicho que roe os condenados nunca há de morrer, e que o fogo que os devora nunca se há de apagar.
7. Assim como no céu os escolhidos serão premiados infinitamente, e por assim dizer, divinamente; do mesmo modo no inferno os condenados serão infinitamente e divinamente castigados.
8. Todos os condenados ficarão para sempre privados da vista e presença de Deus; mas a gravidade das outras penas será proporcional ao número e qualidade dos pecados que cometeram.
9. A lembrança do inferno é muito própria para reprimir as paixões e afastar os homens do pecado. Com efeito, seria preciso ser arrastado ao mal com uma violência extrema, para não sermos reconduzidos à pratica da virtude por este salutar pensamento, de que um dia teremos de comparecer perante o supremo Juiz que é a própria justiça, e dar-lhe conta não só de todas as nossas ações e palavras, mas também dos mais secretos pensamentos, e sofrer o castigo merecido.


Explicação da gravura


10. Dá-nos a gravura uma pequena ideia do inferno. Na parte superior veem-se sete entradas marcadas com as iniciais dos sete pecados capitais. A letra O designa o orgulho ou soberba, A avareza, L luxúria, I inveja, G gula, C cólera ou ira, P preguiça. Isto indica que os pecados capitais são os que principalmente levam o homem ao inferno. Sobre cada letra está um animal simbólico. O 
pavão representa o orgulho, o sapo a avareza, o bode a luxúria, a serpente a inveja, o porco a gula, o leão a ira, a tartaruga a preguiça.
11. O fogo é a pena comum a todos os condenados, sofrendo cada um conforme os seus pecados.
12.  Na letra O veem-se os orgulhosos arrastados aos pés de Lúcifer e obrigados a ajoelhar-se diante dele, porque na vida não quiseram adorar a Deus.
13. Na letra A veem-se os avarentos com uma bolsa no pescoço, significando que eles preferiram os bens terrenos aos do paraíso.
14. Na letra L veem-se os impuros feridos cruelmente pelos demônios.
15. Na letra I os invejosos são enlaçados por terríveis repteis.
16. Na letra G vemos os que pecam por gula, que são devorados por uma fome e sede cruéis.
17. Na letra C os coléricos e vingativos arrancam desesperados os cabelos.
18. Na letra P os preguiçosos são picados com pontas de fogo e encerrados nas chamas eternas.
19. Os transgressores dos dez mandamentos e os profanadores dos sete sacramentos são esmagados por um animal de sete cabeça e dez pontas. 
20. Na parte inferior esquerda, veem-se centauros esmagando os hereges, e os que combateram a religião com maus livros e maus jornais.
Ao centro vê-se um relógio que marca sempre a mesma hora, que é a eternidade. Quer-se significar com isto que as penas dos condenados durarão para sempre e que uma vez entrados no inferno, nunca jamais dele hão de sair.




Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Catecismo - Duodécimo artigo: Creio na vida eterna



1. Devemos ver neste artigo que depois desta vida há de haver outra que há de durar para sempre, os bons com glória eterna no céu, e os maus com penas eternas no inferno.
2. Sabemos que há de haver outra vida depois desta, porque Deus nos revelou, e que uma outra vida é necessária para prêmio dos bons e castigo dos maus. 

O céu

3. O céu ou paraíso é um lugar de delícias, no qual os Anjos e os Santos gozam duma felicidade eterna e perfeita pela vista e posse de Deus.
4. Os que vão para o céu são aqueles que, tendo morrido em estado de graça, satisfizeram inteiramente a justiça de Deus.
5. Nem todos os bem-aventurados gozarão do mesmo prêmio; todos verão a Deus, mas a felicidade será à proporção dos seus merecimentos.
6. Sabemos que os santos veem Deus no céu, pelas palavras de Nosso Senhor dizendo: Bem-aventurados os de coração puro, porque verão a Deus.
7. A felicidade dos céus é tão grande, que não podemos compreendê-la cá na terra, onde nada pode dar-nos uma ideia do que é o céu. São Paulo diz: Os olhos do homem não viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais veio ao coração do homem o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
8. A felicidade eterna consiste, dizem os santos Padres, na ausência de todo o mal e na posse de todo o bem. No que toca ao mal, lemos no Apocalipse de São João: Os bem-aventurados não terão fome nem sede nunca jamais, nem cairá sobre eles o sol nem ardor algum. Deus lhes enxugará todas as lágrimas de seus olhos, e não haverá mais morte, nem mais choro, nem mais gritos, nem mais dor, porque as primeiras coisas são passadas. No que toca aos bens, a glória dos escolhidos será imensa, possuirão ao mesmo tempo todos os gozos, todas as delícias, porque possuirão a Deus, fonte de infinita felicidade.
9. Atualmente, os santos estão no céu só em alma; os seus corpos não entrarão ali senão depois da ressurreição e do juízo final.
10. Os bem-aventurados hão de contemplar Deus eternamente, e esse dom, o mais excelente e admirável de todos, os tornará participantes da natureza mesmo de Deus e lhes dará a posse completa e definitiva da verdadeira felicidade.

Explicação da gravura

11. Esta gravura representa o céu. Ao centro estão as três Pessoas divinas assentadas num triângulo sobre um trono de glória, cercado pelos anjos. Muitos deles tocam instrumentos diversos, outros queimam incenso em turíbulos. A Virgem Santa, sua Rainha, está a frente deles, à direita de Jesus Cristo seu filho e num trono inferior ao trono de Deus mas superior a tudo o que não é Deus.
12. No segundo plano, figuram, à direita, São João Batista, Moisés, Davi, Abraão e outros santos do Velho Testamento; à esquerda, São José, São Pedro e os outros Apóstolos, um Evangelista com um livro, e muitos santos do Novo Testamento.
13. No terceiro plano veem-se outros santos, entre os quais alguns mártires, como Santo Estevão; santos pontífices, um santo Rei, virgens santas e mártires, como Santa Cecília e Santa Catarina e santas mulheres, como Santa Maria Madalena.
14. Santo Estevão segura na mão uma pedra, porque sofreu o martírio do apedrejamento.
15. Santa Cecília tem uma harpa, porque cantava louvores a Deus ao som de instrumentos músicos.
16. Santa Catarina tem aos pés uma roda quebrada, porque a condenaram à morte por meio de uma roda armada de instrumentos cortantes, mas a roda quebrou-se, mal a puseram em movimento.
17. Santa Maria Madalena segura num vaso, porque derramou um dia sobre a cabeça de Nosso Senhor um vaso cheio de precioso perfume.



Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

terça-feira, 8 de maio de 2018

1º de Maio - São Filipe, apóstolo.

 
 
 
Filipe significa "ponta de lâmpada" ou "ponta das mãos", ou vem de philos, "amor", e uper, "acima", portanto "amante das coisas superiores". Por "ponta de lâmpada" entende-se sua luminosa pregação, por "ponta das mãos" suas constantes boas obras, por "amante das coisas superiores" sua contemplação celeste.
 
Depois de ter pregado vinte anos na Cítia¹, o apóstolo Filipe foi aprisionado pelos pagãos, que quiseram forçá-lo a sacrificar diante de uma estátua de Marte. Mas, no mesmo instante, de seu pedestal saiu um dragão que matou o filho do pontífice que cuidava do fogo do sacrifício, bem como dois tribunos cujos soldados levavam Filipe acorrentado, além de, com seu bafo, ter envenenado todos os demais presentes. Filipe disse: "Creiam-me, quebrem esta estátua e em seu lugar adorem a cruz do Senhor, que os envenenados sararão e os mortos ressuscitarão". Mas os que tinham ficado doentes gritavam: "Cure-nos que depois quebraremos a estátua de Marte". Filipe então mandou que o dragão fosse para o deserto², onde não incomodaria mais ninguém, e ele imediatamente se retirou. Em seguida Filipe curou todos e ressuscitou os três mortos.
Todos os que estavam ali se converteram, e durante um ano Filipe pregou para eles e, depois de ter ordenado padres e diáconos, foi para a Ásia, para a cidade de Hierápolis. Nesta eliminou a heresia dos ebionitas³, cujo dogma dizia que Cristo havia assumido uma carne fantástica, irreal. Estavam com ele suas duas filhas, virgens santíssimas, por meio das quais o Senhor converteu muita gente à fé. Quanto a Filipe, sete dias antes da sua morte convocou bispos e padres e disse-lhes: "O Senhor concedeu-me sete dias para aconselhá-los". Tinha então 87 anos. Depois disso, os infiéis capturaram-no e pregaram-no na cruz, como o mestre que ele apregoava, e dessa forma completou sua vida e migrou feliz para  o Senhor. A seu lado foram sepultadas suas duas filhas, uma à direita, outra à esquerda.
Eis o que ISIDORO diz de Filipe no Livro da vida, do nascimento e da morte dos santos: "Filipe pregou Cristo aos gauleses e aos seus vizinhos bárbaros que estavam nas trevas, cercados por um oceano de erros, e com a luz da ciência conduziu-os ao porto da fé. Em Hierápolis, cidade da província da Frígia, morreu lapidado e crucificado e ali repousa com suas filhas". Assim escreveu Isidoro.
Houve outro Filipe, que foi um dos sete diáconos, e sobre o qual diz Jerônimo em seu Martirológico que depois de muitos milagres e prodígios morreu em Cesaréia no dia 8 de julho. Ao seu lado foram enterradas três de suas filhas, enquanto uma quarta repousa em Éfeso. O primeiro Filipe é diferente deste, pois foi apóstolo, e o outro, diácono. Aquele repousa em Hierápolis, este em Cesareía, aquele teve duas filhas profetisas, o outro quatro, embora a HISTÓRIA ECLESIÁSTICA pareça dizer que foi o apóstolo Filipe quem teve quatro filhas profetisas. Mas é melhor confiar em Jerônimo.
 
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1. Conforme nota 4 do capítulo 2, Cítia era o nome dado na Antiguidade à região entre o norte do mar Negro e o mar de Aral, ou seja, correspondente aos atuais territórios de várias repúblicas do sudeste da ex- União Soviética.
2. Conforme nota 1 do capítulo 15.
3. Entre os primeiros judeus convertidos ao cristianismo, os ebionitas ("pobres") eram aqueles ainda muito apegados às tradições judaicas e que não aceitavam por isso que se levasse a Nova Lei aos gentios. Esse grupo herético desapareceu no século V diante da conversão maciça de diferentes populações ao cristianismo.
 
 
 
Legenda Áurea - Vida dos Santos, Jacopo de Varazze, pg 401-02.
 
 

sábado, 5 de maio de 2018

Catecismo - Undécimo artigo: Creio na ressurreição da carne

 
 
1. Este artigo nos ensina que, no fim do mundo, todos os homens hão de ressuscitar tomando cada um o mesmo corpo que antes tinha.
2. Isso é possível pela onipotência divina, à qual nada é impossível.
3. Dizemos a ressurreição da carne e não do homem todo, para denotar que a alma não morre, mas só o corpo, e por isso deve ressurgir somente a carne.
4. Os corpos hão de ressuscitar para terem parte no prêmio ou na pena, já que tiveram parte no bem ou no mal durante a vida.
5. Todos os homens ressuscitarão, tanto os bons como os maus, mas com esta diferença: que os escolhidos terão os dotes dos corpos gloriosos, e não assim os réprobos.
6. Os dotes dos corpos gloriosos são: a impassibilidade, que é a isenção de toda a dor e miséria; a claridade, que é o resplendor da alma redundando no corpo; a agilidade, que é a isenção do peso que hoje subjuga o corpo; a sutileza que designa a perfeita submissão do corpo ao comando da alma.
7. Os corpos dos réprobos não terão esses dotes e serão susceptíveis de toda espécie de sofrimentos.
8. A ressurreição será no fim do mundo, antes do juízo final. Ouvida a sentença do juízo final, os ressuscitados hão de ficar no mesmo lugar onde Deus os colocar, os bons na bem aventurança eterna m companhia de Jesus Cristo e dos Anjos; os réprobos, no inferno para sempre em companhia dos demônios.
9. Milagre de Jesus ressuscitando a Lázaro, no evangelho de São João: Estava enfermo um homem chamado Lázaro, que era da aldeia de Bethânia, onde viviam Maria e Marta, suas irmãs. Mandaram pois suas irmãs dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele que tu amas. Ouvindo isto Jesus, disse-lhes: Esta enfermidade não se encaminha a morrer, mas a dar glória a Deus, para o Filho de Deus ser glorificado por ela. Ora Jesus amava a Marta, e a sua irmã Maria, e a Lázaro. Tendo ouvido pois que Lázaro estava enfermo deixou-se ficar ainda dois dias no mesmo lugar. Passado isto, disse a seus discípulos: Tornemos outra vez para a Judeia. Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora te queriam apedrejar os Judeus e tu vais outra vez para lá? Respondeu-lhes Jesus: Não são doze as horas do dia? Aquele que caminhar de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo; porém o que andar de noite tropeça, porque lhe falta luz. Depois lhes disse: Nosso amigo Lázaro dorme, mas eu vou despertá-lo do sono. Disseram-lhe então os discípulos: Senhor, se ele dorme, está são. Mas Jesus tinha falado da sua morte, e eles entenderam que falava do dormir do sono. Disse-lhes pois Jesus abertamente: Lázaro é morto, e eu por amor de vós folgo de me não ter achado lá para que creiais; mas vamos a ele. Chegou enfim Jesus e achou que Lázaro estava na sepultura havia já quatro dias. (Estava Bethânia em distância de Jerusalém perto de quinze estádios.) Muitos dos Judeus tinham vindo a Marta e a Maria para as consolarem na morte de seu irmão. Marta, quando ouviu que vinha Jesus, saiu a recebe-lo, e Maria ficou em casa. Disse então Marta a Jesus: Se tu houvesse estado aqui, não morrera o meu irmão. Mas também sei agora que tudo o que pedires a Deus, Deus o concederá. Respondeu Jesus: Teu irmão há de ressurgir. Disse-lhe Marta: Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição do último dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim ainda que esteja morto, viverá, e tudo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente. Crês isso? Ela lhe disse: Sim, Senhor, eu já estou na crença que tu és o Cristo Filho de Deus vivo. Retirou-se então Marta, e foi chamar a sua irmã a quem disse: Chegou o Mestre e te chama. Ela ouvindo isso, levantou-se logo e foi busca-lo, porque ainda Jesus não tinha entrado, mas estava no lugar onde encontrou Marta... Maria assim que o viu, lançou-se aos seus pés e disse: Senhor, se tu houveras estado aqui, não morrera meu irmão. Jesus porém, quando a viu chorar a ela e aos Judeus que a acompanhavam, bramiu em seu espírito e turbou-se a si mesmo, e perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor, vem e vê. Então chorou Jesus. Disseram então os Judeus: Vejam como ele o amava. Mas alguns disseram: Este que abriu os olhos do cego de nascença, não podia fazer que Lázaro não morresse? Jesus pois veio ao sepulcro que era uma gruta, e em cima dela se havia posto uma campa. Disse-lhe Jesus: Tirai a campa. Respondeu Marta: Senhor, ele já cheira mal, porque já é de quatro dias. Disse-lhe Jesus: Não te disse eu, que se tu creres, verás a glória de Deus? Tiraram pois a campa, e Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, eu te dou graças porque me tens ouvido. Eu bem sabia que tu sempre me ouves, mas falei assim para atender ao povo que está em roda de mim, para que eles creiam que tu me enviaste. Dito isto, bradou em alta voz: Lázaro, sai para fora. E no mesmo instante saiu o que estava morto, ligados os pés e mãos com as ataduras, e o seu rosto estava envolto num lenço. Disse Jesus aos circunstantes: Desatai-o e deixai-o. Muitos dos Judeus... que tinham presenciado o que fizera Jesus, creram nele.   
 
 
Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910 (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica).
Edição da Juventude Católica de Lisboa.