sexta-feira, 23 de junho de 2017

Catecismo - 1º artigo: Creio em Deus Pai todo poderoso

 
1. Deus pode falar aos homens, pois lhes deu a faculdade de se entenderem.
2. Deus falou verdadeiramente aos homens; é o que se chama revelação.
3. Sem a revelação não nos poderíamos salvar, visto como nos seria impossível saber, por nós próprios, o que é preciso crer e fazer para obtermos a salvação.
4. Distinguem-se três revelações: 1º a revelação primitiva, feita por Deus a Adão e aos patriarcas; 2º a revelação Mosaica, feita por Deus a Moisés; 3º a revelação cristã que nos foi feita por Nosso Senhor Jesus Cristo.
 
O símbolo dos Apóstolos
 
5. O símbolo dos Apóstolos é uma profissão de fé que os Apóstolos nos deixaram e que, em doze artigos, encerra as verdades principais que devemos crer.
6. A primeira dessas verdades é que há um Deus, e um só, exclusivamente.
7. Cremos em Deus, porque Ele próprio nos revelou a sua existência.
8. Também a razão nos diz que há um Deus, porque, se o não houvera, o mundo não poderia existir. Com efeito, o mundo não poderia criar-se a si mesmo, como nem sequer podem criar-se uma casa ou um relógio.
9. Deus é um puro espírito, infinitamente perfeito, criador do céu e da terra, e soberano de todas as coisas.
10. Digo que Deus é um puro espírito, porque não tem corpo, e não pode ser visto pelos nossos olhos, nem tocado pelas nossas mãos.
11. Digo que Deus é infinitamente perfeito, porque Ele possui todas as perfeições e as suas perfeições não tem limites.
12. Deus tem existido sempre; nunca teve princípio, e nunca há de ter fim.
13. Deus está no céu, na terra, e em toda a parte.
14. Deus conhece todas as coisas, o passado, o presente, o futuro, e até os nossos pensamentos e desejos; vê-nos sempre, mesmo quando nos ocultamos para o ofender.
 
O mistério da Santíssima Trindade
 
15. Um mistério é uma verdade revelada por Deus, e que nós devemos acreditar, embora não possamos compreender.
16. O mistério da Santíssima Trindade é o mistério de um só Deus em três pessoas, a saber, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo.
17. O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só e o mesmo Deus; são iguais em todas as coisas, porque têm uma só e a mesma substância, e por tanto uma só e a mesma divindade.
 
Explicação da gravura
 
18. A Santíssima Trindade está representada ao centro por um grande triângulo, no qual se vê Deus Pai sobre o globo do mundo, segurando os braços da cruz à qual está pregado Jesus Cristo, seu Filho; o Espírito Santo, sob a forma de uma pomba, derrama os seus raios de luz entre o Pai e o Filho, o que nos dá a entender que procede do Pai e do Filho.
19. Ao alto da gravura vê-se, à esquerda, a Jesus Cristo, conferindo aos apóstolos, antes de subir ao céu, a missão de ensinar todas as nações e de as batizar em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
20. Vê-se, à direita, o batismo de Jesus Cristo, no qual se manifestaram as três pessoas divinas.
21. Em baixo, à esquerda, vemos Abraão recebendo a visita de três Anjos; Abraão viu-os aos três, e apenas saudou a um, dizendo: "Senhor, se achei graça diante de teus olhos, não preterirás a casa de teu servo".
22. À direita, vemos Santo Agostinho e uma criança, - Um dia, o santo bispo de Hipona passeava à borda do mar, querendo aprofundar o mistério da Santíssima Trindade. De súbito, vê uma criança entretida a encher uma pequena concha e a vasar-lhe a água numa covasita que abrira na areia. "Meu filho, que pretendes tu fazer? - Quero meter neste buraco toda a água do mar. - Mas tu bem vês que este buraco é muito pequeno para tanta água. - Mais fácil me será meter o mar neste buraco, do que tu compreenderes o mistério da Santíssima Trindade. - E dizendo isto, a criança desapareceu. Era um anjo que tomara aquela forma para advertir o santo de que o mistério da Santíssima Trindade era impenetrável a todos os espíritos criados.



Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910. (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica)
Edição da Juventude Católica de Lisboa.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Catecismo - Introdução

 
 
O catecismo
 
1. O catecismo é uma instrução familiar, por meio de perguntas e respostas, sobre a doutrina cristã.
2. A doutrina cristã é a que nos foi ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo quando pregou o Evangelho pela Judéia.
 
Explicação da gravura
 
3. Antes de ensinar a sua doutrina, Nosso Senhor quis mostrar as crenças com o seu exemplo, como deviam receber as instruções do catecismo. A fim de celebrar a festa da Páscoa, o Salvador compareceu em Jerusalém aos doze anos de idade, acompanhado de Maria e José. Vemo-lo nesta gravura, ao alto e à esquerda, no templo, rodeado dos doutores da lei aquém escuta e interroga. Diz-nos o Evangelho que o divino mestre os assombrou pela sabedoria das suas respostas.
4. Chegado a idade de trinta anos, Jesus começou a percorrer a Judéia para ensinar a sua doutrina. Pregava ora nas sinagogas, onde os judeus se reuniam para rezar, ora nas montanhas e nas praias. A gravura no-lo representa ao alto à direita, assentado numa barca, no mar da Galileia. Em volta veem-se os apóstolos, e na margem, escutando seus ensinamentos, os judeus de uma aldeia vizinha.
5. Depois de Jesus Cristo subir ao céu, a sua doutrina ficou sendo pregada pelos apóstolos, bispos, padres e diáconos. Ao meio da gravura vemos o diácono Filipe, sentado num carro de quatro rodas junto de um oficial de Candacia, rainha a Etiópia, o qual lia as Sagradas Escrituras sem as compreender. Filipe explicou-as, e o oficial pediu o batismo dizendo: "Creio que Jesus Cristo é Filho de Deus".
6. O último plano da gravura representa, à esquerda, o Sumo Pontífice, ensinando a todas as classes sociais a doutrina cristã; à direita, um bispo pregando a homens, ainda na barbaria, o santo Evangelho; e ao centro um sacerdote ensinando o catecismo às crianças.
 
O fim do homem 
 
7. É necessário a todos os homens e sobretudo aos cristãos o conhecimento da doutrina cristã, por isso que sem o seu conhecimento não se pode alcançar o fim para que Deus nos criou.
8. Deus criou-nos para o conhecermos, o amarmos, o servirmos e obtermos assim a vida eterna.
9. Servimos a Deus: 1º observando a sua Lei; 2º cumprindo fielmente os deveres do nosso estado; 3º glorificando-o por toda a espécie de boas obras.
10. É necessário servirmos a Deus: 1º porque só para esse fim fomos criados; 2º porque todo aquele que não serve a Deus se expõe a ser eternamente desgraçado no inferno.
11. Há muitos homens que não servem a Deus e que se prendem aos bens da terra de preferência a Deus. Prendem-se às honrarias pelo orgulho, às riquezas pela avareza, aos prazeres pela luxúria e pela gula.
12. Mas não logram encontrar a felicidade, porque o coração do homem foi feito para Deus e os bens da terra não o podem satisfazer. Só Deus nos pode tornar felizes, porque Ele é o supremo bem.
13. Mesmo nesta vida, Deus concede aos que o servem a paz duma boa consciência; protege-os nas suas empresas; consola-os nas suas tristezas, e cumula-os de toda espécie de benefícios.
14. Gozaremos de uma felicidade perfeita, quando possuirmos a vida eterna, isto é, quando virmos a Deus no céu por toda a eternidade.
 
O nome e o sinal do cristão
 
15. Chama-se cristão àquele que foi batizado, e que professa a religião cristã.
16. É uma grande felicidade o ser-se cristão, porque o cristão é filho de Deus, irmão de Jesus Cristo e herdeiro do paraíso.
17. O sinal pelo qual se reconhece o cristão é o sinal da cruz: Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Assim seja. Ou em latim: In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen.
18. O sinal da cruz lembra-nos que há um só Deus em três pessoas, e que Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, morreu por nós na cruz.
19. Feito com fé e piedade, o sinal da cruz afasta os perigos e as tentações e atrai sobre nós as bênçãos de Deus.
 
 
 
 
 
Fonte da imagem: http://www.sendarium.com
Texto: Catecismo Ilustrado, 1910. (com pequenas alterações devido à mudança ortográfica)
Edição da Juventude Católica de Lisboa.




Morte e glorificação de Santa Rita de Cássia

 

 
Ia avançando o mês de maio, resplandeciam as rosas em todas as suas cores, as colinas ostentavam todo o esplendor de seu verde manto, mas Rita não pediu então uma rosa, porque estava quase a desatar o último fio que a prendia à terra.
E a 22 de maio de 1457, sua bela alma deixava este mundo e voava para o Céu. Lê-se no processo de beatificação que várias pessoas a viram subir à glória. "Desatou-se o laço e o espírito prisioneiro conquistou a liberdade".
Apenas a santa exalara o último suspiro, Deus quis, por repetidos prodígios, manifestar no mundo o grau de perfeição a que chegara.
O sino que, pela mão dos anjos, anunciou a sua partida deste mundo, certamente encheu de espanto as religiosas e as mulheres empregadas no mosteiro que, abandonando todas as tarefas, correram à pobre cela onde até então só raramente entravam para levar à doente o necessário e para assisti-la em sua última doença. Pensavam com horror no odor fétido da chaga, mas qual não foi a admiração quando perceberam, ao aproximar-se, que dos despojos de sua Irmã se esparzia um perfume de paraíso! Viram a ferida cicatrizada e o semblante de Rita belo e sorridente.
Uma delas, Irmã Catarina Mancini, que tinha um braço paralítico, quis abraçá-la, e o conseguiu perfeitamente, porque estava curada pela Santa.
Voltando a si de seu espanto, as boas religiosas revestiram o corpo da defunta com o hábito de sua Ordem e o transportaram para a Capela interior do mosteiro.
Mas o povo de Cássia se comprimia à porta; queria ver, uma vez ainda, sua cara benfeitora, a santa pela qual tinha tanta veneração e que, por um instinto divino, julgava digna da glória dos altares. Foi portanto necessário transportá-la a um oratório público.
 
***
 
À medida que uma alma se humilha, Deus a exalta, e Rita, que se humilhara ao extremo teve, apenas morta, o início de sua exaltação na terra.
Os traços que a morte deixa na face de um cadáver causam horror. O corpo de Rita consumido por longa e dolorosa doença, com chaga fétida na fronte, devia horrorizar mais ainda; mas Deus não permitiu. Seu rosto tomou um ar de doçura e beleza inefáveis. Da ferida da fronte desapareceu a transudação tornou semelhante a uma brilhante pedra preciosa.
No momento em que Rita expirou, escrevem os Bolandistas, soou por três vezes o sino do mosteiro, sem que ninguém o tocasse, e, como se pode acreditar, pela mão dos anjos. Uma luz inesperada resplandeceu no quarto e por todo o mosteiro se espalhou o odor de um perfume celeste. Este perfume, que não somente neste instante foi percebido em volta desses benditos despojos, foi uma recompensa que Deus concedeu à sua fiel serva pela infecção que suportara e fizera suportar durante tantos anos e a prova de que esta alma eleita já entrara na glória.
 
O transporte do corpo para a igreja foi um verdadeiro triunfo; compareceram todas as autoridades e imensa multidão.
Não foi uma cerimônia fúnebre, mas um cortejo triunfal. E, quando os fiéis puderam contemplar aquele semblante que fora pálido, macilento, repugnante, por causa da ferida na fronte, rejuvenescido como nos seus mais belos anos, tão radiante que parecia mais vivo que nunca; quando viram a horrível chaga transformada em um rubi; quando se espalhou, durante certo tempo, o celeste perfume que enchera a cela da Santa todos se persuadiram de que ela estava no Céu e muito poderosa junto de Deus. Ela foi, antes dos decretos da Igreja, canonizada pela voz do povo.
O Pe. Vannutelli escreve que foram tantos os fatos extraordinários que se produziram após a morte de Rita que as autoridades, tanto eclesiásticas como civis, decidiram não dar sepultura ao santo corpo, tão bem conservado, e que esparzia um suave odor em toda a igreja, e quiseram que ficasse exposto à veneração pública em lugar conveniente. Mandaram fazer então um ataúde de cipreste, não muito alto e sem tampa, recobriram-no interiormente com um tecido vermelho que saía para fora como um pano mortuário para manter o corpo da santa levantado acima do ataúde. Assim foi colocado no oratório do mosteiro, sob a mesa de um altar portátil. Aí ficou exposto a veneração pública, até ser transferido para a igreja em 1595. Assim está representado no quadro que se vê atualmente de Santa Rita, em Cássia, sobre o altar dedicado a Nossa Senhora do Bom Conselho.
No pequeno oratório onde a santa tanto havia meditado e contemplado a Paixão de Cristo, diante da imagem daquele Crucifixo do qual saíra o espinho que lhe transpassara a fronte, repousou o corpo de Rita durante longos anos. E esse lugar se tornou um verdadeiro santuário onde afluíam pessoas para falar com ela como se estivesse viva, certas de que seu espírito das alturas do Céu as escutava e de que aquela que tinha conhecido a dor teria compaixão de suas enfermidades.

 
***
Ao falar na glorificação de Santa Rita, não podemos deixar de passar em silêncio um fenômeno que apareceu após sua morte e que dura até hoje.
Lembremo-nos que ao redor do berço de Rita apareceu um enxame de abelhas brancas! As abelhas reapareceram após sua morte, mas então negras. São um pouco maiores que as abelhas comuns: têm no dorso um aveludado vermelho-escuro e não têm ferrões nem antenas.
O autor Tardi, a quem devemos essas informações, acrescenta que essas abelhas são singulares pela sua antiguidade porque, não sendo prolíferas, remontam ao tempo da santa.
São singulares por seus hábitos, porque permanecem encerradas durante cerca de onze meses; avançam ou atrasam sua saída segundo o avanço ou atraso da semana da Paixão e se retiram sempre na oitava da festa da Santa.
Singulares enfim pela estabilidade de sua moradia, porque, em geral, as outras abelhas emigram facilmente mudando de habitação; estas, há tantos séculos, nunca se afastaram do muro do antigo mosteiro. Aos peregrinos que visitam o santuário de Cássia, mostram-se nos muros que rodeiam o pequeno pátio do mosteiro, os buracos que abrigam essas gentis amiguinhas de Santa Rita.
Lembremos a esse respeito que uma dessas abelhas, fechada em um vasinho de cristal, foi enviada ao Soberano Pontífice Urbano VIII, que desejava vê-la. Após envolver o corpo da abelha com um fiozinho de seda, o Pontífice a deixou em liberdade e, de Roma, a abelha voltou ao seu posto no mosteiro de Cássia.

***
 
Rita viveu em odor de santidade, especialmente nos últimos anos de sua vida. Retirada do mundo como suas companheiras, destas ainda se devia isolar por causa da horrível chaga que tinha na fronte, marcada com o sinal de seu Deus crucificado, seu único amor, sua única esperança.
Mas o povo cristão dava mais atenção ao suave perfume de sua virtude que à infecção da ferida em quando sua bela alma, purificada e elevada pela dor, entrou nos divinos esplendores; quando seu corpo, martirizado e deformado pelo sofrimento e pela longa doença, apareceu rejuvenescido; quando a horrível ferida da fronte se transformou num ardente rubi; quando, em vez de odor cadavérico, seu corpo inanimado esparziu um perfume de paraíso, nenhuma força humana pode deter a torrente de fiéis que acorreram para venerá-la.
Santa Rita, por um singular privilégio, nunca foi sepultada, e até hoje não se consumou para ela a sentença que fere todos os filhos de Adão: És pó e em pó te hás de tornar...
Acima dissemos que os despojos de Santa Rita foram colocados num ataúde de cipreste sob o altar do oratório do mosteiro; pouco anos depois esse ataúde se queimou, ao que se acredita, por causa de uma vela acesa que lhe caiu em cima. Entretanto os despojos de Santa Rita ficaram prodigiosamente intactos. Prepararam-lhe então um novo esquife, mais conveniente, do qual Conrado Ricci nos dá a seguinte descrição:
"O sarcófago é feito de álamo recoberto de nogueira. Foi confeccionado por um marceneiro de Cássia, Cesco Barbari, devoto da Santa e que por sua intercessão fora curado de uma grave doença. As pinturas são atribuídas a Antônio de Nórcia. Veem-se, de perfil, as figuras de Madalena, de Cristo morto e de Rita no hábito de religiosa agostiniana, com a chaga na fronte e o espinho na mão direita erguida. Na tampa está de novo a figura de Rita, mas não completa, como em muitos túmulos de mármore da época; e o corpo repousa sobre uma almofada de tecido florido, como às vezes se vê para os funerais, tendo ao lado uma longa inscrição em versos lembrando sua vida, sua chaga e sua morte. As mãos estão juntas e repousam sobre o seio, os pés descalços e na fronte brilha a ferida como uma gema engastada. No ataúde está pintada uma figura de colo nu para exprimir, segundo a iconografia antiga, a alma de Rita subindo ao Céu, num véu branco sustentada por dois anjos".
Rita foi portanto canonizada pelo povo antes de receber da Igreja essa honra. O bispo de Spoleto, segundo o uso da época, que remontava aos tempos apostólicos e que durou mais ou menos até o Papa Urbano VIII, permitiu que se desse a Rita culto público e privado, e a devoção à Santa dos impossíveis não tardou a espalhar-se e tomar grandiosas proporções. Deus mesmo quis ratificar esse culto pelo maravilhosos milagres que se operou por intercessão da Santa. Indicaremos alguns deles:
 
 
 
Acima dissemos que o corpo de Rita nunca foi sepultado e que, até hoje, não conheceu corrupção. É preciso notar ainda que não se mumificou e não enegreceu como de outros santos, mas está como o de uma pessoa que acaba de morrer. Ao contrário, após a morte desapareceu o aspecto sofredor e cadavérico que tinha nos últimos tempos da doença.
No reconhecimento do corpo, feito por ocasião da beatificação, isto é, cerca de duzentos anos após a morte, os delegados emitiram a declaração seguinte que damos, traduzida do latim: "No ataúde está o corpo da supracitada serva do Senhor, vestida com o hábito monástico da Ordem de Santo Agostinho, o qual parece tão intacto como se a dita serva de Deus tivesse morrido recentemente. Vemos perfeitamente a carne branca, em parte alguma corrompida, a fronte, os olhos com as pálpebras, o nariz, a boca, o queixo e toda a face tão bem disposta, inteira como a de uma pessoa morta no mesmo dia. Veem-se igualmente brancas e intactas as mãos da dita serva de Deus e se pode perfeitamente contar os dedos com as unhas, semelhantes aos de pessoas que acabaram de morrer. Assim também os pés".
Ora, um cadáver que se encontra durante séculos ao abrigo da corrupção, embora não se tenham retirado as vísceras, nem tenham sido embalsamado, é coisa que a ciência, mau grado todos os progressos de que se pode orgulhar, não pode até hoje explicar.
Além disso, não poderá explicar como a chaga da fronte se pode cicatrizar instantaneamente, logo após a morte, quando naturalmente deveria acontecer o contrário.
E ainda, o suave perfume que, de tempos em tempos, se exala desses benditos despojos, inanimados, como o puderam verificar em diversas ocasiões, através dos séculos, pessoas sérias e dignas da maior consideração, e que afirmaram que o fato não provinha de mistificação alguma.
Mas o fato mais maravilhoso que acontece com o corpo de Santa Rita é que, de vez em quando, ele se move de diversas maneiras. Os atos autênticos da beatificação e da canonização o atestam, segundo testemunhos repetidos e dignos de fé, desde 1629 até 1899, sem contar os mais recentes, coligidos para sua canonização, feita por Leão XIII em 1900.
Testemunhas dignas de fé juram haver visto a Santa abrir os olhos, voltar a cabeça para o povo, levantar-se até a tampa do esquife, movendo-se com todo o corpo, movendo também as mãos e os pés. Esses movimentos foram especialmente observados durante as visitas feitas pelos bispos e superiores da Ordem; algumas vezes durante a elevação da missa ou durante as calamidades públicas.
É de notar, entre outros fatos, que a Santa abriu os olhos em 16 de julho de 1628 para apaziguar um tumulto enquanto Cássia e Roma celebravam a festa de sua beatificação. O processo regular deste fato se conserva no arquivo do arcebispado de Spoleto.
Os fatos acima expostos são um contínuo milagre pelo qual Deus se compraz em glorificar sua fiel serva.
Certamente a religião católica não necessita desses fatos inexplicáveis pela ciência para demonstrar sua origem divina; são testemunhos humanos; mas para negá-los seria preciso aniquilar a história, que narra os fatos humanamente testemunhados e não os discute.  Mas como para narrá-los é necessário ter provas seguras - e no nosso caso elas existem - assim, para negar, não basta dizer: são coisas impossíveis! Porque justamente, se alguma coisa existe, é porque é possível; senão aos homens, pelo menos a Deus. Queremos provas físicas, certas, e não sofismas sutis.
Mas continuemos nossa narrativa, porque aquele que teima em só acreditar no que lhe agrada, termina por duvidar de sua própria existência e a razão humana chega a tal ponto que rejeita orgulhosamente a luz da revelação divina.
As graças concedidas por Deus pela intercessão de Santa Rita são inumeráveis e podemos dizer contínuas. Referiremos uma só, concedida em 1450 e contada pelos Bolandistas.
Morrera em Cássia um menino de onze anos: chamava-se Brás e era filho de Antônio Massei. A mãe o tomou nos braços, levou-o para o altar da bem-aventurada Rita e o menino ressuscitou.
Assim glorificava Deus a sua fiel serva.
A igreja, após minuciosas pesquisas, e atento exame dos fatos milagrosos, aprovou solenemente, segundo a regra prescrita pelo Papa Urbano VIII, o culto que já se dava à Santa e concedeu a missa própria em sua honra.
Sua vida foi contada, várias vezes, por autores italianos, espanhóis e belgas e sua devoção se espalhou em muito pouco tempo no antigo e no novo mundo. (...)

***
O caminho que conduz à glória eterna e à felicidade é duro porque exige o sacrifício de si mesmo por amor dAquele que se deu inteiramente a nós; mas o exemplo dos santos demonstra que isso é possível se à graça de Deus, que nunca falta àquele que sinceramente a procura e que devotamente a implora, reunirmos a nossa boa vontade.
As almas que chegaram a compreender que a essência da perfeição cristã é a caridade, e que a caridade consiste em seguir com a maior perfeição possível a lei divina imitando os exemplos de Nosso Senhor Jesus Cristo, procuraram e amaram a renúncia e o sacrifício de si mesmas.
Aquele que quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. O puro e perfeito amor não pensa na recompensa prometida nem ao castigo que o ameaça, serve a Deus porque Ele merece todo o nosso amor. Todavia acreditamos, e é humano pensa-lo, que até os santos, ou pelo menos a maior parte deles, não perderam sua personalidade e a aspiração à felicidade perfeita que consiste na visão beatífica, e experimentam também um desejo implícito de ver, no fim, o triunfo da justiça.

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Devemos considerar a vida presente como uma viagem para a eternidade; as desgraças e dores, como um meio de expiação por nossos pecados, e de purificação de nossa alma que na dor se aperfeiçoa como se purifica das ofensas que Deus, nosso bom Pai, recebe de tantos filhos ingratos, e como o principal meio de nos assemelharmos a Jesus Crucificado. Deus receberá como eleitos no céu aqueles que achar semelhantes à imagem de seu Divino Filho.
Se assim não considerarmos, com os olhos da fé, os acontecimentos deste mundo parecer-nos-ão um nó inextrincável; os caminhos misteriosos da Providência não nos parecerão senão paradoxos e contradições e corremos o perigo de perder não somente a paz no coração, mas também a fé, o maior e mais necessário dos tesouros que Deus nos deu e que é a base de nossa santificação.
 
 
 
 
Oração à Santa Rita
 
Tríduo ou Novena
 
Ó poderosa Santa Rita, advogada em toda causa urgente, escutai benigna as súplicas de um coração angustiado, e dignai-vos alcançar-me a graça de que tanto necessito.
 
Pai Nosso, Ave Maria, Glória.
 
Ó poderosa Santa Rita, advogada nos casos desesperados, confiante no poder de vossa intercessão, a vós recorro. Dignai-vos abençoar minha firme esperança de obter por vossa intercessão a graça de que tanto necessito.
 
Pai Nosso, Ave Maria, Glória.
 
Ó poderosa Santa Rita, socorro na última hora, a vós recorro cheio de fé e amor, pois sois o meu último refúgio nessa ocasião. Intercedei por mim, e vos hei de bendizer por toda a eternidade.
 
Pai Nosso, Ave Maria, Glória.
 
***
 
Oração muito eficaz nos casos difíceis e desesperados
 
Ó poderosa e gloriosa Santa Rita, eis a vossos pés uma alma desamparada que, necessitando de auxílio, a vós recorre com a doce esperança de ser atendida.
Por causa de minha indignidade e de minhas infidelidades passadas, não ouso esperar que minhas preces cheguem a mover o coração de Deus, e é por isso que sinto necessidade de uma medianeira todo-poderosa, e foi a vós que me dirigi, Santa Rita, com o incomparável título de Santa dos casos impossíveis e desesperados.
Ó cara Santa, interessai-vos pela minha causa, intercedei junto a Deus para que me conceda a graça de que tanto necessito e que ardentemente desejo... (diz-se qual a graça que se deseja).
Não permitais que tenha de me afastar de vossos pés sem ser atendido. Se houver em mim algum obstáculo que me impeça de obter a graça que imploro, auxiliai-me para que o afaste; envolvei minha prece em vossos preciosos méritos e apresentai-a a vosso celeste Esposo em união com a vossa. Assim enriquecida por vós, esposa fidelíssima entre as mais fiéis, por vós que sentistes as dores de sua Paixão, como poderá Ele repeli-la ou deixar de atendê-la?
Ó cara Santa Rita, que jamais diminua a confiança e esperança que em vós coloquei; fazei com que não seja vã a minha súplica; obtende-me de Deus o que peço; a todos farei então conhecer a bondade do vosso coração e a onipotência da vossa intercessão.
E vós, Coração adorável de Jesus, que sempre Vos mostraste tão sensível às menores misérias da humanidade, deixai-Vos enternecer pelas minhas necessidades e, sem olhar minha fraqueza e indignidade, concedei-me a graça que tanto desejo e que por mim e comigo Vos pode vossa fiel esposa Santa Rita.
Oh! sim, pela fidelidade com que Santa Rita sempre correspondeu à graça divina, por todos esses dons com os quais quisestes cumular sua alma por tudo quanto sofreu em sua vida de esposa, de mãe, e como participante de vossa dolorosa Paixão, concedei-me esta graça que me é tão necessária.
E Vós, o Virgem Maria, nossa boa Mãe do Céu, depositária dos tesouros divinos e dispensadora de todas as graças, sustentai com vossa poderosa intercessão a de vossa grande devota Santa Rita, para me alcançar de Deus a graça desejada. Assim seja.
 
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Oração de agradecimento
 
 
É com o coração profundamente comovido e perturbado que hoje venho a vós, ó gloriosa e poderosa Santa Rita.
Na hora do perigo, no momento em que estava ameaçada a minha felicidade e a dos que me são caros, a vós roguei, com a alma aflita e cheia de apreensão... A vós supliquei, a vós que todos chamam de Santa dos impossíveis, Advogada nos casos desesperados, Refúgio na última hora... Não foi iludida a minha confiança em vós.
Agora volto a vós, não mais com as lágrimas do sofrimento nos olhos, mas com a alegria e serenidade no coração, para vos ofertar meu infinito reconhecimento.
Esta alegria, esta serenidade, a vós as devo, cara Santa, a vós que intercedestes em meu favor junto a Deus, apesar da minha indignidade, e me alcançastes a graça desejada.
Quisera melhor exprimir-vos o profundo sentimento de gratidão que enche meu coração, ó Santa taumaturga, ó consoladora dos aflitos, mas a própria emoção causada pela felicidade de ter obtido esta graça paralisa minhas expressões e somente sei murmurar: graças vou dou... muitas graças... mil graças, Santa Rita.
Para vos demonstrar então de maneira mais eficaz meu infinito reconhecimento, prometo-vos propagar com zelo cada vez maior o vosso culto, fazer-vos amada por aqueles que não vos conhecem ainda, e que não têm, como eu, a felicidade de ter experimentado a vossa infinita benevolência. Prometo-vos auxiliar segundo minhas possibilidades, a manutenção do vosso culto e assistir, sempre que possível, às cerimônias celebradas em vossa honra.
Para tornar-me sempre mais digno do auxílio do Céu e da vossa santa proteção, tomo, a partir de hoje, a resolução de cumprir com maior zelo e fervor meus deveres cristãos.
Ó cara Santa Rita, a vós confio o cuidado de apresentar a Deus essas sinceras resoluções, e de lhe agradecer por mim a graça generosamente recebida.
Dignai-vos enfim não me desamparar jamais e continuai a dispensar-me vossa santa  e ativa proteção a fim de que, após tê-la gozado neste mundo, possa um dia encontrar-vos no céu e dizer-vos melhor todo o meu reconhecimento. Assim seja!
 
Retirado do livro  Santa Rita de Cássia - L. de Marchi